sexta-feira, abril 27, 2007

VáVá.diando, com Teolinda Gersão

TEOLINDA GERSÃO


NO VÁVÁ, EM TERTÚLIA


Um dia peguei num livro, um romance com um título que me cativou, “A Casa da Cabeça de Cavalo”, trouxe-o para casa e li-o de um fôlego. Tão impressionado fiquei que, não conhecendo eu pessoalmente a escritora, maneira arranjei para lhe telefonar a dizer o quanto gostara do livro e o muito que desejaria de o fazer também meu, adaptando-o a cinema.
O livro foi para mim a descoberta de uma voz nova no espaço da literatura portuguesa, mais uma vez a voz de uma mulher, mais uma vez uma descoberta inesperada por diversas razões. Já sabia da admiração de Vergílio Ferreira por Teolinda Gersão. Sabida a minha paixão por Vergílio Ferreira, fácil seria supor que Teolinda me deveria prender. Mas sou pessoa de só reagir por experiência própria – a leitura do romance, confirmou completamente as recomendações de Vergílio Ferreira.
A conversa com Teolinda fez crescer ainda mais a minha admiração pela romancista, mas também pela mulher: a voz macia e doce, o olhar terno, a delicadeza dos gestos, e por trás de tudo isso o vislumbre de uma vontade destemida, uma força com algo de telúrico que o sorriso apenas escondia, mas que qualquer bom observador pressente. Se gostara desse romance desde que comecei a sua leitura, gostei da autora desde que a conheci. Creio que passámos a gostar um do outro desde esse dia, e algumas vezes mais nos encontramos ao longo dos anos. Nomeadamente no Famafest, de que foi membro de Júri Internacional já por duas vezes. Encontros, no entanto, demasiados espaçados para colmatarem a alegria de estar com ela, de a ouvir discretamente discorrer sobre a vida, com a mesma discrição que escreve os seus romances e contos.
Um dos aspectos mais interessantes da escrita e do estilo de Teolinda Gersão, será o facto da autora nos habituar a relatos de quotidiano, envolvidos numa delicada sensibilidade, onde as palavras vulgares do dia a dia se bastam, pela mestria com que são usados, para nos descrever emoções e paixões, mesmo em violento e nervoso confronto. Teolinda nunca abandona a suavidade da escrita, mesmo quando por detrás dela perpassam os mais violentos dramas, as tragédias mais extremadas. Esta aparente discrepância entre a tensão interna dos conflitos e das personagens e a “normalidade” das palavras que os descrevem tornam ainda mais grave e insuportáveis certas situações narradas. Neste aspecto, “A Casa da Cabeça de Cavalo” é um exemplo magnífico do que pretendo dizer, ao desenhar a existência de uma família, apalaçada e senhorial, em finais do século XIX, no Norte de Portugal, mas perpassa por toda a sua obra, agora reconfirmado com o excelente volume de contos a que deu o título de “A Mulher que Prendeu a Chuva”, onde me volteia apaixonar por um conto, que não digo qual, pois quando falo de projectos antes destes estarem concretizados, ficam pelo caminho. A ver vamos se com secretismo se concretizam.

2 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Tenho a maior admiração pela Teolinda Gersão, como escritora e como pessoa. Espero que continue a escrever para nosso prazer.

n©n disse...

Tive mta pena de não ter ido, até porque estou a ler o seu último livro de contos e conheci-a faz agora 8 anos e gostaria de a rever. No entanto, ando numa maratona Indie e já tinha os bilhetes comprados.