Há dias ouvi o Victor de Sousa recitar António Gedeão, e lembrei-me do professor Rómulo do Carvalho, que nós víamos passar pelos corredores do Liceu Pedro Nunes, por vezes vestido de bata branca, mas que nos inspirava uma admiração indescritível: “Lá vai o António Gedeão!, ” dizíamos entre dentes, como quem aponta o poeta e descobre o enigma. Todos gostavam do Rómulo de Carvalho, mas eu, que nunca o tive por professor, pois andava em “Letras”, gostava mesmo era do poeta António Gedeão.
Saiu agora, na "Relógio de Água", uma cuidada “Obra Completa” de António Gedeão. Comprei-a e vim pela Av. de Roma a folhear o calhamaço. Por sorte, abriu-o logo no poema que Victor de Sousa recitara na véspera e que me ficara no ouvido. Continuamos a falar de amor:
AMOR SEM TRÉGUAS
É necessário amar,
qualquer coisa, ou alguém;
o que interessa é gostar
não importa de quem.
Não importa de quem,
nem importa de quê;
o que interessa é amar
mesmo o que não se vê.
Pode ser uma mulher,
uma pedra, uma flor,
uma cosa qualquer,
seja lá o que for.
Pode até nem ser nada
que em ser se concretize,
coisa apenas pensada,
que a sonhar se precise.
Amar por claridade,
sem dever a cumprir;
uma oportunidade
para olhar e sorrir.
Amar como o homem forte
só ele o sabe e pode-o;
amar até á morte,
amar até ao ódio.
Que o ódio, infelizmente,
quando o clima é de horror,
é forma inteligente
de se morrer de amor.
Vou continuar com António Gedeão
(entre outras coisas)
Saiu agora, na "Relógio de Água", uma cuidada “Obra Completa” de António Gedeão. Comprei-a e vim pela Av. de Roma a folhear o calhamaço. Por sorte, abriu-o logo no poema que Victor de Sousa recitara na véspera e que me ficara no ouvido. Continuamos a falar de amor:
AMOR SEM TRÉGUAS
É necessário amar,
qualquer coisa, ou alguém;
o que interessa é gostar
não importa de quem.
Não importa de quem,
nem importa de quê;
o que interessa é amar
mesmo o que não se vê.
Pode ser uma mulher,
uma pedra, uma flor,
uma cosa qualquer,
seja lá o que for.
Pode até nem ser nada
que em ser se concretize,
coisa apenas pensada,
que a sonhar se precise.
Amar por claridade,
sem dever a cumprir;
uma oportunidade
para olhar e sorrir.
Amar como o homem forte
só ele o sabe e pode-o;
amar até á morte,
amar até ao ódio.
Que o ódio, infelizmente,
quando o clima é de horror,
é forma inteligente
de se morrer de amor.
Vou continuar com António Gedeão
(entre outras coisas)
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