sábado, fevereiro 02, 2008

CINEMA: O COMBOIO DAS 3 E 10

Revisão critica do western

O Bom (que não é "bom")...

O Mau (que não é "mau")...

e o Vilão (que é gay).

O COMBOIO DAS 3 E 10

Por que será que, sempre que aparece uma nova revoada de westerns, há umas quantas almas penadas que resolvem dizer que o western está morto e enterrado, mas… este estertor, etc e tal. Nada de mais errado. O western não morre, porque o western é grande parte da história dos EUA. Pode andar uns anos adormecido, pode emigrar para outras bandas (isto é, outros géneros. O que é grande parte do cinema de ficção-cientifica do que westerns nas galácticas?). De resto, nada morre, tudo se transforma. Um dos períodos de maior criatividade no western (os anos 50 e 60) já foi visto como agonia do género. Os mitos são eternos, renovam-se, adaptam-se aos novos tempos, são olhados por prismas diferentes, mas não desaparecem.
Depois de “Jesse James”, eis “O Comboio das 3 e 10”, um clássico de Delmer Daves, rodado em 1957, segundo um conto de Elmore Leonard, adaptado por Halsted Welles. 50 anos depois, o preto e branco deu lugar a uma cor macerada e dorida, por entre duros azuis e uma vasta paleta de ocres e castanhos; a limpidez das personagens de Glenn Ford e Van Heflin dão origem a conturbadas e complexas figuras vividas por Russell Crowe (Ben Wade) e Christian Bale (Dan Evans), e até o esquivo Charlie Prince (Richard Jaeckel) da década de 50 dá origem a um assumidíssimo gay (magnificamente interpretado por Ben Foster) nesta versão de James Mangold. Aliás, western sem gay, hoje em dia não é western. Digamos que a revisão crítica do western se está a processar nesse registo, ultrapassando mais um tabu que vigorou até há pouco.
A pequena história de Elmore Leonard conta-se rapidamente e não é na intriga que vai buscar a sua principal fonte de interesse. Dan Evans (Christian Bale) perdeu uma perna na Guerra da Secessão, e instalou-se num rancho no Arizona, onde vê a sua terra cobiçada por um latifundiário interessado na especulação que o caminho-de-ferro vai trazer. Por isso faz a vida negra a Dan, que tem mulher e dois filhos e não quer fazer má figura perante eles.
Para lá da ameaça das milícias civis do vizinho que lhes incendeiam o estábulo, Dan Evans tem ainda outras preocupações (menores, diga-se de passagem!): os índios que habitam por perto e o gang de Ben Wade (Russell Crowe), um fora da lei que gosta de assaltar diligências, bancos e demais símbolos do poder económico e político. Nesse aspecto, Wade é mais do que um fora-da-lei, é um provocador nato.
Dir-se-ia, no entanto, que Dan e Ben tinham mais razões para se associarem contra inimigos comuns do que para se oporem. Ambos, aliás, percebem isso, mas o destino leva-os por outros caminhos. Divergentes. Para ganhar 200 dólares Dan resolve oferecer-se para escoltar o bandido aprisionado até ao comboio das 3 e 10 que passa pela cidade de Contention, com destino à prisão de Yuma. E tudo se define nessa espera, no dilatar de um tempo que não tem fim, ou no aproximar galopante dos minutos que antecedem o apito do comboio a anunciar a chegada.
O filme vive da tensão que se cria entre estes dois homens, estas duas personalidades nada simples de analisar. Dois excelentes actores, um bom ritmo de narrativa, algumas proezas técnicas de registo (da fotografia à banda sonora, do guarda-roupa à direcção artística), uma realização que procura estar atenta sobretudo ao essencial (e o essencial é aqui a respiração descompassada desses dois homens, o que os move, o que os separa e o que os une, a descoberta de valores lá onde se julga que nada existe, a cumplicidade que no final se estabelece entre ambos, aparentemente contra natura, mas quem sabe?) fazem de “3: 10 to Yuma” um filme extremamente interessante e uma nova boa surpresa neste início de 2008 cheio de bons filmes nas salas de cinema (correspondendo a um óptimo final de 2007, nas correspondentes salas de cinema americanas!).
Os Oscars este ano vão ser um caso sério!

O COMBOIO DAS 3 E 10
Titulo original: 3:10 to Yuma
Realização: James Mangold (EUA, 2007); Argumento: Halsted Welles, Michael Brandt, Derek Haas, segundo conto de Elmore Leonard; Música: Marco Beltrami; Fotografia (cor): Phedon Papamichael; Montagem: Michael McCusker; Casting: Lisa Beach, Sarah Katzman; Design de produção: Andrew Menzies; Direcção artística: Greg Berry; Decoração: Jay Hart; Guarda-roupa: Arianne Phillips; Maquilhagem: John Caglione Jr., Jane Galli, Kathrine Gordon, Lisa Taylor Roberts, Betty Lou Skinner, Linda Vallejo, Corey Welk; Direcção de produção: Stuart M. Besser, Aaron Downing; Assistentes de realização: Todd Amateau, Kate Marie Boyle, Maria Mantia, Nicholas Mastandrea, Trish 'The Dish' Stanard; Departamento de arte: John Coven, Mick Cummings, Roger Lundeen, Rich Romig; Som: Donald Sylvester; Efeitos especiais: Ron Bolanowski; Efeitos visuais: Mark Dornfeld, Christina Graff, Paul Graff, Robert Stromberg; Produção: Stuart M. Besser, Dixie J. Capp, Aaron Downing, Ryan Kavanaugh, Cathy Konrad, Lynwood Spinks; Companhias de produção: Relativity Media, Tree Line Films;
Intérpretes: Russell Crowe (Ben Wade), Christian Bale (Dan Evans), Logan Lerman (William Evans), Dallas Roberts (Grayson Butterfield), Ben Foster (Charlie Prince), Peter Fonda (Byron McElroy), Vinessa Shaw (Emmy Nelson), Alan Tudyk (Doc Potter), Luce Rains (Marshal Weathers), Gretchen Mol (Alice Evans), Lennie Loftin (Glen Hollander), Rio Alexander (Campos), Johnny Whitworth, Shawn Howell, Pat Ricotti, Ramon Frank, Deryle J. Lujan, James 'Scotty' Augare, Brian Duffy, Jason Rodriguez, Kevin Durand, Chris Browning, Chad Brummett, Forrest Fyre, Luke Wilson, Benjamin Petry, Arron Shiver, Sean Hennigan, Girard Swan, Christopher Berry, David Oliver, Jason Henning, Darren Gibson, Billy Lockwood, etc.
Duração: 122 minutos; Classificação etária: M/ 12 anos; Distribuição em Portugal: LNK; Locais de filmagem: Bonanza Creek Ranch - 15 Bonanza Creek Lane, Santa Fe, New Mexico, EUA.

O COMBOIO DAS 3 E 10
Titulo original: 3:10 to Yuma
Realização: Delmer Daves (EUA, 1957); Argumento: Halsted Welles, segundo conto de Elmore Leonard; Música: George Duning; Fotografia (cor): Charles Lawton Jr.; Montagem: Al Clark; Direcção artística: Frank Hotaling; Decoração: William Kiernan, Robert Priestley; Guarda-roupa: Jean Louis; Maquilhagem: Clay Campbell, Helen Hunt, Robert J. Schiffer; Assistentes de realização: Sam Nelson; Som: John P. Livadary, J.S. Westmoreland; Produção: David Heilweil; Companhias de produção: Columbia Pictures Corporation.
Intérpretes: Glenn Ford (Ben Wade), Van Heflin (Dan Evans), Felicia Farr (Emmy), Leora Dana (Mrs. Alice Evans), Henry Jones (Alex Potter), Richard Jaeckel (Charlie Prince), Robert Emhardt (Mr. Butterfield), Sheridan Comerate (Bob Moons), George Mitchell, Robert Ellenstein, Ford Rainey, Dorothy Adams, Danny Borzage, John L. Cason, Woody Chambliss, Barry Curtis, Richard Devon, William Dyer Jr., Frank Hagney, Bill Hale, Jerry Hartleben, Joe Haworth, Robert 'Buzz' Henry, Tex Holden, Fred Marlow, Tony Mayo, Erwin Neal, Jerry Oddo, William Rhinehart, Boyd Stockman, Guy Teague, Guy Wilkerson, etc.
Duração: 92 minutos; Classificação etária: M/ 12 anos; Distribuição em Portugal: ; Locais de filmagem: Amerind Foundation, Texas Canyon, Arizona, EUA; Data de estreia: 7 de Augusto de 1957 (EUA);

Sem comentários: