sábado, junho 17, 2006

BOM CINEMA

E BOM AMBIENTE


Para o belissimo album de "recordações" do FICA este ano editado, e que faz o balanço das oito edições anteriores e projecta o futuro do certame, escrevi um texto que resume, em palavras que infelizmente pouco dizem do muito que se sente, um texto memorialista que a seguir transcrevo.


Desde o ano I do FICA que eu e o CineEco, de Seia, mantemos com este festival uma ligação de colaboração intensa e, mais do que isso, uma relação de amizade profunda. “Bom Cinema e Bom Ambiente” costuma ser o slogan do CineEco, e ele também se pode e deve aplicar a Goiás, onde o bom ambiente não se fica pelo que é saudavelmente exigível ao homem na sua relação com o meio geográfico e animal, mas vai ao mais profundo da alma humana: um bom ambiente entre humanos, um respeito profundo pela diferença e uma amizade sólida que a afinidade de interesses e de carácter cimenta.O FICA é o maior festival de cinema ambiental do Brasil e da América Latina, já vai na sua oitava edição, afirma-se em importância e prestígio de ano para ano, sempre radicado na belíssima e histórica Vila Boa de Goiás, que já foi capital de distrito de Goiás, e “tombou” Património da Humanidade, via UNESCO. Várias vezes estivemos presentes, quer como membro do Júri Internacional, quer como parceiro já de um convénio oficial assinado pelos dois festivais, e este ano conto estar aí para assistir à assinatura final do protocolo que une Seia, em Portugal, a Goiás, no Brasil, como cidades gémeas. Assumindo-me desde sempre como um dos pais desta ideia, honra-me saber que as cidades se podem unir por fenómenos culturais, como a existência de festivais de cinema dedicados à defesa do ambiente, e por aspectos humanos que relevam da amizade, da fraternidade, das causas comuns.Um Festival de Cinema sobre Ambiente é uma causa imperiosa nos dias que correm. O FICA tem honrado a causa, julgo que Seia também. Outros haverá que irão sublinhar o interesse indesmentível do cinema, da defesa do bom ambiente, estou certo. Permitam-me falar de coisas que me são mais íntimas, mas reputo cada vez mais essenciais.Numa terra que dista tantos milhares de quilómetros da minha, sempre me senti em casa, quer pela afabilidade do povo, quer pelo cultivo de tantas amizades que de ano para ano crescem e se alimentam do que há de mais puro no ser humano, esse gosto de estar junto quando juntos nos queremos bem. Há muitos vestígios, bons e maus, de uma história com contou com a marca do gene português. As casas relembram o Alentejo nuns casos, o Minho noutros, a Madeira e os Açores noutros ainda, mas a presença portuguesa está viva, reconhecível, perene. Nos palácios senhoriais e nas igrejas, nas ruas e nas casas rústicas. Mesmo na mescla racial, onde fomos únicos (intrépidos na aculturação sexual, indiferentes a diferenças rácicas ou culturais), e sobretudo na língua, nesse português bailado em lábios tropicais, recheado de neologismos, de vocábulos estrangeirados, mas, ainda e sempre, bem português. Mas há, para lá das afinidades que a História recorda, algo de muito genuinamente único, que o brasileiro construiu com amor e milenar sabedoria de proveniências tão diversas. É esse dom de bem receber, de ter sempre a porta e a janela da casa abertas, de saber oferecer um sorriso, de estender a mão, de falar palavras de poetas que se amam, de cantar músicas que não se esquecem, de recordar filmes que ficaram nos olhos, de sambar como Pelé ou Garrincha… é esse dom de reunir durante um festival amigos já tão íntimos como Washington Novais, Nasr Fayad Chaul, Lisandro Nogueira, Paulo Neto, Ismail Xavier, Mário Borgneti, Jaime Sautchuk, Eduardo Benfica, Armando Bulcão, Lucélia Santos, Lisa França, Tânia Montoro, Lucivânia Fernandes (ah, estas mulheres brasileiras!), e tantos e tantas outros e outras que enumerar seria impossível. Não esquecendo, obviamente, o Governador Marconi Perillo, sem o qual a aventura deste belo festival nunca teria sido possível. Nem a realidade da geminação Seia-Goiás. / Fevereiro, 2006

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