terça-feira, dezembro 19, 2006

VIAGEM AO NORTE, 3

3. CASA DA MÚSICA

É uma vergonha, eu sei, mas há outras mais vergonhosas. Pois bem, cá vai a revelação: ainda não tinha entrado na Casa da Música. Enquanto fui professor no Porto, ia semanalmente até ao Norte e não perdia muitos espectáculos e exposições. Devo dizer que gosto muito do Porto, gostava (gosto) muito dos meus alunos do CTCAV, adoro dar aulas, por isso era sempre com muito prazer que fazia a viagem até à Invicta, de comboio ou carro, sozinho ou acompanhado. Agora que deixei de fazer estas viagens com regularidade, só vou ao Porto de propósito para ver algum acontecimento especial e ainda não tinha entrado na Casa da Música, belo edifício com uma programação diversificada, onde todo o género de música tem lugar.
Aproveitando o facto de ter chegado à cidade a horas de um espectáculo, optei pela Casa da Música. Na sua sala 2, uma espécie de sala de ensaios públicos, havia nessa noite uma apresentação de alunos do Estúdio de Ópera, um curso que ali decorreu durante alguns anos, e que terminava mais uma temporada. E última, pois a experiência infelizmente terminou. Digo infelizmente porque os resultados me pareceram francamente bons, tendo em conta a audição de dez alunos que terminaram o curso (e que foram acompanhados por alguns “amigos” que se prontificaram a ajudar à festa). Era uma espécie de apresentação de “projecto de fim de curso”, o público correspondeu em bom número e entusiasmo condizente, a “festa” fez-se e foi bom ter conhecido estas jovens vozes, quase todas com enormes possibilidades. Esperemos que tendo as vozes potencialidades, lhes sejam conferidas as oportunidades de trabalho. Falei com algumas delas, as perspectivas não serão as melhores, mas já vão fazendo alguns espectáculos em grupo ou individualmente. Os nomes: Brígida Silva, Ana Barros, Eduarda Melo, Liliana Sofia Coelho, Luísa Barriga, Job Toe, Miguel Leitão, Ricardo Ceitil, cantores, António Oliveira e Rui Martins, pianistas, a que se juntaram os “amigos” Alexandra Moura, Sara Braga Simões, João Lourenço e Magda Ferreira. Tudo nomes a fixar e ouvir num futuro próximo. Uns mais dotados, outros mais convencionais, mas todos a valerem a pena serem aproveitados e bem.

Pesquisando na net, encontro uma notícia do JN, de 26/10/2006, onde se dava conta das inquietações do grupo e da possível extinção de actividades do Estúdio de Ópera, na Casa da Música. Ali se podia ler:
“O Estúdio de Ópera, um dos agrupamentos residentes da Casa da Música (CM), no Porto, tem o último recital agendado para Dezembro. Ao fim de quase dois anos de incertezas sobre o funcionamento da estrutura, criada em 1999, a Administração da CM está a equacionar o seu fecho. Cantores e pianistas foram informados da decisão há três meses.
O Ministério da Cultura e a direcção artística da Casa da Música não comentam o assunto. No entanto, ainda anteontem, por ocasião da apresentação do festival Novas Músicas, Pedro Burmester garantiu que "brevemente" haveria novidades.
O JN apurou que os elementos do Estúdio de Ópera sabem do desfecho desde Julho, quando houve uma reunião entre Burmester, António Jorge Pacheco, programador, e Andrew Bennett, actual responsável pela Orquestra Nacional do Porto. Segundo um dos cantores do agrupamento, nessa reunião "foi dito que o Estúdio de Ópera, como parte integrante da Casa da Música, ia acabar", passando a haver "projectos pontuais". Neste sentido, seria intenção da CM criar um coro e programar alguns concertos. "Coisas muito insignificantes relativamente ao trabalho que nós desenvolvemos no Estúdio", referiu.
As incertezas em torno da estrutura começaram em Janeiro de 2005, quando Couto dos Santos, então presidente do Conselho de Administração da CM, encomendou um estudo com o objectivo de avaliar as potencialidades do Estúdio de Ópera. Na altura, disse mesmo que "o sistema de co-produções é hoje mais usado", acrescentando que "a ópera é muito cara".
O referido estudo "foi feito e apresentado. Analisava outros estúdios, nomeadamente nos Estados Unidos, e apresentava uma possível solução", adiantou a mesma fonte.
Ainda de acordo com aquele elemento do agrupamento, depois disso Peter Harrison, director de estudos vocais e responsável pelas aulas de canto, apresentou uma proposta com alterações ao funcionamento "e nada foi feito".
Tirando os coros profissionais do Teatro S. Carlos e da Gulbenkian, em Lisboa, o Estúdio de Ópera "é o único sítio em Portugal onde existem cantores residentes", recorda. A estrutura foi criada por ocasião da Porto/Capital da Cultura e, enquanto a Casa da Música não abriu, o que só aconteceu em Abril do ano passado, residiu na Casa das Artes.
A mesma fonte lembra que o agrupamento "foi criado para colmatar o vazio que existe entre o mundo escolar e o mundo profissional, visto que as escolas não dão o treino suficiente para se entrar no mundo profissional, que no nosso país já é pequeno". E acrescenta que cada um dos sete cantores do Estúdio de Ópera ganha 480 euros líquidos por mês. As aulas diárias de canto demoram cerca de meia hora, mas a preparação dos espectáculos leva muito mais tempo.
Mesmo assim, é sua opinião que o anunciado fecho "não se deve a questões económicas. É uma questão de política da Casa da Música, que entende que este trabalho deve ser feito nas escolas e que, a existir um estúdio de ópera, deveria estar agregado ao S. Carlos, que é o único teatro de ópera em Portugal".
Segundo fonte oficial da CM, a programação do Estúdio de Ópera entre Janeiro e Dezembro deste ano conta um total de 20 espectáculos e 'workshops'. "Bastien und Bastienne", de Mozart, ópera incluída no formato dos recitais, "Ottone", de Händel, também interpretada em Faro, e "Joaz", de Benedetto Marcello (no parque de estacionamento), são algumas das produções que o Estúdio apresentou na Casa da Música. “

O colectivo “Estúdio de Ópera” (e Convidados) actuou na Casa da Música no passado dia 14, às 19.30, tendo interpretado obras líricas de onze compositores diferentes. Na primeira parte do concerto, ouviram-se os trechos «Stride la vampa!» (Il Tovatores, de Verdi), «L'altra notte» (Mefistofele, de Boito), «Pleurez, mes yeux!» (Le Cid, de Massenet), «Donde lieta usci» (La Bohème, de Puccini), «Excertos de Lulu» (Berg), «Ah! Que les hommes sont bêtes» (La Périchole, de Offenbach), «J'ai deux amants» (Messager) e «Duetto buffo di due Gatti» (Rossini). Depois do intervalo, foi a vez de «Liebeslieder Walzer (nº 2 a 6)», de Brahms, e com Excertos do 2º Acto de «Die Fledermaus, de Strauss», tema que é interpretado, em simultâneo, por doze cantores líricos.
Já agora uma informação: O “Estúdio de Ópera” volta ao palco da Casa da Música, no próximo 21 de Dezembro, com a Remix Orquestra Barroca, no primeiro espectáculo do ciclo “Concertos de Natal”. Quem andar por perto, vale a pena descobrir novas vozes líricas portuguesas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estive lá!
Um agradável fim de tarde entre amigos/conhecidos num ambiente aconchegante, [para quem estava de fora,isto é do lado do público] quase nas vésperas de Natal!
Foi como que uma pausa no frenesim q reinava fora daquelas paredes insonorizadas!

Gostei das interpretações daqueles jovens, embora só alguns tenham mais qualidade musical... e outros, mt jeito de palco o q tb é preciso neste género musical!

Poucos, entre todos, acompanhei nos sonhos de voar diferente num país q não dá mt abertura à arte,
mt menos à arte maior q é ter por instrumento a sua pp voz!

Dou realce à música antiga com instrumentos da época! Uma das gd valias do filme 'Copying Beethoven' [como sp o tipo de tradução q pode levar a erros de ajuizar].

Sem dúvida, um bom momento!
A Casa da Música deveria acarinhar um projecto q tende a deixar extinguir.