sexta-feira, setembro 22, 2006

DO EDITOR:

MUDANÇA DE RUMO

Não foi por acaso que entrei no mundo dos blogs. Dir-se-ia que fui atraído pelo silvo da serpente. Fui acompanhado nos meus primeiros dias. Gostei de andar por aqui a voar de blog em blog, espreitando reacções, descobrindo personalidades, fantasmas, fantasias. “Conheci” pessoas muito curiosas. (atenção: conhecer, não conheci ninguém: intui conhecer). Gosto de escrever para os outros lerem. Gosto de escrever e ver publicado. Rapidamente. Ser eu a paginar. É bom. Não ter censores, nem editores. Escrever uma linha ou dez páginas.
Em 3 meses de existência deste blog consegui, sem fazer nada para isso deliberadamente, fazê-lo oscilar agora entre as 100 e as 200 visitas diárias. Acho que não é mau. Mas não me preocupo com isso. Se tiver uma visita, é bom, desde que o que escrevo a possa ajudar de alguma forma. A ela e a mim. Mas há quem me leia.
Sem ter conhecido ninguém fisicamente, “conheci” muitos pessoas que me enterneceram, me apaixonaram, me “inventaram” uma blogosfera que se calhar não existe. Os primeiros dias pareciam a descida ao paraíso. Que harmonia! Mas lentamente me apercebi que por detrás da harmonia havia a bajulice, a troca de beijinhos interesseiros, e depois a hipocrisia, as mensagens traiçoeiras a dizerem por trás o que se desdizia pela frente. Aqui também se acoberta muita mediocridade que não teria outro poiso, muita má formação a armar aos cucos, muita canalhice encapotada, muita mentira, muito “engate” que quer passar por não o ser (bela denúncia da china blue, que aqui reproduzi, e que parece encaixar que nem uma luva em certos casos visíveis e risíveis).
Em razão de algum desencanto, não vou parar de escrever. Mas vou acabar toda a referência a outros blogs, a não ser num contexto de troca de impressões. Dou por terminada a secção “um blog (por dia)” e vou reduzir ao estritamente necessário a referência a blogs amigos ou inimigos. Afinal o que me interessa é dar opiniões, escrever sobre o que gosto. Era bom poder-se gostar de pessoas e do que fazem e dizê-lo. Mas não tenho pachorra para hipócritas e convencidos, mal criados e outros que tais. Aqueles/as a que quero bem e me querem bem, ou apenas aqueles/as para que escrevo e me lêem, esses/as por cá continuarão. Esta vida não é para ingénuos. Às vezes gosto de acreditar que é para esses, que são puros. É verdade que os há, e muitos. Mas também existem os “outros”, e que são muitos também.
A partir de hoje, livros, filmes, teatro, politica, música, coisas e loisas, mas fico-me por ai. Cada blog no seu galho, e muitas felicidades para os muito bons que por aí há.
ADENDA
(do dia seguinte):

Alguns comentários e emails merecem uma justificação. Antes de mais, confirmei que há muitos e bons amigos por aqui. A maioria só os conheço ou de nome, ou de nick. Mas sinto-lhes a amizade. Sente-se mesmo. Como se sente o silêncio de outros. Que estão por aqui.
Mas necessito de uma explicação. Não aconteceu nada de grave comigo. Ninguém sequer me ofendeu, ou coisa parecida. Pessoalmente, a minha única desavença foi com uma senhora que tinha uma foto sua publicada no seu blog, e que não gostou que eu a tivesse transcrito para o meu blog. Não foi branda nos protestos, nem eu na resposta, mas retirei a foto (que era pública). Mesmo assim acho que fiquei amigo da amiga da senhora.
Depois tive uma polemicazinha com o Ante_Post. Coisa saudável. São quase todos do Benfica, mas falámos civilizadamente, com ardor, mas sem ofensas. Esse tipo de querelas, não as vou perder, sempre que surgir a oportunidade. Fazem bem à vida. Não há nada pior que um mundo de aparente harmonia, mas de real hipocrisia. A desordem estimula.
O que lamento então?
Alguns factos que realmente me chocaram. Mas que se referem a "outros", apesar de terem "passado" por mim:
- Ter comentado um blog e aparecer um email (anónimo: não se consegue responder, deve ter sido criado e desactivado) a adjectivar de uma forma extremamente grosseira esse blog por mim citado. Vinganças de querelas antigas? Ciumeiras por falar daquele e não doutros? Lamento muito.
- Terem aparecido vários emails, escritos de forma civilizada, é certo, mas a lamentarem-se: que eu falo deste, não falo daquele… "O meu também merecia." Alguns blogs eu nem os conhecia, outros não me apetecia falar deles. Não queria, não gostava, estou no meu direito. Era o que faltava! O que acontece na arbitragem também se propaga para aqui. Acontece que só nomeio os árbitros que acho que o merecem. Não aceito cunhas.
- Finalmente intrigalhadas por detrás do pano. Detesto. Virem-me falar mal deste ou daquela, assinando ou não, mas por email, às escondidas, não faz o meu género. A blogosfera fomenta o anonimato, a cobardia, a hipocrisia. Lamento. Sou mais varina da Ribeira: o que se tem que dizer, diz-se na cara, abertamente. Quem gostar assim, virá por bem. Quem não gostar, abstenha-se. Ganhamos todos.
De resto, claro que vou continuar a falar de blogs. Mas deixa de haver a secção. Desisto das transcrições, para dar o tom do blog. Vou cingir-me a curtas referências, citações, linkagens. Por exemplo: já conhecem o “wasted blues”? Imperdível, de bom gosto, de delicadeza, de cinefília. Adoro a fotografia que identifica o blog. Uma mulher de costas, olhando a paisagem. A preto e branco. Não sei quem o escreve. Mas é de visita obrigatória.

9 comentários:

tomas vasques disse...

Meu caro Lauro: a este seu texto eu chamo amadurecimento bloguistico. Um grande abraço.

Anónimo disse...

Sóbrias considerações sobre um meio tão escorregadio quanto (doentiamente) fascinante. Mas devo dizer que os seus textos sobre outros blogs e as suas análises da "blogosfera" (seja, ou não, treta) eram do melhor que já se escreveu sobre o meio, em termos nacionais.

Anónimo disse...

Como sabes sou velho, pouco ou mesmo nada sei de blogosferas,sou doutro tempo. Não faço ideia do que te aconteceu para escreveres o que escreveste hoje (dia 22). Mas desistes de uma coisa que estavas a fazer, que te dava gozo e era interessante. Só quero dizer que acho mal - somos de um tempo em que escrever era perigoso,mas nós escrevíamos. Lá porque haverá na blogosfera uns tipos que são idiotas, acho que isso não deve levar cada qual a auto mutilar-se.
Repensa e continua -- é uma sugestão só minha, mas sabes que é desinteressada e de um amigo.

C. disse...

Descobri este blog quando referiu um blog que eu há muito visitava e que lhe retribuiu a referência com o devido agradecimento. A partir daí fiquei sempre curiosa quanto à próxima referência.

Apesar de compreender os motivos da sua opção. Tenho pena de perder uma fonte de novas descobertas.

PS - Foi a Avanca este ano? ;)

Hugo disse...

É, de facto, de lamentar a atitude tomada por algumas pessoas. Um blog é um espaço de partilha e diálogo. E espero que ele continue a imperar por aqui.

Quanto ao Wasted Blues, sim, é um espaço cuja visita se aconselha.

Francisco Mendes disse...

Como diria justamente Tomas Vasques: «...a este seu texto eu chamo amadurecimento bloguistico». Este é um universo que consegue ser fascinante e igualmente asqueroso. É como o próprio planeta... habitado por indivíduos íntegros e seres hipócritas.

Cumprimentos.

Lauro António disse...

Meus Caros,
A questão deixou marcas, claro que deixou, mas quem anda à chuva, molha-se. Não vou, porém, deixar de andar à chuva. “Singging in the Rain” é um dos meus filmes preferidos. Tudo continua, agora com a cabeça limpa, recuperadas as certezas, concretizadas as dúvidas. Se ninguém se lava das vezes na água do mesmo rio, também ninguém é apanhado duas vezes pelas gotas da mesma chuva. Categoria? “Provérbios e adivinhas”: “Quem se aproxima do fogo, queima-se”. “Quem mexe na lama (é mesmo lama?), suja-se”. “Os cães ladram e a caravana passa”. “Há ir e voltar.” Já fui e já voltei. Questão encerrada. Finita. Um abraço para todos os vossos comentários. (dia 23 de Setembro de 2006, pelas 17 horas).

Rolls disse...

Obrigado por não desistir! Faz cá falta... :)
Ana Melo

Rita Pinto disse...

Mais uma vez parabens , eu demorei bem mais que 3 meses a comparar a blogosfera ao futebol :)
Beijos

PS- Ja respondi ao mail , so o li ontem :(