Uma Maratona de
Bom Cinema e Bom Ambiente
Bom Cinema e Bom Ambiente
3.
Obras a Concurso
As Premiadas
Foram muitas as obras premiadas durante o Cine Eco 2006, dando razão aos que acham que esta foi a mais competitiva edição de sempre. Muitas e muito boas obras. É verdade. Já referi algumas de que muito gostei e que, por uma razão ou por outra, nem sequer entraram na lista das premiadas. Vou falar agora de outros títulos, de que também muito gosto, mas estes sim, figuram no cardápio final das honrarias. Mas antes uma ressalva: vou deixar para outra nota tudo o que diga respeito a lusofonia. Agora fico-me somente pelos títulos em língua estrangeira, tipo Melhores Filmes em Língua não Portuguesa.
"O Ataque do Tigre" - Grande Prémio
“O Ataque do Tigre” (Conflit Tiger), de Sasha Snow (Inglaterra, Rússia, 2005), é um documentário de reconstituição, estilo “docdrama”. Passa-se nas florestas da Rússia de Leste, e conta-nos um caso verídico: um caçador de tigres, inexperiente e insensato, provoca uma série de ataques de tigres que atingem as pessoas do vilarejo próximo. As autoridades locais convocam os serviços de Yuri Trush, um especialista na perseguição e abate de tigres que perderam o medo ao homem. “Conflict Tiger” estabelece-se assim como um documentário de suspense, assistindo-se a uma perseguição que envolve homem e fera, em que, a determinada altura, não se sabe quem é o perseguidor e quem o perseguido. O filme aborda um tema importante, a conflituosidade que o homem estabelece com a natureza, muitas vezes em função da pobreza que o atira para práticas aparentemente fáceis de ganhar dinheiro, mas que, mais tarde, se mostram delapidadoras do património e geradoras de violência. Neste sentido, esta perseguição pode funcionar quase como metáfora de um tempo onde a harmonia do homem com o seu habitat natural se quebrou e cria fricções graves.
Sasha Snow foi fotógrafo de arquitectura antes de surgir como montador na BBC, em 1991. Em 1997 ganha o BAFTA/Post Office Scholarship para Melhor Filme de Estudante, com “Peace Under A Power Station”, enquanto estuda realização documental na The National Film & Television School. Em 2002 diploma-se com o seu primeiro filme rodado na Rússia, “A St. Petersburg Symphony”. Seguem-se ‘Arctic Crime & Punishment’ e ‘Conflict Tiger’.
"Feridas Atómicas" - Grande Prémio Juventude
“Feridas Atómicas”(Atomic Wounds), de Marc Petitjean (França, 2005), retoma uma preocupação que ressurgiu no horizonte da Humanidade: a ameaça atómica. Recuando até Hiroshima e Nagasaki, o filme recorda a tragédia de 6 de Agosto de 1945, com testemunhos de sobreviventes que evocam o dia em que a bomba atómica em segundos aniquilava duas cidades e milhares de pessoas, deixando outros milhares a morrer lentamente, contaminadas pelas radiações. Com a Coreia do Norte e o Irão de um lado, os EUA do outro, a ameaça é mais forte do que nunca. Mas o filme vai mais longe através da palavra do Dr. Hida, uma das últimas testemunhas adultas do lançamento da bomba atómica em Hiroshima, que defende a teoria de que as bombas de Hiroshima e Nagasaki foram usadas como testes. O próprio médico foi exposto às radiações e tratou os feridos nas horas que se seguiram à explosão. Hoje continua a cuidar dos cerca de 250.000 sobreviventes da bomba. Recorrendo a raras gravações de arquivo, o filme descreve os trabalhos do laboratório montado pelos cientistas americanos em 1946, no local dos bombardeamentos, para observar e interrogar os sobreviventes, mas com ordens para não os tratarem nem fornecer aos médicos japoneses os resultados dos testes. No mínimo polémico e inquietante.
"Ouro Branco" - O Prémio “Educação Ambiental”
“Ouro Branco – O Verdadeiro Preço do Algodão” (White Gold – The True Cost of Cotton), de Sam Cole (Inglaterra, 2005), é uma curta-metragem de 7 minutos, de uma eficácia notável. O que custa o algodão que vestimos? Viaja-se até ao Uzbequistão, o segundo maior exportador de algodão do mundo, onde um regime político altamente repressivo não permite outras alternativas do que lançar mão do vídeo doméstico para documentar fases da produção do “algodão de ouro”. Os militantes de EJF obtêm provas da exploração do trabalho infantil, da exploração rural e da destruição ambiental generalizada.
“Atingido” - Prémio "Polis"
Da Alemanha, “Atingido!” (Shoot Back!), de Michael Trabitzsch e Katharina Kiecol (2005/2006) afirma-se como uma versão africana (e reduzida) de “Eight Mile”. Trata-se essencialmente um documentário sobre pessoas reais: quatro adolescentes aprendem como usar uma câmara digital numa das piores zonas africanas. Como um diário, eles começam a documentar-se a si mesmos e às suas vidas, entre a esperança e o inferno, com a música da revolta por pano de fundo. Michael Trabitzsch, entre 1987 e 1991, foi assistente de direcção e produção de Harun Farocki. Desde 1992 é director de produção da “Prounen Film”, em Berlim. Do seu curriculum fazem parte trabalhos como “Allende”; “The Marble Road” ou “A Quiet Rebel. The Sculptor Wieland Forter”.
"H20 (Água à Venda)" - prémio Júri da Jjuventude
Outro filme alemão é “H2O (Água à Venda)” (Wasser unterm Hammer ou H2O Up For Sale), de Leslie Franke e Hermann Lorenz (2005) que mostra, numa perspectiva de recentes experiências inglesas, como a privatização da água, esse “ouro azul”, ocorre em diferentes cidades alemãs. As consequências são semelhantes um pouco por toda a parte: milhares de empregos foram “exterminados”, os custos foram reduzidos, registou-se um aumento do desperdício, a qualidade da água piorou, os preços aumentaram exponencialmente. O lucro é o “deus” na indústria da água. Mas a resistência está a surgir.
“Uma Alquimia em Verde”, Prémio “Vida Natural"
Da Nova Zelândia, “Uma Alquimia em Verde” (An Alchemy in Green), de Dave Dawson (2005), enquadra-se no cenário actual da luta contra o aquecimento global e do número cada vez mais elevado de espécies em extinção. “Alquimia em Verde” lança um olhar retrospectivo para a instalação do ser humano na Nova Zelândia e a subsequente destruição das gigantescas florestas tropicais, enquanto conta a história de Barry Brickell, um artista cerâmico, construtor de caminhos de ferro e defensor da natureza. Ele fala do seu projecto visionário para recriar a primitiva floresta Kauri, que um dia cobriu a Península de Coromandel. Depois de diversos anos, durante a década de 90, de colaboração na realização de documentários, em França e Alemanha, e mais tarde como freelancer como operação de câmara e fotógrafo de arte natural, na Nova Zelândia, Dave Dawson estreia-se na realização com este filme, onde fica reflectida a sua preocupação com as questões relacionados com a natureza e aproveitamento paisagístico, com uma especial atenção na saúde ambiental do Planeta. Um belo trabalho, tanto de um ponto de vista ambiental, como cinematográfico.
Prémio “Antropologia Ambiental” - “O Cavalo Operário”
“O Cavalo Operário” (Le Cheval Ouvrier), de Alain Marie (França, 2006), é um belíssimo olhar sobre o trabalho escravo dos cavalos, em pleno coração da bacia mineira. Um velho criador de cavalos de carga transmite-nos a sua paixão pelos “Traits du Nord” numa perfeita harmonia com o universo. Paralelamente um velho mineiro de origem polaca, que é hoje guia no complexo mineiro de Wallers-Arenberg, mostra-se um investigador apaixonado pela vida dos cavalos nas minas. O encontro dos dois universos permite-nos partir à descoberta dos últimos vestígios do trabalho dos cavalos em terra, sob a terra e… no mar. O cavalo é um objecto estético invulgar e Alain Marie retira deles uma presença deslumbrante, num filme nostálgico e de uma perturbante delicadeza.
Prémio “Camacho Costa” - “Giovanni e o Mito Impossível das Artes Visuais”
De Itália: “Giovanni e o Mito Impossível das Artes Visuais" (Giovanni e Il Mito Impossibilie delle Arti Visive), de Ruggero Di Maggio (1976), retoma um tema muito curioso, a arquitectura ao serviço do homem ou ao serviço da estética? Sicília, 1968. Uma pequena cidade chamada Gibellina é destruída por um terrível terramoto. Nada fica de pé. É tomada a decisão de reconstruir completamente a cidade, a 18 quilómetros para Este das ruínas. Os melhores arquitectos e artistas italianos são chamados para criar uma Gibelina, nova e futurista. Giovanni, de 70 anos, mudou-se da velha cidade para a nova, mas as suas palavras revelam um mundo de dúvidas. Pertinentes ou não? Irónicas, seguramente.
"Filhos da Montanha de Prata" - Prémio Júri Juventude
“Filhos da Montanha de Prata” (Hijos de la Montanã), de Juan S. Betancor (Espanha, 2005), aponta para uma realidade que remonta a 1545, quando os conquistadores espanhóis descobriram prata pura numa montanha na região Inca de Kollasuyo, hoje o Planalto da Bolívia. Deram-lhe o nome de Cerro Rico (a Montanha Rica) e à poderosa e próspera cidade que cresceu na sua base, Potosí. Cedo criaram a maior indústria mineira do seu tempo, sustentada por um miraculoso sistema de força mineira, “La Mita”. Religião e exploração.
“Os Refugiados do Planeta Azul” (Les Réfugiés de la Planète Bleue), de Jean-Philippe Duval e Héléne Choquette (França e Canada, 2006) – Sabia que há refugiados do ambiente? Este belíssimo e perturbador filme revela-nos um agricultor canadiano, um pescador das Maldivas e um “peasant” brasileiro: todos eles vivem em pólos opostos, sob uma enorme variedade de condições sócio-económicas. Eles são, todavia, vítimas de uma mesma tragédia. Encontram-se entre os 25 milhões de pessoas que por questões ambientais são forçados a deslocar-se… Inquietante.
“Os Refugiados do Planeta Azul” (Les Réfugiés de la Planète Bleue), de Jean-Philippe Duval e Héléne Choquette (França e Canada, 2006) – Sabia que há refugiados do ambiente? Este belíssimo e perturbador filme revela-nos um agricultor canadiano, um pescador das Maldivas e um “peasant” brasileiro: todos eles vivem em pólos opostos, sob uma enorme variedade de condições sócio-económicas. Eles são, todavia, vítimas de uma mesma tragédia. Encontram-se entre os 25 milhões de pessoas que por questões ambientais são forçados a deslocar-se… Inquietante.
“Terras a Separam-se: Uma Saga Islandesa” (Parting Lands), de Zoltan Torok (Hungria, Suécia, 2005) leva-nos até à Islândia, o único país que faz parte quer da Europa, quer da América do Norte. Nascida da fenda que separa os dois continentes nas profundidades do Oceano Atlântico, lenta mas irreversivelmente, a Islândia separa-se inexorávelmente em duas. Este filme mostra a vida natural, única e só muito raramente filmada, desta ilha e a sua interacção com as mais rudes forças da natureza.
“Melhor Animação” - “49"
Vários filmes de animação passaram em Seia. O melhor veio do Japão, “49”, de Ichiro Iwano (2006) sobre um homem que trabalha numa base de mísseis. Hoje o seu filho faz anos. Mas assim que se preparava para sair do trabalho, o telefone tocou. Com essa voz vinda do longe, surge uma ordem para disparar um míssil. Que fazer? Boa animação, adensando o dramatismo do nuclear.
(continua com outras obras não premiadas, e não lusofonas)
1 comentário:
e vim ler. ler-te. e saber.
beijos.
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