quarta-feira, novembro 15, 2006

FADOS NO SAMOUCO

Malhoa, "O Fado"

Gosto de fado. Gosto de fado em casas populares, e tascas, em restaurantes de província. Fado cantado por populares, “espontâneos”. Ontem fui aos fados, ao Samouco, que fica do outro lado do Rio, entre Alcochete e Montijo, por aí (não fui eu que conduzi!). Iam cantar dois jovens da ”baby generation” do fado, a Cátia Garcia e o David Ventura. Conheço ambos de espectáculos vários do La Féria, conheço melhor a loirinha, que apresentou ontem o meu filho Frederico à dona do restaurante “Cinco e ½” com um expressivo, “Este é Frederico, o meu namorado!” Percebem, portanto, porque fui aos fados? No Samouco. Não, foi mesmo porque quis. Gosto de fado, gosto da voz destes dois jovens, gosto da Cátia, gostei de ouvir três espontâneos, daqueles que aparecem nos intervalos das actuações dos “fadistas convidados”, um dr. João que cantou magnificamente fado de Coimbra, uma Maria do Carmo bem castiça e a Dina, dona do restaurante, que já trazia consigo um miudinha de três ou quatro anos, sua filha, que, se não canta ainda o fado, já cruza o xaile a preceito.
O fado está entranhado na alma portuguesa. É nestes pequenos restaurantes, espalhados por aqui e por ali, e nas tascas, que se percebe que o fado não morre. Pelas mesas, e no minúsculo palco, havia gente de todas as gerações, até um velho construtor de guitarras, perdido lá ao longe, num recanto solitário. Ouviu-se coisas novas e a Samaritana, o Zé Cacilheiro ou recordou-se Amália. O fado não morre. Faz parte desta gente que, de pescadores a doutores, não perde o tom, não esquece a toada nostálgica, “porque tudo isto existe, tudo isto é fado.” “… e deu-me esta voz a mim,” cantou a Cátia. E não está mal, não senhor!

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