terça-feira, dezembro 09, 2008

UMA VISÃO DA "MANHÃ SUBMERSA"


Num blogue que visito, mas que nunca tinha párado no dia 25-05-2008, descobri agora uma referência ao meu filme "Manhã Submersa". Aqui a recordo, com agrado, obviamente. Um obrigado ao Tonino, sabendo eu que estas coisas nao se agradecem.

o meu jugo é suave
Os insondáveis desígnios de Deus. Esta é a oração, frequente, melhor, a principal justificação para a forte conduta repressiva, sempre em nome de Deus, da Igreja. Ao rever passados tantos anos o filme "Manhã Submersa" (Lauro António, 1980 – adaptação do romance homónimo de Vergílio Ferreira) surpreendi-me pelo que foi a minha própria educação católica. Embora não num seminário, como no filme, e a tão relativa pouca distância, a educação católica e os princípios morais que me deram a conhecer, tinha eu idade aproximada da personagem central do filme, são idênticas às que os Senhores Eclesiásticos nos transmitiam na Igreja, nos campos de férias, na catequese, nos dias em que passei por aquela altura na paróquia. Lembro-me bem do padre, do Sr. Padre, e dos fortes princípios morais que procurava transmitir, incutir nos nossos pensamentos, nos nossos actos e nas nossas omissões (confesso que sem sucesso - nunca acreditei nele). Lembro-me bem de um episódio, após mais um campo de férias, em que o Sr. Padre nos juntou para uma purgação conjunta do que tinha acontecido naquele último campo. Um a um todos foram afirmando o que achavam, chegada a minha vez referi que o campo serviu só para uma coisa: para dar uns beijos, estavam todos ali para isso, a redenção dos nossos pecados passava por isso, por encontrar a rapariga certa para o beijo certo, para os bailes de garagem seguintes e para pouco mais. Claro, o Sr. Padre não gostou, paciência, ele próprio daria uns beijos com uma senhora que lhe tombava aos pés e que logo lhe levantava as saias (nas famigeradas caminhadas e retiros espirituais). O filme "Manhã Submersa" é um filme triste, muito triste. E belo, muito belo. É uma obra poderosa, que remonta à nossa infância, à infância dos homens da minha geração, do nosso país, a uma época de repressão, de fortes desigualdades sociais, de pobreza, de austeridade, principalmente para quem teve, como eu, uma forte vivência na província. Lembro-me bem de quando chegava era recebido como um estranho, tudo porque era do Porto, de uma “grande metrópole”. Lembro-me bem das minhas tias, todas solteiras, que me tratavam com tal honra que era chamado pelos outros como o reizinho, o menino rei, o menino (bom, eu era, na altura, filho único, neto único, sobrinho único; confesso, fui mimado, por isso o sou ainda). E a Igreja sempre presente. Sempre a repressão por tudo que era a descoberta de uma vida feliz. O alcande para a felicidade apregoada pela Igreja passava pela obediência, pela asfixia dos sentimentos, pelo desapego que nos incutiam a ter os nossos próprios desejos, pela renúncia a uma existência alegre, tudo em nome de Deus, para o caminho de uma vida sem pecado. Haja paciência, nunca a tive, cedo desisti dessa vida dedicada a Deus. Não de Deus, esse continua presente. Como dizia Jesus: “O meu jugo é suave”. E é desse jugo que eu gosto, em que eu acredito.
Publicada por toninho em 10:01:00

4 comentários:

Isabel**** disse...

Gostei muito da adaptação do filme, acho uma história fantastica, com um final brilhante, obrigada por partilhar com o povo famalicense este filme no centro de estudos camilianos :)
Continuação de bons filmes, de boas aventuras e inovações...


Isabel Dias

Lauro António disse...

Obrigado, Isabelinha. Daqui a meses (poucoas) voltaremos a ver-nos. Bj

toninho disse...

O filme é belíssimo, não há palavras para o descrever. Para mim, um dos melhores filmes portugueses de sempre. A Eunice Muñoz está magnifica. Abraço
Toninho

casa de passe disse...

é um prazer
rever,
rever o filme através do seu blog!

Loulou