À DERIVA, DE CIMA A BAIXO
Nestes últimos tempos, tenho alguma dificuldade em acompanhar a vida política e social portuguesa (se estivesse noutro país, a dificuldade era a mesma, se não maior). A vida democrática portuguesa tem-se aviltado ultimamente de forma muito perigosa. As ameaças surgem de todo o lado e em grande parte causadas por uma partidarite asfixiante. Não há nem razão nem consciência, e sobretudo parece ter deixado de haver ética pública. Dos mais ignorantes aos aparentemente mais sábios, quase todos parecem ter perdido as estribeiras e a vergonha. A comunicação social, na sua maioria, é vergonhosa, armada não em informação e opinião, mas em justiceiros na praça pública (deviam ver “A Calúnia”, de Sydney Pollack, para perceberem alguma coisa do trabalho do jornalista). A perseguição pessoal a certas pessoas, que só deviam ser condenadas publicamente depois de julgadas e sentenciadas, é obscena. As liberdades individuais que qualquer cidadão devia defender, em nome da causa pública e da sua própria defesa pessoal, são diariamente enxovalhadas na comunicação social, na justiça, no parlamento, onde quer que seja. O governo e oposição (curioso poder falar-se de “uma” oposição que junta direita, esquerda e extrema esquerda na mesma bagunça) dizem-se e desdizem-se conforme sopram os ventos. Eu que me considero de esquerda tenho de saudar os exemplos de Mota Amaral, pela integridade, e de Pedro Passos Coelho por (quase) ter terminado com o clima de ódio histérico de caça as bruxas que se vivia até há bem pouco tempo no PSD, e transformá-lo em oposição política consciente. Mas francamente que dizer de um homem como Pacheco Pereira, cuja prática política o levou a um pântano lamentável?
Os bancos e os operadores financeiros que criaram a maior crise económica e política dos últimos oitenta anos, depois de um susto passageiro, aí estão, regressados “a mandar vir” e a impor regras e alguns mesmo a falar em moral (para os outros). Eles que deviam nalguns casos estar a cumprir pesadas penas decretam afinal penas, estas económicas, para quem apenas vive do seu trabalho e do seu salário, e nunca enriqueceu com dinheiro vadio de agiotagem encoberta e de economias à maneira da “injustiçada” Dona Branca (sim, “injustiçada”, fez o mesmo e foi condenada!).
Curiosidade escandalosa: numa sociedade em que toda a gente diz o que quer, em que se insulta a qualquer hora em qualquer local, o PR, o PM e demais políticos, andam alguns em algazarra a proclamar que não há liberdade. Enfim. Do PC ao CDS todos sabem o que é não haver liberdade. Sabem até muito bem como cercear liberdades. Mas esta não lhes convém. Benza-os Deus, se é que tem liberdade para isso.
Agora aparece uma jovem, dita professora de música (nos tempos livres dos alunos do básico), a despir-se para ganhar 700 euros e cumprir o seu sonho de ser vedeta nuns minutos de glória. Que ela o tenha feito, em fotos de um erotismo saloio, admira um pouco. Que se mostre surpreendida pelas suaves consequências do seu acto, espanta mais. Que uma vasta quantidade de insensatos venha defender o acto em nome da liberdade individual, não passa pela cabeça de ninguém. Que uma grande maioria de blogues se dividam entre textos e comentários de saudosistas de uma qualquer ditadura que atacam em nome de um puritanismo pusilânime (e metem no mesmo saco gays e fotos de “Playboys”) e desregrados para quem a liberdade individual é sagrada, mesmo que ponha em causa outras liberdades, eis o que muito me espanta.
Estamos afinal numa aldeia global em que tudo é permitido, sem que quase ninguém pense um pouco antes de actuar? Ou então com muita gente a pensar muito bem como há-de agir tendo em vista apenas os seus proveitos.
Gostava de estar enganado, mas este clima não prenuncia nada de bom. Mais ano, menos ano, com CE ou sem CE, hão-de aparecer por aí uns “salvadores da Pátria”. Para quem nunca conheceu o que isso era, vai ser uma surpresa. Mas vai custar-lhes cara a descoberta.
Os bancos e os operadores financeiros que criaram a maior crise económica e política dos últimos oitenta anos, depois de um susto passageiro, aí estão, regressados “a mandar vir” e a impor regras e alguns mesmo a falar em moral (para os outros). Eles que deviam nalguns casos estar a cumprir pesadas penas decretam afinal penas, estas económicas, para quem apenas vive do seu trabalho e do seu salário, e nunca enriqueceu com dinheiro vadio de agiotagem encoberta e de economias à maneira da “injustiçada” Dona Branca (sim, “injustiçada”, fez o mesmo e foi condenada!).
Curiosidade escandalosa: numa sociedade em que toda a gente diz o que quer, em que se insulta a qualquer hora em qualquer local, o PR, o PM e demais políticos, andam alguns em algazarra a proclamar que não há liberdade. Enfim. Do PC ao CDS todos sabem o que é não haver liberdade. Sabem até muito bem como cercear liberdades. Mas esta não lhes convém. Benza-os Deus, se é que tem liberdade para isso.
Agora aparece uma jovem, dita professora de música (nos tempos livres dos alunos do básico), a despir-se para ganhar 700 euros e cumprir o seu sonho de ser vedeta nuns minutos de glória. Que ela o tenha feito, em fotos de um erotismo saloio, admira um pouco. Que se mostre surpreendida pelas suaves consequências do seu acto, espanta mais. Que uma vasta quantidade de insensatos venha defender o acto em nome da liberdade individual, não passa pela cabeça de ninguém. Que uma grande maioria de blogues se dividam entre textos e comentários de saudosistas de uma qualquer ditadura que atacam em nome de um puritanismo pusilânime (e metem no mesmo saco gays e fotos de “Playboys”) e desregrados para quem a liberdade individual é sagrada, mesmo que ponha em causa outras liberdades, eis o que muito me espanta.
Estamos afinal numa aldeia global em que tudo é permitido, sem que quase ninguém pense um pouco antes de actuar? Ou então com muita gente a pensar muito bem como há-de agir tendo em vista apenas os seus proveitos.
Gostava de estar enganado, mas este clima não prenuncia nada de bom. Mais ano, menos ano, com CE ou sem CE, hão-de aparecer por aí uns “salvadores da Pátria”. Para quem nunca conheceu o que isso era, vai ser uma surpresa. Mas vai custar-lhes cara a descoberta.
Na foto, retirada com a devida vénia, da revista "Playboy" (que leio, sem falsos pudores), "toda a nudez será castigada" ou "sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia".
4 comentários:
A sua "crítica ao filme" do estado moral em que o país se encontra está brilhante! Estamos mesmo a precisar que alguém reescreva este "guião" que oscila entre a tragédia e a comédia... Péssimo cenário, péssimos actores...
P.S. Obrigada pelo comentário que fez às fotografias do meu blogue há uns tempos atrás.
A despropósito do tema deste poste,
mas com a melhor das intenções, recomendo o filme "El secreto de sus ojos", antes que saia de cartaz. O cinema no seu melhor, uma história bem contada, com uma banda sonora excelente.
Pensava que era a única que via a situação da professora de música desta maneira...Acho que anda tudo muito perdido de facto...
Muito lúcida esta sua visão da actualidade portuguesa. No meio de tanta parvoíce que se diz no mundo dos blogs é bom ler algo que sentimos que é verdade e não conversa balofa ou de quem apenas gosta de dizer mal por dizer. Palma - Louletania
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