o crash de 1929...
APRENDER, OU NÃO, COM O PASSADO
A situação mundial agrava-se a olhos vistos. Preocupante nos seus actuais contornos sociais, mas sobretudo preocupante no desenho que ameaça esboçar-se no futuro. No entanto, há no passado suficientes razões para se ter aprendido um pouco com o que aconteceu e não permitir que o futuro repita erros. Acontece que tudo parece evoluir numa mesma direcção, como se nada se tivesse assimilado.
O que está a acontecer agora, com base na América, assemelha-se em muito ao que aconteceu a partir de 1929, com origem na mesma América. O crash bolsista, a crise financeira, a derrocada económica, o desregramento social, o desemprego, o aumento de criminalidade, o extremar dos campos políticos, com extrema esquerda e extrema direita a tentarem aproveitar o caos, para destruírem a democracia e implantarem regimes totalitários, tudo isso aí está outra vez, com algumas nuances, mas muito pouco de novo.
A crise resulta obviamente de uma desregularização capitalista, que teve como base a inconcebível administração Bush. Não há dúvidas possíveis. Escandaloso apoio a mafiosos banqueiros, proteccionismo aos mais fortes, despesismo acima do legítimo, endividamento, crédito mal parado, guerras estúpidas, mentiras, isolamento internacional, enfim, o retrato já foi revelado e não adianta muito estar a enunciar tudo, a não ser para se reflectir nos erros (inclusive os que permitem que um completo incompetente tenha ascendido ao mais alto posto político mundial) e procurar antídotos. Não se pode voltar atrás, só se pode prever o futuro, ou fazer alguma coisa para isso.
Tal como em 1929, o que veio a seguir foi muito pior do que a funesta crise. O que veio a seguir foram as ditaduras por todo o mundo e a II Guerra Mundial. Agora, em 2009, tudo se pode repetir e existem muitos elementos que nos permitem dizer que se está já a repetir. Acontece que o mundo evoluiu, a globalização é um facto (por vezes negativo, mas também pode ser positivo, se bem aproveitado) e as sociedades podem e devem encontrar dentro de si os antibióticos certos para combater o bacilo. Mas o que se vai vendo, com raras excepções, não é isso.
O que se vai vendo é as democracias a suicidarem-se às mãos dos seus inimigos tradicionais. É sabido que há regulares fontes de intoxicação, à direita e à esquerda, que só procuram a instalação do caos social para terem a veleidade de chegar ao poder que de outra forma nunca atingiriam (em períodos de lucidez social). Mas as crises económicas e políticas trazem consigo a desordem social e sobretudo a desordem mental. O cidadão comum, que normalmente até pensa, parece prescindir desse dom e deixa-se levar na mais baixa demagogia, deixa-se instrumentalizar pela manipulação mais reles, grita como um louco, gesticula, e no fim acaba manietado numa ditadura que ajudou a criar e vai bater com os costados numa qualquer guerra que depois afirma não saber como aconteceu e de que afinal, desculpabiliza-se, não teve responsabilidade nenhuma. Falso: teve-a toda, se tivesse pensado a tempo e agido de acordo.
Mas o que se vê é assumpção da idiotia, nos meios de comunicação social, na política, nas instâncias oficiais, nos partidos, na opinião pública (leiam-se os blogues, os posts que proliferam, os comentários bacocos, levianos e irresponsáveis). Veja-se as filosofices baratas de aprendizes de feiticeiros que ressuscitam teorias da prepotência para condicionar o exercício da inteligência. Veja-se a forma nada subtil como se tenta denegrir tudo e todos para se impor o deserto das ideias. Os políticos são todos uns corruptos, as instituições de um legal exercício do poder são torpedeadas, as opiniões dos intelectuais e dos pensadores em geral são minimizadas (cambada de gajos que se alimenta, que até ganha dinheiro para escrever o que pensa), o opinião pessoal é desprezada, em favor de uma opinião pública que se sabe como se manipula facilmente. O que se vê é o que se viu antes do nazismo, do fascismo, do estalinismo terem assentado arrais pelo mundo. A morte da inteligência, o suicídio da tolerância e do diálogo, a apologia do confronto, do extremar de posições, o apelo da guerra. Um ligeiro arremedo pode desencadear o tsunami. Uma faísca causa o incêndio.
A América em 1929 teve Roosevelt para arrumar a casa. Pode ter Obama em 2009. Mas entre 39-45 a guerra foi sobretudo na Europa. Em 2000 e não sei quantos voltará a ser na Europa, se não tivermos juízo. E o juízo deve vir dos políticos, dos intelectuais, dos quadros, mas sobretudo de nós todos, da “arraia miúda” de que falava Fernão Lopes, que não se pode deixar levar mais por mensageiros da desgraça e da catástrofe, que tudo fazem para colocar os seus interesses e o seu poder ditatorial acima do interesse geral. Campos de extermínio na Alemanha ou na Sibéria outra vez, não obrigado. Nem em nome da raça ariana, nem em nome do “homem novo”. Viver com dignidade em liberdade é quanto basta. Se houver que fazer sacrifícios para as manter, que se façam, mas não se peçam paraísos na terra, quando o que se sabe que vem depois são infernos devastadores.
O que está a acontecer agora, com base na América, assemelha-se em muito ao que aconteceu a partir de 1929, com origem na mesma América. O crash bolsista, a crise financeira, a derrocada económica, o desregramento social, o desemprego, o aumento de criminalidade, o extremar dos campos políticos, com extrema esquerda e extrema direita a tentarem aproveitar o caos, para destruírem a democracia e implantarem regimes totalitários, tudo isso aí está outra vez, com algumas nuances, mas muito pouco de novo.
A crise resulta obviamente de uma desregularização capitalista, que teve como base a inconcebível administração Bush. Não há dúvidas possíveis. Escandaloso apoio a mafiosos banqueiros, proteccionismo aos mais fortes, despesismo acima do legítimo, endividamento, crédito mal parado, guerras estúpidas, mentiras, isolamento internacional, enfim, o retrato já foi revelado e não adianta muito estar a enunciar tudo, a não ser para se reflectir nos erros (inclusive os que permitem que um completo incompetente tenha ascendido ao mais alto posto político mundial) e procurar antídotos. Não se pode voltar atrás, só se pode prever o futuro, ou fazer alguma coisa para isso.
Tal como em 1929, o que veio a seguir foi muito pior do que a funesta crise. O que veio a seguir foram as ditaduras por todo o mundo e a II Guerra Mundial. Agora, em 2009, tudo se pode repetir e existem muitos elementos que nos permitem dizer que se está já a repetir. Acontece que o mundo evoluiu, a globalização é um facto (por vezes negativo, mas também pode ser positivo, se bem aproveitado) e as sociedades podem e devem encontrar dentro de si os antibióticos certos para combater o bacilo. Mas o que se vai vendo, com raras excepções, não é isso.
O que se vai vendo é as democracias a suicidarem-se às mãos dos seus inimigos tradicionais. É sabido que há regulares fontes de intoxicação, à direita e à esquerda, que só procuram a instalação do caos social para terem a veleidade de chegar ao poder que de outra forma nunca atingiriam (em períodos de lucidez social). Mas as crises económicas e políticas trazem consigo a desordem social e sobretudo a desordem mental. O cidadão comum, que normalmente até pensa, parece prescindir desse dom e deixa-se levar na mais baixa demagogia, deixa-se instrumentalizar pela manipulação mais reles, grita como um louco, gesticula, e no fim acaba manietado numa ditadura que ajudou a criar e vai bater com os costados numa qualquer guerra que depois afirma não saber como aconteceu e de que afinal, desculpabiliza-se, não teve responsabilidade nenhuma. Falso: teve-a toda, se tivesse pensado a tempo e agido de acordo.
Mas o que se vê é assumpção da idiotia, nos meios de comunicação social, na política, nas instâncias oficiais, nos partidos, na opinião pública (leiam-se os blogues, os posts que proliferam, os comentários bacocos, levianos e irresponsáveis). Veja-se as filosofices baratas de aprendizes de feiticeiros que ressuscitam teorias da prepotência para condicionar o exercício da inteligência. Veja-se a forma nada subtil como se tenta denegrir tudo e todos para se impor o deserto das ideias. Os políticos são todos uns corruptos, as instituições de um legal exercício do poder são torpedeadas, as opiniões dos intelectuais e dos pensadores em geral são minimizadas (cambada de gajos que se alimenta, que até ganha dinheiro para escrever o que pensa), o opinião pessoal é desprezada, em favor de uma opinião pública que se sabe como se manipula facilmente. O que se vê é o que se viu antes do nazismo, do fascismo, do estalinismo terem assentado arrais pelo mundo. A morte da inteligência, o suicídio da tolerância e do diálogo, a apologia do confronto, do extremar de posições, o apelo da guerra. Um ligeiro arremedo pode desencadear o tsunami. Uma faísca causa o incêndio.
A América em 1929 teve Roosevelt para arrumar a casa. Pode ter Obama em 2009. Mas entre 39-45 a guerra foi sobretudo na Europa. Em 2000 e não sei quantos voltará a ser na Europa, se não tivermos juízo. E o juízo deve vir dos políticos, dos intelectuais, dos quadros, mas sobretudo de nós todos, da “arraia miúda” de que falava Fernão Lopes, que não se pode deixar levar mais por mensageiros da desgraça e da catástrofe, que tudo fazem para colocar os seus interesses e o seu poder ditatorial acima do interesse geral. Campos de extermínio na Alemanha ou na Sibéria outra vez, não obrigado. Nem em nome da raça ariana, nem em nome do “homem novo”. Viver com dignidade em liberdade é quanto basta. Se houver que fazer sacrifícios para as manter, que se façam, mas não se peçam paraísos na terra, quando o que se sabe que vem depois são infernos devastadores.
...acabou assim.
4 comentários:
Caro Lauro António
Excelente, esta crónica, porque coloca o dedo na ferida e como alguns de nós ainda se recordam é muito mais fácil matar do que pensar. Basta olhar a televisão que nos rodeia para ficar tudo dito, sempre de uma pobreza alarmante, sempre dirigida a essa identidade anónima que gosta de decidir pelas suas próprias mãos e que se deixa sempre manipular pelos arautos da desgraça: o cinema sempre nos mostrou, do que é capaz uma multidão em fúria.
Pensar é necessário. Uma reflexão sobre o mundo que nos rodeia é sempre de aplaudir, porque abre estradas ao pensamento e ás ideias.
Obrigado Lauro António.
Abraço cinéfilo
Rui Luís Lima
Hoje, no Reino Unido, comemora-se o Holocaust Memorial Day, em memória das vítimas do Holocausto; há tragédias que o mundo não pode esquecer, é perigoso para o seu devir.
http://www.hmd.org.uk/
É isso. A cabeça de cada um de nós deveria reagir e não entrar neste marasmo negativista. Ouvem-se as mesmas coisas em todos os sítios. Parece uma epidemia mental....
Bjs.
Caro Lauro António, esta crónica está fantástica. Obrigado pela reflexão que me obrigaste a fazer...
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