sábado, julho 07, 2007

AQUECIMENTO GLOBAL: LIVE EARTH (7.7.7) (a)

AINDA SOBRE AQUECIMENTO GLOBAL

Um texto, em português, do Brasil, para fazer pensar. Retirado da revista “GALILEU”, nº 170, edição de Junho de 2006. Texto de Edson Franco.

Muitas questões envolvendo o aquecimento global ainda geram discussões entre a comunidade científica. Mas há alguns consensos. Para chegar a eles, a revista “Galileu” montou um questionário com 50 perguntas e foi atrás de entidades, cientistas, pesquisadores e órgãos governamentais. Agora a bola está com você. Leia, reflicta e faça alguma coisa para proteger a nossa casa.

1) O fenómeno é real? Já começou?
Sim, é para valer e já deu o pontapé inicial. No último século, a temperatura média na superfície do planeta subiu 0,8 ºC nos dois hemisférios. Parece pouco, não é? Mas o derretimento das geleiras e a diminuição da cobertura de gelo no Hemisfério Norte estão aí para dar razões aos cientistas que ligam o sinal amarelo.

2) Há outros sinais na superfície além do derretimento de gelo?
Vários. Consequência do derretimento, a água dos oceanos está subindo e ameaçando países e cidades próximas ao nível do mar. Um caso urgente é o de Tuvalu, pequeno arquipélago no Pacífico. Já há planos para evacuar os 11 mil moradores locais para a vizinha Nova Zelândia. Bangladesh e a ponta sul da Florida também correm riscos. Outros sinais são a desertificação, o aumento da força e da frequência de tufões, ciclones e furacões e o maior número de incêndios florestais.

3) Qual é o percentual de participação humana nessa história?
Há um consenso entre estudiosos de que dois terços é a parte que nos cabe. Mesmo quem não concorda com isso admite que o homem, no mínimo, acelera o processo.

4) Quem são os maiores vilões, os países desenvolvidos ou os demais?
Hoje, são os desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, responsáveis por um quarto de todas as emissões globais de gases-estufa. Teme-se que, com um crescimento económico acelerado, China (que já é o segundo maior poluidor) e Índia (o quinto) piorem ainda mais a situação.

5) As medições dos gases-estufa nunca foram tão precisas. Por que ainda há tantas incertezas a respeito das consequências do aquecimento global?
Porque tudo reage em cadeia. Embora seja líquido e certo que, caso dobremos a quantidade de CO2 na atmosfera, os termómetros irão subir um grau, processos como a formação de gelo e nuvens, a circulação dos oceanos e a actividade biológica interagem. Tudo isso somado pode acelerar o aquecimento ou dar à vida na Terra mais alguns anos.

6) Há outros gases, além do dióxido de carbono, que agravam o problema?
Sim. Metano (CH4), clorofluorcarbonetos (CFCs), ozónio e óxido nitroso também contribuem.

7) O aquecimento global pode motivar o aparecimento de variações repentinas que afectem o clima da Terra nas próximas décadas ou séculos?
É pouco provável que uma mudança como a vista no filme "O Dia Depois de Amanhã" ocorra no futuro próximo. Mas a própria história do planeta mostra que uma sequência de círculos viciosos - em que uma anomalia alimenta e dá força a outra - pode ir levando a Terra até um ponto limite. Daí para frente, basta só uma gota d'água para que a coisa desande e mudanças bruscas e repentinas entrem em campo.
8) Há fenómenos naturais que contribuem para o efeito estufa?
Sim, até porque a Terra precisa dessa capa. Sem o efeito estufa, a vida não seria possível por aqui. É ele que nos mantém quentes à noite. Por sua abundância, o vapor d'água é o mais importante gás causador natural do efeito. Logo atrás está o dióxido de carbono, que vem sendo lançado naturalmente pelos vulcões ao longo da história do planeta.

9) O que acontece com as áreas hoje destinadas à agricultura?
As plantações são sensíveis ao clima. Um aumento de 2 ºC combinado com uma queda de 10% na precipitação de chuvas pode matar 20% da produção de milho dos Estados Unidos, por exemplo. Além de mais calor e menos chuvas, as lavouras sofrerão com as pragas. O aquecimento global favorecerá insectos de vida curta comuns em áreas quentes e que podem adaptar-se e evoluir rapidamente. Eles tendem a proliferar sob condições de rápido aquecimento. Por isso, acredita-se que as perdas agrícolas serão maiores.

10) E a pecuária, como é que fica?
Com mais regiões desérticas, ficará cada vez mais complicado encontrar áreas para pastagens, e as consequências são óbvias. Prevendo um futuro sombrio na área, o Departamento de Agricultura dos EUA criou, já em 1998, um programa batizado de Estratégia Nacional Unificada para as Operações de Alimentação de Animais, cuja função principal é garantir capim nos pastos e bifes nos pratos.

11) A necessidade de se refrescar em um planeta mais quente vai aumentar o consumo de energia?
Com a mais absoluta das certezas. Resta torcer para duas coisas: que as formas de energia utilizadas para gerar a sensação de frescor venham de fontes alternativas e renováveis; e que nós aprendamos a criar espaços residenciais, industriais e comerciais que optimizem a energia e aproveitem as formas naturais e limpas de ventilação e resfriamento.

12) A saída são as energias renováveis?
Se não a saída toda, elas pelo menos colaboram bastante. As fontes alternativas de energia eólica e solar são chamadas de limpas. Elas não são poluidoras pelo simples fato de suas fontes primitivas já fazerem parte da natureza (sol e vento). Na medida em que aumenta a sua participação na matriz energética do mundo, elas reduzem a participação de energias poluentes, como as vindas do petróleo e derivados. Assim, elas são agentes mitigadores do aquecimento global.

13) Energia alternativa e energia renovável são a mesma coisa?
Não. Por exemplo, a energia hidroeléctrica tem fonte primitiva renovável (água), mas não é alternativa. Utiliza-se a expressão "energia alternativa" para fontes não convencionais, que não são exploradas ou usadas em baixa escala. As fontes convencionais são aquelas que movimentam a economia mundial: energia hidroelétrica, carvão, petróleo, energia nuclear etc.

14) É uma estratégia viável e útil desviar o CO2 emitido para o fundo do mar?
A idéia não é nova, mas vem crescendo em importância na medida em que os países precisam se ajustar às metas de emissões determinadas pelo Protocolo de Kyoto (veja pergunta 35). O esquema funciona assim: o dióxido de carbono emitido é liquefeito e bombeado até o fundo do mar por meio de oleodutos.

Enquanto os cientistas discutem a capacidade de armazenamento de CO2 sob os oceanos, alguns números animam os investimentos nessa tecnologia. Estima-se que 1 milhão de toneladas de carbono - equivalente ao total emitido por 100 mil carros utilitários desportivos todo ano - seja retirada da atmosfera anualmente caso a estratégia seja adoptada em larga escala. O problema por enquanto é económico: o custo de capturar e armazenar CO2 vai de US$ 50 a US$ 100 por tonelada. Mas cientistas calculam que esse custo pode cair para US$ 25, desde que rolem investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

15) O que está sendo feito para estimular empresas poluentes a controlar suas emissões de CO2?
O que pode estimular mais uma empresa do que a perspectiva de obter lucros? Com isso em mente, foram criados os créditos de carbono, que são certificados que países em desenvolvimento (como Brasil, China e Índia) podem emitir para cada tonelada de gases-estufa que deixem de emitir ou que seja retirada da atmosfera. As Reduções Certificadas de Emissões (CERs), como são chamadas, podem ser comercializadas com países industrializados que não conseguem ou não desejam reduzir as suas emissões internamente.

Estes compram o direito de poluir, investindo em países em desenvolvimento. Esses projectos podem ser de redução de emissões, como os de reflorestamento e florestamento (sequestro de carbono) ou projectos que evitam as emissões, como os que exploram fontes de energia limpa.

Além do comércio mundial, iniciado com a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, existem diversos mercados de crédito de carbono regionais. Actualmente, um dos principais é o europeu, onde a tonelada do carbono reduzido é negociada por cerca de 15 euros. Até os EUA possuem uma bolsa de negociações especializadas em créditos de carbono, fundada em 2003: a Bolsa do Clima de Chicago.

16) Como o aquecimento global pode afectar a Amazônia?
A resposta curta é: nós ainda não sabemos os efeitos do aquecimento global na Amazónia. Há vários estudos - que utilizam um sistema baptizado de Modelo de Circulação Global - sendo feitos. Eles chegam a diferentes prognósticos.

O mais alarmante deles vem do Hadley Center, no Reino Unido. Ele prevê uma perda maciça de área verde, devido a secas futuras. Os outros modelos também antevêem aumento de temperatura e menos chuvas, mas as conclusões são menos dramáticas.

O que há de mais amedrontador é que esses estudos levam em conta apenas os efeitos do aquecimento global, deixando de fora a influência de fenómenos como o desmatamento e a fragmentação da floresta amazónica, o que, por si só, já reduz a quantidade de chuvas.

17) Existe algum efeito positivo no aquecimento global?
Por incrível que pareça, há sim. Enquanto no Hemisfério Sul a subida dos termómetros facilita a proliferação de insectos causadores de doenças tropicais, no interior da Inglaterra, a subida de um grau diminuiu o número de atendimentos emergenciais decorrentes de crises respiratórias provocadas pelo vírus sincicial. Não é um caso isolado, segundo a University College London, que lançou um estudo mostrando como quem sofre de outras doenças respiratórias se beneficia com a elevação da temperatura.

18) Que lugar o Brasil ocupa entre os maiores emissores de CO2 e quais são os grandes vilões no País?
O Brasil ocupa a 15a posição. Quase 25% das emissões nacionais são procedentes da indústria e da agricultura modernas, e 75% vêm da agricultura tradicional e das actividades madeireiras ineficientes ou predatórias.

19) Uma seca regional poderia instalar-se e continuar por décadas ou séculos?
Hoje é difícil acreditar, mas a região do deserto do Saara já teve uma vegetação rica e variada. Apesar disso, os cientistas mandam para um futuro bem distante a possibilidade de desertificação de uma grande floresta.

Citam como exemplo a seca de 2005 na Amazónia, causada pelo aumento da temperatura na superfície do Atlântico, que, por sua vez, foi motivada por uma combinação de aquecimento global e variabilidade climática natural. Foi um caso isolado, mas, quanto mais o planeta se aquece, situações como essa acontecerão com mais frequência.

Apesar disso, a possibilidade de seca permanente é remota. Mesmo assim, há a preocupação de que, somados, o aquecimento e as queimadas possam gerar um ciclo em que um alimenta o outro, o que colocaria em risco grandes partes da floresta.

20) Um planeta mais quente não absorve mais dióxido de carbono?
Por um lado, o raciocínio procede. Afinal, com mais calor e com o efeito fertilizante do CO2 no ar, as plantas seriam estimuladas a crescer rapidamente e absorver mais dióxido de carbono. Por outro lado, as plantas precisam de outras coisas, principalmente de água, que será um artigo mais raro em um planeta com índices avantajados de evaporação.

21) As geleiras e as coberturas de gelo estão derretendo para sempre?
Não. Até porque, apesar do atraso gerado pelo aquecimento global, uma nova era glacial vem por aí.

22) Mesmo assim, de 1996 para cá, a Groenlândia viu sua cobertura de gelo diminuir de 85 km3 para 35 km3. O que acontecerá se todo o gelo derreter?

Bom, aqui a histeria ambientalista encontra os cálculos científicos. De acordo com um estudo do britânico Hardley Center for Climate Prediction, um aquecimento de 3 ºC até o final deste século poderia detonar o derretimento total. Com isso, o nível dos mares subiria até 7 metros.

23) E se a capa de gelo da Antártida desaparecer, o que será de nós?
Seria uma catástrofe, pois a região guarda em seu interior gelo suficiente para fazer o nível global dos mares subir em mais de 65 metros.

24) É verdade que o porcentual de superfície terrestre sujeita a secas praticamente dobrou nos últimos 30 anos?
Um estudo do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA (NCAR, na sigla em inglês) mostrou que, entre os anos 1970 e o começo deste século, a superfície terrestre sujeita a secas severas mais que dobrou. Há 36 anos, essas regiões ocupavam entre 10% e 15% do planeta. Em 2002, esse porcentual chegou a 30%. Os cientistas responsáveis pelo estudo concluíram que a elevação da temperatura foi mais determinante que a queda do índice pluviométrico para gerar esse quadro.

25) O aquecimento pode acelerar a extinção de animais? Há espécies que já estão sofrendo os efeitos do aquecimento?
Dentre as espécies mais famosas, o elefante africano é aquela que corre mais risco. E por um cálculo matemático simples: a diminuição das áreas onde podem encontrar comida e água é cruel para uma espécie que chega a consumir 300 quilos de vegetais e 100 litros de água por dia.

Encontrar água demais é o problema que pode riscar do mapa os ursos-polares. Com a diminuição da cobertura de gelo, aumenta a distância entre as áreas em que eles podem emergir. Apesar de exímios nadadores, eles não são muito resistentes. E acabam morrendo afogados.

Habitantes do planeta há mais de 350 milhões de anos, os anfíbios estão em perigo mais iminente ainda. Calcula-se que, com o aquecimento global, um terço das 5.743 espécies conhecidas estão em grande perigo de desaparecer. Além disso, há 26 espécies de pássaros - entre eles o ganso-de-peito-vermelho, que vive no Ártico - ameaçadas de extinção.

Debaixo d'água, recifes de coral no Caribe e no Pacífico Sul estão morrendo, enquanto os recém-descobertos corais de água fria, no norte, não sobreviverão ao século. Isso é devastador para toda a vida marinha. As elevadas temperaturas também estão liquidando partes da Grande Barreira de Coral na Austrália, a maior formação desse tipo no mundo.

Os cientistas investigam o alcance da descoloração dos corais. Até 98% da Grande Barreira foram afectados, informa o Instituto Australiano de Ciências Marinhas.

26) Os organismos nos oceanos afectam o aquecimento global?
Sim, e no bom sentido. Depois que se dissolvem na superfície da água, partículas de CO2 são absorvidas por plâncton e outros organismos marinhos. Depois, são transformadas em compostos orgânicos.

27) Os efeitos do aquecimento são sentidos de maneira uniforme pelo planeta?
Não. Algumas simulações mostram diferenças em determinadas regiões. Isso se deve ao fato de vários fenómenos se combinarem e formarem padrões circulares que se alteram repentinamente. Mas, numa análise mais geral, o aquecimento torna as áreas litorâneas mais húmidas e os interiores dos continentes mais secos.

28) Há metrópoles que correm risco de desaparecimento?
Sumiço completo seria um exagero cravar, mas aquelas cidades próximas ao nível do mar terão várias partes inundadas, ainda neste século, caso as estimativas mais pessimistas se confirmem. Rio de Janeiro, Nova York, Tóquio e Xangai fazem parte desse grupo de risco.

29) A que riscos a saúde humana fica sujeita com o aquecimento?
O maior deles decorre do aumento do hábitat para mosquitos transmissores de doenças como dengue e malária. Há também o risco de as pessoas morrerem pela acção directa do calor - como na Europa, há dois anos, quando a elevação da temperatura matou 30 mil pessoas - ou em decorrência de doenças transmitidas pela água poluída de inundações.

30) Com tecnologias ecologicamente incorrectas, Índia e China estão virando potências produtivas. Isso ameaça a estratégia para diminuir as emissões?
Nas previsões mais pessimistas, até 2020 a China deve deixar de ser vice e subir ao topo do pódio entre os campeões de emissões de gases-estufa. Mas tem gente trabalhando para que a coisa não degringole.
Sabendo que a economia do país depende demais da energia gerada pelo carvão, o Centro de Pesquisa de Energias Limpas de Tsinghua inventou um sistema chamado poligeração. Por meio dele, o carvão é convertido em um limpo e gasoso combustível. O método ainda é mais caro que a simples queima do mineral, mas os cientistas esperam seduzir o governo para subsidiar uma planta de demonstração das virtudes do processo.

A Índia está mais preocupada com o ar respirado em cidades como Nova Délhi, que recebe 500 novos carros diariamente. Por isso, a cidade abriga projectos para que ônibus e táxis usem o gás. Tomara que resolvam logo isso, pois calcula-se que o nível de emissões do país, que já é alto, pode subir até 70% por volta de 2025.
31) Como ainda temos Invernos tão frios, apesar do aquecimento?
É justamente aqui que reside a argumentação dos cépticos. Como um grauzinho a mais em um século pode gerar preocupação se, num único dia, a temperatura varia bem mais? Se alguém vier com esse papo, contra-ataque dizendo que, ok, os Invernos continuam frios, mas não o suficiente para manter as geleiras.

32) O aquecimento produzido pelo homem não está livrando o planeta de uma próxima era glacial?
Segundo estudos da Universidade da Virgínia (EUA), as atividades humanas nos últimos 5 mil anos atrasaram o início da próxima era glacial.As eras glaciais são períodos que ocorrem periódica e naturalmente na história do planeta. Cai a concentração de gases do efeito estufa e uma boa parte da superfície terrestre é coberta por gelo. A última terminou há 10 mil anos. Ninguém sabe quais serão as conseqüências de seu atraso para a Terra.

33) Por que, mesmo com tanto degelo, o abastecimento de água corre riscos?
O exemplo da passagem do furacão Katrina por Nova Orleans ajuda a entender a coisa. As águas do rio Mississippi inundaram a cidade e fizeram os reservatórios de água e o esgoto virarem uma coisa só. Com o degelo, muitas cidades podem passar por problema parecido. E a população iria morrer de sede em frente a um mar (de lama e coliformes, no caso).

34) O homem passou a influenciar o clima só depois da Revolução Industrial?
Um estudo de William Ruddiman, professor de ciências ambientais da Universidade da Virgínia, sugere que o homem começou a emitir quantidades significativas de gases-estufa há pelo menos oito milénios. Isso se deveu ao desmatamento e à irrigação de áreas cultiváveis.

35) O que estabelece o Protocolo de Kyoto? Estamos cumprindo o combinado?
Adotado durante a COP 3 (Conferência das Partes) em 1997, o Protocolo fixou uma redução global de pelo menos 5,2%, em relação ao que era emitido em 1990, a ser atingida no período de 2008 a 2012, pelos países que mais emitem dióxido de carbono. Essa meta representa, aproximadamente, uma redução mundial nas emissões de 200 milhões de toneladas de CO2 por ano.
O Brasil ocupa a 15ª posição entre os maiores poluidores, o que nos deixa fora do clube dos países obrigados a diminuir as suas emissões. Para ter uma ideia, EUA, Japão e França emitem, respectivamente, 19, 8,8 e 6,3 toneladas per capita de CO2 por ano, enquanto o Brasil manda só 1,4.

36) Por que algumas nações não assinaram o Protocolo de Kyoto?
Países como EUA, Austrália e Canadá alegaram que apenas os ricos e industrializados seriam obrigados a diminuir as suas emissões, enquanto os em desenvolvimento continuariam a ver as suas chaminés activas e operantes. Bastam dois números para tirar força dessa tese: com apenas 5% da população mundial, os EUA são responsáveis por 25% das emissões de gases causadores do efeito estufa.

37) A onda de fortes furacões no Hemisfério Norte e ciclones extra-tropicais na Austrália e na América do Sul, que vêm acontecendo desde o final dos anos 1990, tem a ver com o aquecimento global ou faz parte de um ciclo natural?
É quase certo que é fruto do aquecimento. De 1970 para cá, as águas dos oceanos tiveram a sua temperatura elevada em 0,8 ºC. E água mais quente é o combustível perfeito para a formação de tufões e furacões.

Um estudo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Georgia, EUA, mostra que, nos últimos 35 anos, o número de furacões de categoria 4 ou 5 (o Katrina se enquadra nesta última) praticamente dobrou. Além disso, a força e a duração dos fenômenos ficaram 50% maiores.

38) A destruição da camada de ozónio influencia o aquecimento global ou são fenómenos independentes?
Na verdade, o risco é acontecer exactamente o contrário. O aquecimento pode levar ao enfraquecimento da camada de ozónio (que protege a Terra contra os raios nocivos do Sol). Isso porque, enquanto a temperatura na superfície sobe, a estratosfera esfria, o que torna mais lenta a recuperação da camada. Um estudo da Nasa aponta que, em 2030, as mudanças climáticas devem superar os CFCs (clorofluorcarbonos) como principais responsáveis pela destruição do ozónio.

39) É verdade que os substitutos dos clorofluorcarbonos (CFCs) podem potencializar o aquecimento global?
No mês passado, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apresentou um estudo que responde afirmativamente a essa pergunta. Pouco nocivos à camada de ozónio, hidrofluorcarbonos (HFC), hidroclorofluorcarbonos (HCFC) e perfluorcarbonos (PFC) são poderosos gases de efeito estufa.

40) Podem surgir novas doenças humanas em decorrência do aquecimento?
Por enquanto, não há nenhuma evidência de que isso possa ocorrer.

41) Pode haver migração de doenças endémicas de um lugar para outro?
Com o planeta mais aquecido, insectos que vivem em áreas tropicais encontram um hábitat favorável mais ao norte, o que pode levar doenças como dengue e malária até a Europa e os Estados Unidos.
42) Doenças erradicadas podem voltar a contaminar e a matar?
Sim. A proliferação de algas é favorecida pelo aquecimento, o que cria hábitats, por exemplo, para os transmissores da cólera, mesmo em locais que hoje não registram a doença.

43) A tecnologia pode ajudar?
Os cientistas trabalham hoje mais nas causas do que nas consequências, ou seja, desenvolvem meios para diminuir a participação humana no aquecimento global. Entre as ideias já em uso, você deve ter ouvido falar de motores híbridos e combustíveis não poluentes.

As novidades mais recentes vêm do Japão, onde foi criado um sistema mais eficiente de bombeamento de dióxido de carbono para o mar, a uma profundidade de até 3 km. Outra ideia vinda da terra do Sol nascente é a elaboração de um mecanismo para promover fotossínteses artificiais.

44) No caso do aquecimento, os EUA estão usando tácticas parecidas com as pesquisas encomendadas da indústria do tabaco - para provar que cigarro não faz mal à saúde - ou a alegação da existência de armas químicas no Iraque?
"Alguns dos mesmos cientistas que tomaram dinheiro para justificar os interesses das companhias de tabaco agora estão recebendo das indústrias de petróleo e carvão, para participar da estratégia de mostrar que o aquecimento não é real", disse o ex-vice-presidente americano Al Gore. Você pode dizer que isso é discurso de político. Bom argumento, levando-se em consideração que o homem é candidato à sucessão de George Bush no ano que vem. Mas gente como George Clooney e Julia Roberts engrossam o coro.

Mais uma vez, você pode dizer que lugar de artista é no palco. Então aqui vai o golpe de misericórdia: O doutor James E. Hansen, director e maior especialista em clima do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa, usou a ciência para mostrar o quanto o termómetro terrestre está prestes a entrar em erupção. Por conta disso, foi perseguido pela administração Bush, que, em vez do cientista, conta com o escritor Michael Crichton para corroborar as suas teses.

45) O processo de derretimento do gelo é humanamente reversível?
Com a tecnologia actual, muito pouco pode ser feito. Mesmo que, de um dia para o outro, a energia eólica passasse a ser usada em escala global, os efeitos dessa diminuição de emissões seria próximo de zero.

46) Como fica a economia mundial?
Com a produção agropecuária comprometida, dá para esperar um aumento generalizado de preços. Estarão bem os países que conseguirem livrar seu território da desertificação e criar um sistema de geração de energia limpa. O petróleo deve perder para a água a condição de bem mais desejado do planeta.

47) É possível que nações passem a brigar por comida, água limpa ou energia?
É bem provável. Por enquanto, a disputa começa apenas por território. Os 11 mil habitantes do ameaçado arquipélago de Tuvalu devem ser mandados para a Nova Zelândia. Na medida em que essas migrações em massa se intensificarem, é quase certo que a solidariedade dará espaço à luta pela sobrevivência. E aí passa a valer a lei do mais forte. Ou mais bem armado.

48) O que o governo pode fazer?
Desenvolver uma política energética que contemple a qualidade do ar e o efeito estufa, sem deixar de lado a competitividade económica. Reduzir a emissão de dióxido de carbono por meio da conservação de energia e do aproveitamento de fontes alternativas. Incentivar e premiar as empresas que diminuam as suas emissões.

49) O que eu posso fazer?
Em primeiro lugar, mantenha o seu carro revisado regularmente. Melhor ainda, sempre que possível, opte pelo transporte público, vá de bicicleta ou caminhe. Evite manter luzes desnecessariamente ligadas e procure adquirir aparelhos que optimizem o consumo de energia. Crie seu próprio ecossistema e plante o maior número de árvores que puder. Por fim, faça aumentar em seu prato a quantidade de grãos, vegetais e frutas e diminua a de produtos de origem animal. Estes últimos requerem mais energia para serem produzidos.

50) Quão preocupado eu devo ficar?
Depende do tanto de sorte que você julga ter.

Sem comentários: