Belíssimo texto, foi a primeira conclusão a extrair. Esta versão encurtou o original, colocou-o na hora e meia bem medida, mas a verdade é que não se notam os cortes e a globalidade do projecto mantém-se.
Depois devo dizer que a encenação (pensada para uma longa itinerância e para diversos espaços), funciona muito bem. De grande simplicidade, vive de um bom guarda-roupa, e de uns modelos de casas minúsculos que ocupam o rodapé do palco. Situam a acção, apenas. A iluminação cria bons momentos fantasmagóricos. E não é preciso mais. O resto cumpre-o a imaginação dos espectadores.
Bons actores, a começar pela dupla Maria do Céu Guerra e João d’Ávila, passando depois por todo o restante elenco: André Nunes, Luís Thomar, Patrícia Adão Marques, Pedro Borges, Ruben Garcia, Sérgio Moras, Sérgio Moura Afonso e Susana Costa. Há modelações, mas globalmente a unidade impera. Maria do Céu Guerra destaca-se num longo monólogo, revelando a fibra e o talento de quem se entregou desde sempre a esta paixão. Vi o espectáculo numa tarde de domingo (último dia de representações, mas atenção volta em Outubro!), com um calor sufocante, a casa cheia, o ar irrespirável. Se era mau para os espectadores, como não seria para os actores, debaixo de projectores e bem agasalhados nas suas pesadas vestimentas da época. É necessário ar condicionado neste teatro.
Quanto à peça ela fala de um general sem medo, o Gomes Freire de Andrade, que os miguelistas lançaram na fogueira da inquisição, como inimigo da Pátria, por que ee se afirmava como a esperança de um povo mergulhado na ditadura. Quando foi escrita, no início dos anos 60, andava ainda por aí o fantasma de um outro “general sem medo”, Humberto Delgado. Óbvio que a peça lança pistas para se criarem semelhanças, o resultado foi ser tão perseguida que nunca foi encenada antes de 25 de Abril de 1974. Mas a sua actualidade mantém-se, enquanto existirem desigualdades sociais, ditaduras, jogos de poder, intrigas palacianas. Enquanto a deixa de Manuel for verdadeira: “Se há guerra, se temos o inimigo à porta, “Aqui d’el rei” que a terra é de todos e todos a temos que a defender, mas, batido o inimigo, chegada a época das colheitas, quando se trata de comer os frutos da tal terra que é de todos, então não! Então a terra já é só deles!”
Quando matam o general na fogueira, cujas labaredas se erguem na noite, Matilde, a mulher de Gomes freire de Andrade, grita: “Julguei que isto era o fim e afinal é o princípio. Aquela fogueira, António, há-de incendiar esta terra! Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina. Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim… Felizmente – felizmente há luar.“
Um belíssimo trabalho de A Barraca.
1 comentário:
olá!
Belíssimo comentário. Fico muito feliz que tenha gostado assim tanto da peça. Muito obrigada e até sempre.
Beijos
Patrícia Adão Marques
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