quinta-feira, julho 05, 2007

LIVROS: O SILÊNCIO DOS LIVROS, DE GEORGE STEINER


De George Steiner, um pequeno livro que fala dos grandes livros: “O Silêncio dos Livros”, seguido de um outro texto, de Michel Crépu, “Este Vício ainda Impune”.
Edição Gradiva (Junho de 2007), para ler de um fôlego (ontem, ao deitar, eram quase quatro da madrugada, de “hoje”) e para meditar durante muito tempo. Curto, setenta páginas, mas incisivo. Como sempre, Steiner diz-nos que a nossa civilização sai de dois centros culturais, Jerusalém e Atenas, personificados por Cristo e Sócrates, e que ambos não utilizavam a escrita, mas sim a palavra oral. A partir daí vem a lição de sapiência, clara e aberta à discussão. Há conclusões com as quais não concordo a cem por cento, mas a lógica é notável, o pensamento exaltante, a inteligência brilhante e a cultura monumental, sem haver ostentação desnecessária.
A oralidade versus a escrita, o livro e os seus opositores, a censura e a barbárie contra o livro, os tempos modernos da virtualidade, a ausência de silêncio e de recolhimento – tudo temas abordados com intensidade e um amor muito evidente pela palavra: escrita, dita, sonhada, adivinhada.
Vale a pena não perder, até para se discordar, se for o caso. A inteligência é algo que dá gosto ver transmitida. E o gosto pelos livros também.



“Temos tendência para esquecer que os livros, eminentemente vulneráveis, podem ser suprimidos ou destruídos. Têm a sua história, como todas as outras produções humanas, uma história cujos primórdios contêm, em gérmen, a possibilidade, a eventualidade de um fim.” George Steiner sublinha assim a permanência incessantemente ameaçada e a fragilidade da escrita, interessando-se paradoxalmente por aqueles que quiseram – ou querem – o fim do livro. A sua abordagem entusiástica da leitura une-se aqui a uma crítica radical das novas formas de ilusão, de intolerância e de barbárie produzidas no seio de uma sociedade dita esclarecida.
Esta fragilidade, responde Michel Crépu, não nos remeterá para um sentido íntimo da finitude que nos é transmitido precisamente pela experiência da leitura? Esta estranha e doce tristeza que se encontra no âmago de todos os livros como uma luz de sombra. A nossa época está prestes a esquecer-se disto. Nunca os verdadeiros livros foram tão silenciosos.

3 comentários:

By Nivia Noronha *Nina* disse...

Olá Tudo bom... adorei seu blog... excelentes textos...

Um abraço.

Ana Paula Sena disse...

Li o livro. Sou admiradora de George Steiner, quanto mais não seja pela inteligência brilhante que o anima.
Um bom livrinho, muito, muito recomendável mesmo.
Excelente referência! :)

Valéria Mendez disse...

Ora aqui está outra utilidade dos blogs-despertar os outros para a Cultura.Eu que nunca li nada de Steiner-confesso o meu pecado-posso garantir que este post do Lauro Antonio motivou-me imenso a ler, pelo menos este mesmo livro de que fala o post.
Pois então! E agora só posso dizer OBRIGADA ao Lauro Antonio. É por isso que eu digo que há blogs que são SERVIÇO PUBLICO.E este é um deles.