quinta-feira, dezembro 11, 2008

100 ANOS DE COERÊNCIA

Fazer cem anos é de certo um acontecimento na vida de uma pessoa. Mas não é certamente esse o motivo maior da minha admiração por Manoel de Oliveira (muito embora agora pareça ser para muita gente). O que mais me fascina (e fascinou ao longo das últimas décadas em que eu e ele coincidimos) é a forma como esses cem anos foram e são vividos. Entregues a paixões irresistíveis, entre as quais figura, em grande plano, o cinema. Mas entregues de uma forma devotada, intransigente, absoluta. Oliveira foi sempre moderno, provocador, coerente consigo próprio, intransigente com o que outros pensavam ou diziam. Tem uma ideia do que é o cinema, o cinema que quer fazer, e dela não abdica. Nunca mudou de rumo. Foi sempre quem hoje é. Uma vida assim vivida reconsidera-nos com a Humanidade. Com a arte. Com o Cinema. Pode gostar-se muito, ou não se gostar nada. Pode amar-se certos filmes, e passar-se um pouco ao lado de outros (como tem sido o meu caso). Mas nunca se pode passar ao lado do exemplo deste Homem, deste amor absoluto.
Depoimento de Lauro António / Jornal Digital da Rádio Renascença 11. 12. 2008