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quarta-feira, maio 04, 2011

IV Congresso Nacional das Cidades Educadoras

IV Congresso Nacional das Cidades Educadoras

PROGRAMA
DIA 5 DE MAIO
 
08.30
 Registo

09.15-10.00
Sessão de Abertura
(Auditório Agostinho da Silva)

Grupo de Violinos – Agrupamento de Escolas Fernando Pessoa                           

Reitor da Universidade Lusófona – Mário C. Moutinho
Presidente Delegada da AICE/Secretária Geral da AICE – Pilar Figueras
Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa -  Simonetta Luz Afonso
Vereador do Pelouro do Ambiente da CML – José Sá Fernandes
Vereador do Pelouro da Educação da CML - Manuel Brito

10.00-11.25
1ª Conferência Plenária “A Cidade Educadora e o Ambiente - Problemática Global, Respostas Locais
(Auditório Agostinho da Silva)

Conferencistas
 Pilar Figueras
Secretária Geral da Associação Internacional das Cidades Educadoras, desde a sua criação.
Mestre em Música e Psicologia, Professora Titular na Universidade Autónoma de Barcelona.
Directora do Conservatório de Música de Barcelona.

António Teodoro
Doutor e Mestre em Ciências da Educação.
Licenciado em Educação Física pelo (INEF).
Professor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa onde é Director da Licenciatura de Ciências da Educação, do Mestrado e do Doutoramento na mesma área científica.
Director da Unidade de Investigação Observatório de Políticas de Educação e de Contextos Educativos, na Universidade Lusófona.

Gonçalo Ribeiro Telles
Professor Arquitecto Paisagista.
Foi professor catedrático convidado da Universidade de Évora, e criou as licenciaturas em Arquitectura Paisagista e Engenharia Biofísica.


Moderador:
Maria de Lurdes M. Rabaça Gaspar
Licenciada em Serviço Social e Filosofia
Membro técnico do Comité Executivo da Associação Internacional das Cidades Educadoras.
Técnica Superior da CML – Gabinete Lisboa Cidade Educadora

11.25-12.00
Pausa para Café
Desfile Ecológico

12.00-13.30
Painel Temático 1 “Estratégia Energético Ambiental das Cidades”
Sala (b)

Moderador
José Manuel Viegas
Professor catedrático em Transportes do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do Instituto Superior Técnico.
Presidente do Conselho de Administração da TIS.pt, Transportes, Inovação e Sistemas, s.a.
Membro do Conselho Científico e de Orientação do “Institut pour la Ville en Mouvement”, Paris, desde a sua fundação em 2000.

Relator
Francisco Ferreira
Doutorado em Engenharia do Ambiente na FCT/UNL.
Assistente do Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente na FCT/UNL onde é Professor Auxiliar.
Vice-Presidente da Quercus.
Membro do Conselho Nacional da Água

Debate

12.00-13.30
Painel Temático 2 “A Educação para o Desenvolvimento Sustentável”
Sala (b)

Moderador
Manuel Gomes
Doutorando em Educação para o Desenvolvimento Sustentável.
Licenciado em Geografia, com Mestrado em Educação Ambiental.
Investigador no Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa
Assessor do Conselho Nacional de Educação
Presidente da Associação CIDDADS (Centro de Informação, Divulgação e Acção para o Ambiente e Desenvolvimento Sustentável


Relator
Maria Elisabete Ascensão
Vice-Presidente da SEPA; Coordenadora da Rede Portuguesa de Educação Ambiental de Água e Rios

Debate

13.30
 Almoço

14.30-16.00
Painel Temático 3 “A Participação Cidadã na Construção de Cidades Ecológicas
Sala (b) 
Moderador
Duarte Mata
Arquitecto Paisagista pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.
Investigador na área da mobilidade suave, designadamente na integração da bicicleta nos mecanismos de planeamento ambiental
Colabora no Gabinete do Vereador dos Espaços Verdes da Câmara Municipal de Lisboa.

Relator
José Manuel Pereira
 Licenciado em Educação Física e Desporto, pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa.
Licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Mestre em Gestão do Desporto, pela Faculdade de Motricidade Humana da UTL 
Debate

14.30-16.00
Painel Temático 4 “Agir pela Biodiversidade
Sala (b)

Moderador
Maria da Luz Mathias
Doutorada em Ecologia e Sistemática pela Faculdade de Ciências da Univ. de Lisboa e tem o título de Agregada em Zoologia e Antropologia da mesma Universidade. Professora Catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no Departamento de Biologia Animal.
Investigadora do Centro de Estudos Ambientais e responsável pelo grupo de investigação em Biologia da Adaptação e Processos Ecológicos, no mesmo Centro.


Relator
Ana Paula Teixeira
Licenciada em Química pela FC/UNL. Mestre em Engenharia e Gestão de Tecnologia do Ambiente.
Mestre em Engenharia e Gestão de Tecnologia Ambiente, pelo IST e Curso de pós-graduação, PAEGEA – Programa Avançado de Economia e Gestão de Empresas de serviços de Águas pela Universidade Católica
 Responsável pelo Subsistema de Beirolas/Estação de Tratamento de Águas Residuais da SimTejo .
Debate

16.15
Pausa para Café

16.30-18.30
Mesa Redonda com Autarcas Portugueses representantes da Rede Territorial Portuguesa e Representante da Rede Estatal Espanhola/Barcelona, sob o tema “A Vivência local  das problemáticas ambientais – Propostas de Intervenção numa Cidade Educadora”
(Auditório Agostinho da Silva)

Almada – António Matos
Azambuja – Ana Pereira
Évora -  Cláudia Sousa Pereira
Lisboa – Manuel Brito
Paredes – Pedro Dinis Mendes
Stª Maria da Feira – Cristina Tenreiro
Torres Novas – Manuela Pinheiro
Reunião da Rede Territorial Portuguesa (a confirmar)
  
DIA 6 DE MAIO

09.15-10.45
Painel Temático 3 “A Participação Cidadã na Construção de Cidades Ecológicas”
Sala (b)

Moderador
Veríssimo Pires
Licenciado em Ciências Político-Sociais pelo ISCSP/UTL.
Pós-Graduado em Educação Ambiental pela Universidade Católica
Chefe de Divisão de Sensibilização e Educação Sanitária/DHURS/CML

Relator
Cecília Melo Pereira
Licenciada em Gestão.           
Chefe de Divisão de Planeamento e Controlo Financeiro/CML –
Membro da Equipe do Orçamento Participativo

Debate

09.15-10.45
Painel Temático 4 “Agir pela Biodiversidade”
Sala (b)

Moderador
Rui Queiroz
Engenheiro Silvicultor
Autoridade Florestal Nacional

Relator
Fernando Louro Alves
Engenheiro Silvicultor na especialidade de Recursos Naturais e Pós-Graduado com o Curso de Mestrado em Planeamento Regional e Urbano.
 Engenheiro Assessor da CML. Coordenador do Sector Arvoredo – Divisão de Jardins/DAEV/CML
Debate 
10.45
Pausa para Café. Filmes Temáticos
Apresentação de Experiências em Espaço Poster


11.15-13.00
2ª Conferência Plenária – Filme “Um Grau faz a Diferença”
  Filme Comentado – Prémio especial do Júri da Organização do Festival Cine’Eco
  (Auditório Agostinho da Silva)
Conferencista
Fernando Carvalho Rodrigues
Licenciado em Física.
Doutorado em Engenharia Electrónica pela Universidade de Liverpool.
Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico, Coordenador do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial e Director da Faculdade de Tecnologia da Universidade Independente m Lisboa.
Conhecido como o “pai” do satélite português, sendo o responsável máximo pelo consórcio PoSAT que constituiu e lançou o primeiro satélite português em 1993.

Moderador
Lauro António
Licenciado em História.
Cineasta, realizador, ensaísta e documentarista.

13.00
Almoço

14.30-17.00
Visitas Temáticas

Parque Florestal de Monsanto
Marinha do Tejo
Natura Towers
Centro de Triagem e Ecocentro de Lisboa/Valorsul, com demonstração de actividades lúdico-pedagógicas/DHURS
Equipamento com recuperação energética (Escola do 1º Ciclo EB / Bairro Social da CML)

19.30
Jantar Oficial do Congresso – Museu da Cidade
Orquestra Geração
 
DIA 7 DE MAIO

09.15-10.30
3ª Conferência Plenária “Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável”
(Auditório Agostinho da Silva)

Conferencistas

Ângela Lobo
Licenciatura em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico e parte escolar do Mestrado em Políticas, Planeamento e Economia de Energia pelo ISEG/IST.

Adília Lopes
Licenciada em Direito.
Secretária Executiva do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS).

Tiago Farias
Licenciatura em Engenharia. Professor do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico.
Coordenador da DTEA- equipa de Investigação em Transportes, Energia e Ambiente do Instituto de Engenharia Mecânica do IST.
Desenvolve investigação na área das energias alternativas nos transportes (combustíveis e sistemas de propulsão) .É responsável pela disciplina “Energias nos Transportes”.
É vogal do Conselho de Administração da EMEL, e membro das Direcções da APVE (Associação Portuguesa para o Veículo Eléctrico) e da ANEPE (Associação Nacional de Empresas de Parques de Estacionamento).    

Moderador
Maria Santos
Formação em História.
Professora na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal.
Administradora da Lisboa-E-Nova.
Co-fundadora e Presidente da INTERBIO - Associação Interprofissional de Agricultura Biológica
Deputada Honorária do Parlamento Europeu.

10.30
Pausa para Café


10.45-12.15
Painel Temático 1 “Estratégia Energético-Ambiental das Cidades
Sala (b)

Moderador
Miguel Águas
Doutorando em Engenharia Mecânica do IST
Professor Convidado no IST com actividade docente pós-graduação em Sistemas Sustentáveis de Energia.
Coordenador da fileira de Eficiência Energética no Pólo da Competitividade e Tecnologia da Energia. Director Técnico nos projectos que a Agência Lisboa-E-Nova desenvolve, sendo igualmente responsável pelo controle financeiro da Agência.

Relator
Teresa Cardoso
Licenciada em Engenharia Electrotécnica - Instituto Superior Técnico de Lisboa
Directora do Departamento de Construção e Conservação de Instalações Eléctricas e Mecânicas da Câmara Municipal de Lisboa
Coordenadora do grupo de trabalho para a elaboração e revisão do contrato de Concessão de Energia Eléctrica à EDP actualmente em vigor.

Debate

10.45-12.15
Painel Temático 2 “A Educação para o Desenvolvimento Sustentável
Sala (b)

Moderador
Cristina Gomes Ferreira
Licenciada em Geografia variante de Planeamento Regional e Local pela Universidade Clássica de Lisboa e Formação Educacional da Faculdade de Letras de Lisboa.
Chefe de Divisão de Educação e Sensibilização Ambiental da Câmara Municipal de Lisboa. 

Relator
Elizabeth Silva
Licenciada em Relações Internacionais.
Responsável na UNESCO pelo Sector da Ciência.
Ponto Focal na Comissão Nacional da UNESCO para a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável.

Debate



12.20-13.20
Conclusões e Sessão de Encerramento
(Auditório Agostinho da Silva)

Ministério do Ambiente- representado pela  SubDirectora da   Agência Portuguesa do Ambiente (APA) - Anabela Trindade
Ministério da Agricultura- representado pela Assessora do Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural e Ponto Focal do Ano Internacional das Florestas –Isabel Barão da Cunha
Comissão Permanente de Ambiente Mobilidade e Qualidade da Vida - Assembleia Municipal de Lisboa – José Maximiano Almeida Leitão
Comissão Permanente de Cultura, Educação, Juventude e Desporto - Assembleia Municipal de Lisboa – Maria Luísa Vicente Mendes
Vereador do Pelouro da Educação – Manuel Brito

Permallets Associação Cultural (Orquestra de Jovens)

Percurso Pedestre Urbano / Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal   

sábado, junho 27, 2009

YANN ARTHUS-BERTRAND E "HOME"

:
Yann Arthus-Bertrand
Yann Arthus-Bertrand, o autor de “Home”, era mais conhecido até há bem pouco tempo como fotógrafo e repórter do que como realizador, apesar de ter assinado uma série de certo renome: “La Terre vue du Ciel”. Nascido em Paris a 13 de Março de 1946, Yann Arthus-Bertrand descende de uma família bem instalada na vida, possuindo um reputado negócio de joalheiros medalhistas, a casa Arthus-Bertrand, fundada por Claude Arthus-Bertrand e Michel-Ange Marion. Mas terá sido através da sua irmã, Catherine, entusiasta da natureza e dos animais, que Yann Arthus-Bertrand se começou a interessar pela ecologia.
Aos 17 anos, em 1963, torna-se assistente de realização, depois actor (em filmes como “Dis-moi qui Tuer”, de Étienne Périer, 1965, e “OSS 117 Prend des Vacances”, de Pierre Kalfon, 1970). Em 1967, passa a dirigir uma reserva natural de animais no centro da França, no “Parque de Château de Saint-Augustin”, em Château-sur-Allier. Em 1976, com 30 anos, parte para o Quénia, com a mulher, Anne, passando ambos a viver no parque nacional “Massaï Mara”, juntamente com os Masaïs, aproveitando para estudar o comportamento de uma família de leões que fotografa todos os dias durante três anos, trabalho que estará na base do seu álbum “Lions”, publicado em 1983, no seu regresso a França. Foi a partir daqui que se apaixonou pela natureza e a sua relação com a imagem. É disputado como repórter fotográfico, quer se trate de grandes reportagens internacionais sobre aventura, desporto, natureza, animais, ou fotografia aérea, no que irá especializar-se. Trabalha sobretudo para o “Paris Match” e “Géo”. Cobre dez dos rallies Paris-Dakar, e é ele que organiza anualmente o livro do torneio de Roland-Garros. Fotografa o Salão de Agricultura de Paris ou colabora com pesquisadores da natureza como Dian Fossey e os seus gorilas das montanhas do Ruanda.
Em 1991, cria a agência “Altitude”, que inicia um banco de imagens de fotografias aéreas único no mundo, com cerca de 100 fotógrafos a sobrevoarem centenas de países, recolhendo mais de 500 000 imagens. Três anos depois lança-se na sua primeira grande aventura, efectuar um trabalho de fundo sobre o estado do planeta, mostrando as belezas da Terra e alertando para os perigos que esta corre. O projecto, que contou com o apoio da Unesco, dará origem a um álbum com mais de 3 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo (em 24 línguas), e a uma série de televisão, ambos com o mesmo título: “La Terre Vue du Ciel”, Pretendeu com esta iniciativa, “testemunhar a beleza do mundo e tentar proteger a Terra.” Outra das componentes deste projecto foi uma exposição, de visita gratuita e apresentada ao ar livre, que iniciou o seu trajecto através do mundo, em 2000, nos jardins do Luxemburgo, e já viajou por mais de 110 cidades, contando com 120 milhões de visitantes.
Em Julho de 2005, Yann Arthus-Bertrand cria a associação ecologista “GoodPlanet”, que acciona o plano “Action carbono”, destinado a compensar as emissões de gás libertadas pela actividade de fotógrafo aéreo. O programa alargou-se depois para outros públicos e empresas, procurando todos minimizar o efeito da sua actividade no clima, procurando energias renováveis, lutar contra a desflorestação e outras ameaças muito concretas.
O objectivo primeiro da associação é colocar “a ecologia e o ambiente no coração das consciências”, o que a leva a criar novos desafios: distribuição gratuita por todas as escolas de França de cartazes sobre temas relacionados com o ambiente (em 2006, o desenvolvimento sustentável, em 2007, a biodiversidade, em 20, a energia), uma exposição vídeo “6 Milliards d'Autres”, estreada no Grand Palais, com cerca de 5 000 vídeos rodados no mundo inteiro, onde pessoas muito diferentes falam de temas universais, como a alegria, a dor, a vida, a morte, o amor, o ódio, etc.; “Vivants”, uma exposição itinerante, com mais de 100 imagens de animais, acompanhadas de legendas que explicam o impacto do homem sobre a natureza; sites informativos, actividades para jovens, etc.
Em 2006, roda “Vu du Ciel”, uma série documental, que passou na France 2, em episódios de hora e meia, abordando temas diferentes. Nesse mesmo ano, nas edições “La Martinère”, sai o album “L'Algérie vue du ciel”, obra que o autor considera uma das mais conseguidas da sua carreira.
Home
A rodagem de “Home”, primeira longa-metragem de Yann Arthus-Bertrand, durou dezoito meses, iniciando-se em 2007. Nessa altura chamava-se “Boomerang”. Produzido pelo cineasta e produtor francês Luc Besson (também ele desde sempre preocupado com questões ambientais, vejam-se os seus filmes “O Último Combate” ou “O Grande Azul”), “Home” foi financiado integralmente pelo grupo francês PPR (que detém marcas como a Fnac e a Conforama) e estreado mundialmente no dia 5 de Junho, Dia Mundial do Ambiente, uma organização das Nações Unidas, que se comemora desde 1972. Nesse dia foi exibido numa versão de 90 minutos no canal de televisão francês “France 2”, às 20h35 e, logo a seguir, em versão alargada, em Paris, no “Champ de Mars”, e em muitas outras cidades. Sempre com entrada gratuita. O filme também foi exibido em simultâneo em todo o mundo e distribuído gratuitamente, tanto no cinema, como em DVDs, e na internet (sendo permitido legalmente fazer o download da obra). Foi a primeira vez na história que um acontecimento deste género ocorreu, demonstrando bem a intenção de sensibilizar todos os cidadãos do planeta para os problemas que o mesmo defronta. No jornal “Público”, que em Portugal se associou ao lançamento do DVD, podiam ler-se palavras de Yan Arthus-Bertrand: “Vivemos tempos excepcionais. Os cientistas dizem-nos que temos dez anos para alterar a forma como vivemos, para evitar o esgotamento dos recursos naturais e a catastrófica evolução do clima terrestre.” (excerto de um comentário divulgado no site do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnua). E continuava: “O documentário apela para uma nova consciência, convidando o espectador a parar por um momento e olhar para o nosso planeta, para os seus tesouros e beleza…”.
Na verdade assim é. Em cerca de duas horas de projecção (versão do DVD) assistimos a uma deslumbrante panorâmica aérea sobre mais de meia centena de países do mundo (54 para ser mais preciso), onde as imagens de uma beleza por vezes sufocante se cruzam com outras profundamente inquietantes, sublinhadas por um comentário que vai alertando para os desafios que temos pela frente: o nosso planeta está gravemente doente, ferido de forma dramática, exaurido nos seus recursos essenciais, ameaçado pelo aquecimento global, os ecossistemas em perigo, acossada a harmonia da vida natural, as grandes cidades transformadas em gigantescas metrópoles sem qualidade de vida, a água a ser disputada como bem essencial rarefeito, o petróleo e o carvão a multiplicarem guerras e cobiças, à medida que se tornam cada vez mais caros.
O filme começa por evocar a formação da Terra, referindo que há vida neste planeta há quatro milhares de milhões de anos e só existem humanos há duzentos mil anos. Jogando com imagens (obviamente) actuais, o filme procura restituir a ambiência desses tempos primordiais. Numa perspectiva muito darwineana, fornece elementos para a cadeia evolucionista, desde o caos de uma bola de fogo, até ao milagre do aparecimento da vida na Terra, a origem das plantas, dos insectos, dos animais, do primeiro homem. A vida do homem vista como apenas um elo entre diversos. Os humanos que moldam a Terra à sua imagem, com tudo o que isso representa de extraordinário, mas também de perigoso. A agricultura é ainda hoje o labor dominante, metade da humanidade emprega-se nessa actividade, ¾ da qual ocupa-se da agricultura manualmente.
Aborda-se então, ainda que genericamente, o caso da energia retirada do solo, petróleo, gás ou carvão. A explosão demográfica impõe um ritmo de exploração suicida. Em 30 anos, em Xangai construíram-se 3.00 arranha-céus. As cidades consomem cada vez mais carvão, petróleo, electricidade. O petróleo tem um poder revolucionário. Cidades como Nova Iorque ou Tóquio documentam-no. Mas também a agricultura – 35 % da agricultura da Terra é realizada através de tractores. Para assegurar energia, mais energia, os cereais deixam de ser só consumidos pelos humanos, passam a gerar biocombustíveis (e alimentos para o gado).
O que representa um avanço tecnológico por um lado, é uma ameaça pelo outro: a água consumida pela agricultura é cada vez mais, os parasitas são combatidos pelos pesticidas, tornam as colheitas mais férteis, maiores, mas criam excedentes, e esses mesmos pesticidas são tóxicos e prejudiciais para o homem. As monoculturas (sobretudo soja) tornam-se mais rentáveis, mas extinguem a biodiversidade (3/4 das variedades da flora desapareceram).
O consumo da carne multiplica-se pelo mundo. A pecuária industrializa-se a extremos, criando verdadeiros campos de concentração onde os animais são criados, sem verem durante toda a sua vida um centímetro de verdura. Com outras agravantes: para produzir um quilo de carne são necessários 13.000 litros de água.
Mas uma vez a biodiversidade em perigo. A dependência do petróleo é manifesta, mas o petróleo barato acabou. O automóvel é um símbolo do progresso. O sonho americano está bem sublinhado em Los Angeles, onde o número de carros é quase igual ao número de habitantes. As cidades tendem a uniformizar-se. Nos subúrbios das grandes metrópoles as casas, tipo vivendas, são iguais na América e em Pequim, onde a casa estilo pagode desaparece.
Os minérios são extraídos da Terra a uma velocidade impressionante. Cada vez mais e mais rápido. Nos próximos vinte anos, serão extraídos da terra mais minerais do que durante toda a História do Homem. Mas apenas 20% da população mundial irá usufruir desta regalia. Rapidamente também se esgotarão os recursos da Natureza. Os contentores atravessam os oceanos carregados de recursos. A globalização permite-o, impõe-no. O Dubai é um dos países do mundo com menos recursos naturais. Mas tem petróleo, e o dinheiro que o petróleo gera. Por isso são dos maiores construtores do mundo. Criam ilhas artificiais, promovem turismo de luxo, multiplicam arranha-céus no deserto. E esgotam a terra, não ali, no Dubai, mas algures, donde importam os materiais.
O ciclo de vida que nos foi oferecido pela Natureza está a ser transformado, destruído. A pesca industrial, as grandes frotas que utilizam o arrastão, vão despovoando os oceanos de peixe. As grandes espécies tendem a desaparecer. Há preocupantes sinais de esgotamento de recursos. As colónias de mamíferos ao longo das costas são cada vez mais pequenas, porque o alimento escasseia e impera a fome. As aves marinhas têm que percorrer cada vez maiores distâncias para se alimentarem. Os pequenos barcos ficam abandonados, porque os mares já não têm peixe.
Os recursos são cada vez mais escassos. A água tem um valor cada vez maior. No deserto dá-se valor à água, e vive-se de água fóssil, extraída de poços. Mas esta água não é renovável e esgota-se. Na Arábia Saudita percebe-se o drama. Apostou-se numa agricultura industrial no deserto, irrigada pela água fóssil. O esgotamento provocou o abandono dos terrenos.
O rio Jordão, outrora um grande rio, é agora um riacho. Um em cada dez grandes rios já não desagua no mar. Perdeu caudal. O Mar Morto, que assim se chama por causa do seu elevado índice de salinidade, perde um metro de nível por ano, e concentra sal. Na Índia brotam palácios em lagos artificiais. Las Vegas é uma cidade construída sobre um deserto. Os seus habitantes são dos maiores consumidores de água em todo o mundo. Palm Spring e os seus campos de golfe consomem água de forma trágica. Tudo isto é uma miragem, afirma “Home” e pergunta até quando ela pode durar. Em 2025, as perspectivas apontam para dois mil milhões de pessoas vítimas de secas.
Os pântanos são essenciais ao equilíbrio da terra. Mas tendem igualmente a desaparecer. Bem como as florestas. Metade dos pântanos foi drenada. Pântanos e florestas são locais onde toda a matéria viva vive ligada entre si, mas ¾ da biodiversidade está ameaçada. Drenam-se os pântanos e derrubam-se florestas, porquê? Para construção, para fabricar papel, para monoculturas, para campos de concentração de gado. A Amazónia já foi reduzida em 20% da sua extensão, trocada por ranchos de gado, campos de soja (para alimentar gado ou aves exóticas, ou para biocombustível). A floresta transforma-se em carne. Muitas vezes incendeiam-se as florestas, libertando carbono em proporções inimagináveis, que vai provocar o aquecimento global, e o desaparecimento das espécies. Mas a desflorestação tem a ver sobretudo com as monoculturas. Não só a soja. Agora também o óleo de palma, utilizado na comida, mas também nos combustíveis e nos cosméticos. E na cultura intensiva do eucalipto, para alimentar de papel as rotativas de todo o mundo. “Home” prevê que nos próximos cinco anos se consuma cinco vezes mais papel. O cultivo do eucalipto consome imensa água, por outro lado, e liberta camadas tóxicas.
A vida das pessoas, apesar de toda essa ganância de uma vida insustentável, não é boa na maior parte do mundo. Vive-se em condições de extrema pobreza. Locais inóspitos, lixeiras com índices de poluição catastróficos. É necessário aproveitar a luz solar, as energias alternativas. Impedir que o dióxido de carbono se continue a libertar desta forma assassina. A calote de gelo nas regiões polares diminuiu 40%, iniciou-se o degelo no Árctico, criando icebergs, provocados pelo aquecimento. Estas alterações climatéricas têm consequências previsíveis: a água doce perde-se, aumenta a salinidade nos mares, a água do mar sobe, a harmonia quebra-se. As correntes de ar mudam, os ventos também. O que estará reservado à maioria das cidades que se localizam nas costas de todos os continentes, quando o nível dos mares subir? 70% da população mundial vive nas costas, junto ao mar. No Kilimanjaro, 70 % dos glaciares desaparecem. O Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo, será dos mais afectados.
Restam pouco mais de dez anos para se inverter esta situação e para não se saber o que é a vida na Terra como nunca a imaginámos. Não se pode deixar quebrar a ligação tradicional entre o ar, a água e a terra. Este equilíbrio é fundamental. E as desigualdades gritantes também. 20% da população mundial consome 80% dos recursos da Terra. Gasta-se doze vezes mais em armas do que em ajuda humanitária a países em desenvolvimento. Morrem todos os dias cinco mil pessoas com falta de água potável. Mil milhões de seres humanos morrem de fome no mundo. 50% dos cereais são para alimentar gado ou para biocombustíveis. 40% da terra arável esta degradada. 13 milhões de hectares de floresta desapareceram. ¾ das zonas de pesca do mundo estão esgotadas, reduzidas ou em risco. Os últimos quinze anos foram os que registaram uma temperatura média mais alta. Em quarenta anos, 40% da calote de gelo foi consumida. Em 2050 prevêem-se 200 milhões de refugiados devido a alterações climatéricas.
Apesar de toda esta onda de ameaças que nos batem à porta, ou que já entraram pela porta dentro, “Home” termina num clima de confiança: “É tarde demais para se ser pessimista”. E dá exemplos: multiplicam-se os parques naturais, estabelece-se a reflorestação, luta-se pela reciclagem, nalguns pontos impõe-se o abate selectivo de árvores, “a Costa Rica que acabou com o exército”, incentiva-se um comércio justo que proporcione um rendimento decente para todos, exploram-se novas fontes de energia, painéis solares, eólica, etc. É tarde demais para se ser pessimista. Ou seja, já se passou o tempo em que se podia ser pessimista. Temos que ser obrigatoriamente optimistas, lançar mãos à obra, e mudar o que há que mudar.
Tanto mais que o filme de Yann Arthus-Bertrand nos permite percorrer paisagens admiráveis de uma Terra que dá gosto habitar, usufruir, amar. Para que tais imagens se possam perpetuar no presente e no futuro, ao natural, e não apenas em bancos de imagens do passado, é necessário intervir, agir, testemunhar. O que a equipa comandada por Yann Arthus-Bertrand faz de forma equilibrada, inteligente, sensível, inquietante. O seu filme é nesse aspecto um modelo, que nem os críticos radicais, que lhe reprovam o facto de andar a filmar de helicóptero e a provocar libertação de carbono, conseguem empalidecer.
HOME
Título original: Home
Realização: Yann Arthus-Bertrand (França, 2009); Argumento: Isabelle Delannoy e Yann Arthus-Bertrand; Isabelle Delannoy, Tewfik Fares e Yann Arthus-Bertrand (comentário); Conselheiro científico: Bruno Anselme; Produção: Luc Besson, Denis Carot; Música: Armand Amar; Fotografia (cor): Michel Benjamin, Dominique Gentil; Fotografia aérea: Richard Brooks Burton; Montagem: Yen Le Van; Direcção de Produção: Courau Camille, Claude Canaple, Jean de Trégomain, Emmanuel Sajot, Sidonie Waserman, Fabiola Claz, Juliette Jacobs, Stéphanie Melo, Sandrine Vitali; Assistentes de realização: Laurence Guérault, Dorothée Martin, Thomas Sorrentino; Som: Thomas Gauder, Olivier Walczak; Efeitos visuais: Anita Lech Bedez, Bénédicte Hostache, Julien Imbert ; Companhias de produção: Elzévir Films, Europa Corp., France 2 (FR2); Intérpretes: Glenn Close (Narradora, no original); Duração: 95 minutos (versão curta) EUA:118 minutos (DVD) Portugal: 114 minutos (DVD) 120 minutos (versão longa); Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 6 anos; Estreia em Portugal: 5 de Junho de 2009.

quarta-feira, outubro 29, 2008

CINE ECO 2008 - AS OBRAS

UMA PANORÂMICA PESSOAL
Passadas as reuniões e tornadas públicas as deliberações dos diferentes júris do CineEco 2008, permito-me agora dar opinião sobre as minhas obras preferidas. Poderei dizer que todas as premidas se encontram entre as minhas eleitas, apesar de muitas das minhas eleitas não se encontrarem entre as premiadas. E mesmo entre estas, a ordem de preferência é, obviamente, diferente. Cada cabeça, sua sentença.
O meu Grande Prémio iria para "Um Sentimento Maravilhoso" (A Sense of Wonder), de Christopher Monger (E.U.A, 2008), que se ficou pelo prémio Camacho Costa. Julgo, porém, que por todas as razões e mais uma, esta era a minha obra preferida. Partindo de uma peça teatral, escrita e interpretada por Kaiulani Lee, que ao longo de dezasseis anos a fez viajar por todos os Estados Unidos e ainda passar por Inglaterra, Itália, Canadá, Japão, etc., “A Sense of Wonder” esboça os anos finais da vida de Rachel Carson, uma bióloga marinha e zoologista norte-americana, que seria rapidamente conhecida como “a patrona do movimento ambientalista”, depois de ter escrito, em 1962, um livro, “The Silent Spring”, onde alertava o mundo para os perigos dos pesticidas então em alarmante difusão. Mas se esta obra provocou as mais desencontradas reacções, algumas das quais levaram a autora a ter de se defender de várias graves acusações que provinham de políticos, industriais, cientistas ou jornalistas, e que depois se provaram falsas, obrigando os detractores a retratarem-se e vários pesticidas, como o DDT, a serem colocados fora do mercado, a veia poética de Rachel Carson assinalava igualmente um momento importante no deslumbramento da vida natural, com um sentimento maravilhoso para com a imensidão do mar e dos seres vivos que habitam o nosso planeta. Nos últimos anos de vida, Rachel Carson sofreu de um cancro que a viria a vitimar, sem no entanto a fazer perder o prazer da vida e o encanto pela natureza. Com base em textos da escritora, Kaiulani Lee baseou a sua peça em duas entrevistas que funcionam como um longo monólogo, onde aborda as peripécias mais marcantes da existência da escritora, e deixa a marca da sua visão poética da vida. A interpretação de Kaiulani Lee é notável, a sua dicção hipnótica, a fotografia de Haskell Wexler digna do mestre que sempre foi. Rodado na casa de campo de Rachel Carson do Maine, "Um Sentimento Maravilhoso" é uma obra magnifica, delicada e sensível por um lado, vibrante e teimosa na sua obstinação, apaixonante e poética no seu declarado amor pela natureza, dolorosa no seu confronto com a morte. Uma verdadeira lição da arte de viver de acordo com a natureza, sem demagogias nem tibiezas. "Em Construção" (Under Construction), do realizador chinês Zhenchen Liu (França, 2008), foi o grande vencedor do Cine'Eco 2008, pois ganhou o Grande Prémio do Júri Internacional e do Júri da Juventude. Unanimidade pois. Nascido em Xangai, em 1976, formado na Escola de Cinema de Xangai, agora freelancer em França e na China, Zhenchen Liu escreve, realiza, fotografa, sonoriza, monta “Under Construction”, dez minutos de prodigioso efeito técnico, um majestoso traveling (que atravessa ruas, edifícios, portas e janelas) sobre as ruínas de uma cidade em transformação: todos os anos, aqueles que planeiam o urbanismo das cidades chinesas decidem arrasar parte da antiga Xangai para renovar a metrópole. Anualmente também mais de cem mil famílias são forçadas a abandonar as suas casas e a mudarem-se para edifícios nos limites da cidade, com tudo o que essa transferência acarreta. O Júri da Lusofonia atribuiu o seu Grande Prémio a "Juruna, O Espírito da Floresta”, de Armando Sampaio Lacerda (Brasil, 2008). Mário Juruna foi, até hoje, o único índio indígena que conquistou o direito de representar seu povo no parlamento brasileiro. Através de uma aproximação desta personagem mítica que morreu não há muito, vítima de diabetes, Armando Lacerda investe, com emoção e sensibilidade, na acidentada história da própria comunidade dos índios Xavante no interior do Brasil, e bem assim de toda a população índia que ainda sobrevive, depois de tormentosos períodos de um quase genocídio anunciado. A longa-metragem, fotografada com a exuberância cromática que o tema requeria, trouxe de novo o cineasta a Seia, onde já havia exibido “Guerra do Contestado”, que fora prémio Campânula de Prata, no CineEco 2000, e “Janela para os Pirinéus”, Menção Honrosa, do Júri da Juventude.
O Júri Internacional atribuiu ainda os seguintes prémios: Prémio Educação Ambiental: "Desertos em Movimento - Europa" (Wüsten im Yormarsch - Europa), de Ingo Herbst, (Alemanha, 2007), uma análise do impacto das alterações climatéricas na paisagem europeia, que ameaça transformar algumas zonas, nomeadamente a Península Ibérica, em desertos que prolongam a geografia africana. “Portugal, Espanha, Itália e Grécia são quatro países da UE tão afectados que aderiram já à Convenção das Nações Unidas para o combate à desertificação. Mas não são só estes países mediterrânicos a sentirem os efeitos. Bulgária, Hungria, Moldávia, Roménia e a Rússia também deram sinais de desertificação e, na Ucrânia, 41% das terras agrícolas estão em risco de erosão. Em 2000, as Nações Unidas publicaram um relatório em que se declarava “as primeiras fases de séria degradação da terra estão a ser assinaladas em várias partes da Europa e 150 milhões de hectares estão em alto risco de erosão. A deterioração atingiu um nível crítico nos países do Mediterrâneo”, afirmam os responsáveis pelo bem documentado filme, que se integra numa série televisiva, da qual se podia ver ainda, no “Panorama Informativo”, “Desertos em Movimento – A Ásia”. O Júri das Extensões atribuiu igualmente o prémio "Cine'Eco em Movimento" a "Desertos em Movimento - Europa". A "Os Olhos Fechados da América Latina" (Los Ojos Cerrados de América Latina), de Miguel Mirra (Argentina, 2007) foi atribuído o prémio “Antropologia Ambiental”. A obra deste argentino resulta num libelo latino-americano contra a pilhagem do continente pelas multinacionais e o capitalismo desenfreado. Trata-se da análise de um modelo económico que devasta as relações sociais e o meio ambiente em vários países da América Latina, juntado para o efeito um coro de vozes representativas de todo o continente, que abordam temas como a mineração a céu aberto, a monocultura da soja, a depredação dos solos e florestas, a construção de barragens, a exploração desordenada do peixe, a produção de pasta de celulose, etc., colocando em evidencia a estreita relação entre o roubo dos recursos naturais, a poluição e o modelo de exploração multinacional. Muito inquietante é igualmente "Cemitérios Digitais" (Digital Cimiteries), de Yorgos Avgeropoulos (Grécia, 2007), que ganhou o prémio “Resíduos”. A sociedade actual está cada vez mais dependente da informática. São milhões os computadores que diariamente se abandonam no lixo. Para onde vão estes desperdícios electrónicos perigosíssimos, que devem ser reciclados obedecendo a especificações rígidas? A maior parte vai parar às mãos desprotegidas de chineses ávidos de trabalho que, por um dólar por dia, desmontam com as mãos nuas estes objectos altamente tóxicos e cancerígenos. Os países desenvolvidos, em vez de gerirem os próprios desperdícios electrónicos, acham que é mais barato exportá-los para as nações mais pobres, levando assim biliões de pessoas a escolher entre o envenenamento e a pobreza, enquanto os mares do planeta, rios, terra e ar vão sendo irreparavelmente contaminados. Mais de 50.000.000 toneladas da nossa “civilização digital” terminam ilegalmente na China, em cidades cemitérios. De computadores e de seres humanos. Quem fala aqui em direitos humanos? “Os chineses são muitos, ganham uma miséria, e estão longe. É com eles!” O prémio "Alerta" do Júri da Juventude foi igualmente para "Cemitérios Digitais", “pela consciencialização de uma problemática desconhecida da maioria da população mundial”. O Prémio Polis, foi para "O Estádio Verde" (Der Prater – Ein Wilde Geschichte), de Manfred Corrine (Áustria, 2007), que coloca um curioso problema: como harmonizar o ambiente natural com as necessidades da sociedade actual. Um dos estádios onde decorreu o Europeu de 2008, na Áustria, foi o Prater, situado no interior dos 6.000.000 m2 do pulmão verde de Viena, uma zona onde outrora se reunia a aristocracia para caçar, e onde hoje se cruzam os motociclistas e os praticantes de jogging, e onde, pelos prados, passeiam texugos, raposas e gamos, enquanto nas águas, os patos (vindos há muito da China para abastecer as caçadas locais) agora acasalam livremente. A vida floresce nos campos do Prater, cheios de boas surpresas, num ecosistema bem defendido. "Desenvolvimento Hidrográfico – Tratamento de Áreas em Sulcos" (Jalagam Vikas – Mitti Ke Bandh) de Pinky Brahma Choudhury, Shobhit Jain (Índia, 2007) triunfou na categoria “Água”, onde havia muitos e ons concorrentes. O filme descreve métodos simples e económicos para resolver o problema da água, que podem facilmente ser usados pela população local, utilizando os recursos naturais para a construção de diques e barragens. Esta abordagem constitui um novo paradigma de desenvolvimento que, não procurando controlar a natureza, surge naturalmente do solo, promovendo a regeneração ambiental, a segurança dos seres vivos e a autonomia dos povos. Excelente, um dos meus preferidos igualmente, que fora este ano Grande Prémio do FICA de Goiás, onde o vi pela primeira vez e onde o convidei para o Cine Eco, é “Jaglavak, Príncipe dos Insectos” (Jaglavak, Prince of Insects), by Jerôme Raynaud (França, 2007), uma obra que viaja até ao norte dos Camarões, às montanhas Mandaras, onde os Mofu vivem uma relação única com os insectos, compartilhando com eles as suas casas e culturas. Ultimamente, uma terrível seca atingiu a região e as térmitas, normalmente preciosos aliados dos Mofu, saíram dos campos e invadiram as cabanas e celeiros. Para se defenderem, os Mofu não têm outra opção senão apelar para Jaglavak, uma feroz formiga combatente com corpo de dragão, protegido por uma carapaça e armado com pinças temíveis que cortam e despedaçam tudo. O mais interessante no filme é essa associação que discretamente se vai estabelecendo entre a organização da vida comunitária de homens e insectos, numa perfeita harmonia e sincretismo. Na categoria “vídeo não profissional”, o Júri Internacional salientou uma obra de escola (Escola de Belas Artes de Genebra), "Não Há Terra para os Pinguins" (No Pinguin's Land), de Barelli Marcel, (Suíça, 2008), uma divertida mescla de animação e imagem real. Vitimas do aquecimento global que “secou” as neves dos pólos os pinguins emigram para terras que o turismo mostra como potenciais cenários de apetecíveis neves, os Alpes suíços. Mas a realidade é desconsoladora. Humor e imaginação, num filme muito engraçado. O Júri Internacional atribuiu ainda Menções Honrosas a dois outros títulos: "Os Profetas do Clima" (Die Wetterpropheten) de Christoph Felder (Alemanha, 2007), e "Correntes – Por Amor à Água" (Flow, for Love of Water) de Irena Salina (EUA, 2008), ambos particularmente interessantes, o primeiro como recolha de testemunhos de alguns chamados “profetas do tempo” que vivem nas montanhas da Suiça e prevêem o tempo através da observação directa de pequenos indícios deixados por animais e plantas. O filme é ainda um trabalho notável de antropologia ambiental, e um rigoroso exercício cinematográfico. Quanto a "Correntes – Por Amor à Água", trata-se de um perturbante inquérito a uma realidade cada vez mais dramática: as fontes dos nossos recursos estão a desaparecer de forma trágica, sendo a avareza a principal causa desta delapidação sem controlo. Para o Júri da Lusofonia houve ainda três Menções Honrosas, todas portuguesas: "A Luz dos Meus Dias", de Anabela Saint-Maurice (Portugal, 2008), retrato intimista e pudico de uma jovem de Santo Aleijo, Alentejo, a Ana Zé, que pesa 150 quilos, e venceu a timidez integrando um grupo de cantares alentejanos. Com o seu enorme físico, Ana Zé é uma pessoa “diferente” numa aldeia do sul de Portugal, marcada pela saudade de um tempo já extinto e pela desconfiança em relação ao futuro. Numa terra essencialmente machista, a mulher marca território e mostra-se afinal muito mais decisiva do que pode parecer inicialmente. Partindo de Ana Zé é uma panorâmica mais vasta a que Anabela Saint-Maurice nos oferece. "dot.com", de Luís Galvão Teles (Portugal, 2007), é uma comédia de cenário ambientalista, que procura, de certa forma, recuperar a tradição do popular humor português dos anos 30 e 40. Numa aldeia do Norte de Portugal, Santa Lúcia, Pedro, um jovem engenheiro de 27 anos, ali desterrado para construir uma estrada, cujo projecto é cancelado, vê-se envolvido numa estranha engrenagem, ao receber uma carta de uma multinacional, intimando-o a fechar o website da aldeia, por infracção à legislação de copyright, sob a ameaça de um pedido de indemnização de 500.00 euros. Mas o website foi criado em nome da Associação da Aldeia e só esta o pode fechar, o que não corresponde á vontade dos seus associados. “Se a multinacional quer o site, que o compre!”, eis a conclusão que vai movimentar os habotantes da aladeia e a comunicação social. Divertido e instrutivo. "A Grande Aventura", de Francisco Manso (Portugal, 2008), é mais um trabalho do autor na linha de outros que tiveram como centro os bacalhoeiros. A pesca do bacalhau é cada vez mais, nos dias de hoje, para os portugueses, uma referência cultural e memorial, tema forte de um certo imaginário português. Francisco Manso vai até á Gronelândia em busca de testemunhos e lembrança de um tempo passado. Um bom trabalho de recolha e inspiração. O Júri da Juventude atribuiu ainda o Prémio "Terra" a "Terras Feridas, Vidas de Dor" (Scarred Lands and Wounded Lives: The Envirommental Impact of War), de Alice T. Day e Lincoln H. Day (EUA, 2007), “pela sensibilização emergente da capacidade auto-destrutiva da natureza humana”. O filme é uma inquietante jornada por algumas das guerra em que ultimamente os norte-americanos se têm envolvido, desde o Vietname até ao Afeganistão ou o Iraque, mostrando a profunda dependência da vida natural e as importantes ameaças a que essa vida está sujeita devido a estas guerras e à sua preparação. Um documento impressionante que vale a pena ponderar devidamente. O Júri da Juventude concedeu igualmente uma Menção Honrosa a "The Women at Clayoquot"- "As Mulheres de Clayoquot" (Canadá, 2008) de Shelley Wine, magnifica reconstituição da luta das mulheres canadianas, nos anos 60, contra o abate da floresta tropical, naquela que ficou conhecida como a maior acção de desobediência civil na história do Canadá. Sem cair na deslocada toada feminista, o filme afirma-se sobretudo como história de um movimento cívico que teve repercussões até aos nossos dias. Finalmente, o Júri das Extensões, ainda concedeu uma Menção Honrosa a "O Fantasma”, de um colectivo de jovens dirigidos por Abi Feijó (Portugal, 2007), uma animação em plasticina que relata a história de um rio do Porto que se encontra entubado e em muito mau estado de conservação.
Revistas as obras premiadas pelos quatro júris do Cine Eco 2008, com as quais me solidarizo incondicionalmente (apesar de as ter colocado, num caso ou noutro, numa ordem diferente), resta ainda referir algumas obras não premiadas, que me parecem muito interessantes e dignas de figurar num dos palmarés (compreende-se porém que os júris não pudessem premiar todas as obras merecedoras de destaque, dado que eram muitas as concorrentes e de altíssimo nível).