“GENESIS”
Há dez anos, Claude Nuridsany e Marie Pérennou realizaram “Microcosmos: Le Peuple de l'Herbe” (1996), um filme sobre a vida dos insectos, vista à luz de uma nova perspectiva planetária, ou se preferirem, à luz de novas lentes, macros, que permitiam aumentar o que se filmava até dimensões nunca vistas, e que se tornou um clássico e uma obra de culto. Hoje os mesmos cineastas regressam com “Genesis” (realizado em 2004, mas só agora chegado a Portugal) que foi rodado, durante dois anos, em Aveyron e na Bretanha, na França, nas Ilhas Galápagos, na Islândia e e Madagáscar, e que nos fala da origem da vida, tendo por base as palavras de um velho músico africano, contador de histórias, que vai recordando o nascimento do universo, as estrelas e os planetas, o fogo e a água, o aparecimento de vida, o advento do tempo e do “lugar”, o nascimento, a luta pela sobrevivência, o acasalamento, e a morte e a degradação, a transformação da matéria que prolonga a vida e cria este ciclo de mutação continua que assegura que uma anémona que vai morrer na praia seja absorvida pela areia e as ondas do mar, dando assim alimento a outros seres.
Esta obra é mais uma lição de história natural do que um documentário. Aliás, já só muito dificilmente se poderia chamar documentário a “Microcosmos”, todo ele “encenado”, tal como muito mais encenado é “Génesis”, muito embora se esteja a falar de actores animais, neste caso, um humano e milhares de “não humanos”.
A introdução do “humano” é mesmo a grande pecha desta película, que consegue excelentes momentos, mas peca por um tom retórico, escolar, de um simbolismo primário, sempre que aparece o actor do Mali Sotigui Kouyaté (excelente actor diga-se de passagem, colaborador fetiche de Peter Brook, para lá de outros, como Bertolucci), mas que, por imposição dos realizadores, diz um texto pesadão e sem graça, impondo uma clivagem na fluidez das imagens e das sequências. Um mero comentário off seria preferível, e recusar toda a ganga metafórica e simbólica então seria ouro sobre azul.
Mas, mesmo tendo em conta esse desequilíbrio formal, o filme tem muitos atractivos que o tornam ainda interessante ao nível das imagens inéditas que reuniu, com uma qualidade plástica e técnica invulgares. Imagens espantosas de fenómenos naturais, de peixes e aves migratórias (como as que fecham o filme), de repteis e batráquios (como a sequência da serpente que engole um mega ovo inteiro, e que, passados instantes, expele a casca). Tudo isto, entre a teoria do Big Bag, a Evolução das Espécies, de Darwin, e algum panteísmo sincrético. Boa a banda sonora de Bruno Coulais.
“Estar vivo é escrever uma história entre um princípio de que não nos recordamos e um fim de que nada se conhece”, diz-se no início do filme. Um mistério que se mantém.
Eis um título que poderá ter uma vasta utilização pedagógica nas escolas (veja-se, para o efeito, o bem documentado dossier organizado e posto a disposição dos professores franceses, em http://www.genesis-lefilm.com/pedago/livret.pdf).
GENESIS, de Claude Nuridsany, Marie Pérennou (França, Itália, 2004); com Sotigui Kouyaté (narrador); 81 min; M/ 12 anos.
Esta obra é mais uma lição de história natural do que um documentário. Aliás, já só muito dificilmente se poderia chamar documentário a “Microcosmos”, todo ele “encenado”, tal como muito mais encenado é “Génesis”, muito embora se esteja a falar de actores animais, neste caso, um humano e milhares de “não humanos”.
A introdução do “humano” é mesmo a grande pecha desta película, que consegue excelentes momentos, mas peca por um tom retórico, escolar, de um simbolismo primário, sempre que aparece o actor do Mali Sotigui Kouyaté (excelente actor diga-se de passagem, colaborador fetiche de Peter Brook, para lá de outros, como Bertolucci), mas que, por imposição dos realizadores, diz um texto pesadão e sem graça, impondo uma clivagem na fluidez das imagens e das sequências. Um mero comentário off seria preferível, e recusar toda a ganga metafórica e simbólica então seria ouro sobre azul.
Mas, mesmo tendo em conta esse desequilíbrio formal, o filme tem muitos atractivos que o tornam ainda interessante ao nível das imagens inéditas que reuniu, com uma qualidade plástica e técnica invulgares. Imagens espantosas de fenómenos naturais, de peixes e aves migratórias (como as que fecham o filme), de repteis e batráquios (como a sequência da serpente que engole um mega ovo inteiro, e que, passados instantes, expele a casca). Tudo isto, entre a teoria do Big Bag, a Evolução das Espécies, de Darwin, e algum panteísmo sincrético. Boa a banda sonora de Bruno Coulais.
“Estar vivo é escrever uma história entre um princípio de que não nos recordamos e um fim de que nada se conhece”, diz-se no início do filme. Um mistério que se mantém.
Eis um título que poderá ter uma vasta utilização pedagógica nas escolas (veja-se, para o efeito, o bem documentado dossier organizado e posto a disposição dos professores franceses, em http://www.genesis-lefilm.com/pedago/livret.pdf).
GENESIS, de Claude Nuridsany, Marie Pérennou (França, Itália, 2004); com Sotigui Kouyaté (narrador); 81 min; M/ 12 anos.
4 comentários:
Só para avisar que Brittany é o nome, em inglês da região que, em português, se chama Bretanha. :)
Confesso que nunca fui grande fã quer de documentários quer de obras híbridas, como este Genesis. E se fui de pé atrás ver esta obra, confesso que saí da sala verdadeiramente extasiado. E com pena de não durar mais alguns minutos.
Continua Brittany? Por que?...
Obrigado. Já rectificado. LA
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