JULIE & JULIA
Nora Ephron é uma realizadora interessante que se tornou conhecida inicialmente como argumentista, sobretudo depois de ter assinado, em 1989, o brilhante guião de "Um Amor Inevitável". Depois passou à realização, e foi adicionando obras que não deslustram, e mesmo uma ou outra que sabem muito bem, como é o caso de “Sleepless in Seattle” (Sintonia de Amor, 1993) ou deste “Julie & Júlia” (Julie e Júlia, 2009). Nos intervalos assinou “This Is My Life” (1992), “Mixed Nuts” (1994), “Michael” (1996), “Lucky Numbers” (2000) “You've Got Mail” (Você Tem uma Mensagem, 1998), ou “Bewitched” (Casei com uma Feiticeira, 2005).
Não é genial, é correcta, eficaz, sensível, e por vezes deixa-se possuir por uma rasgo de talento. “Julie e Júlia” está neste caso, e será seguramente dos títulos mais conseguidos da autora, mercê de diversos aspectos que se reúnem para que o efeito seja o requerido.
Antes de mais há que sublinhar um excelente argumento, extremamente bem estruturado, partindo de material de base que era difícil de entrelaçar. A história, com a assinatura da própria Nora Ephron, parte de uma obra de Julie Powell ("Julie & Julia") e de uma autobiografia de Julia Child e Alex Prud'homme ("My Life in France"). É, portanto, um guião que junta duas histórias verídicas, cada uma delas relato mais ou menos autobiográfico de uma mulher, e que conta a relação que se estabelece entre ambas, sem que no entanto se cheguem a conhecer pessoalmente. Há inclusive uma distância temporal a afastá-las (ou será a uni-las?).
Julia Child é mulher de um diplomata americano a viver em Paris, depois da II Guerra Mundial, em pleno período quente da Guerra-fria. Gosta de comer e de conhecer a gastronomia francesa, por que se apaixona. Com duas amigas resolve escrever um livro para “as americanas começarem a apreciar devidamente” a comida que ela admira em restaurantes parisienses. O livro acaba por encontrar editor e sobe em flecha na estima das leitoras. É um fenómeno de vendas, um best seller. Muitos anos depois, Julie Powell, uma jovem cujo emprego é tentar resolver problemas pessoais decorrentes do 11 de Setembro de 2001, descobre a sua paixão pela gastronomia e pelo livro de Julia Child, resolvendo escrever um blogue onde diariamente vai registando as suas impressões pessoais sobre as receitas de Julia Child que vai ensaiando, uma a uma, dia após dia. O blogue é um sucesso. Nora Ephron enlaça as duas experiências e o gosto comum pela boa comida, entrega a representação de cada mulher a uma actriz admirável, que dá livre curso à sua inspiração, e o resultado não é uma obra prima da comédia moderna, mas não anda assim tão longe disso. Não lhe falta inteligência, sensibilidade, humor, ternura, voluptuosidade e indescritíveis descrições de pratos a fumegar de apetitosa gulodice.
Mas se tudo isto é verdade, o espanto, esse fica mesmo reservado para os actores. Meryl Streep é simplesmente fabulosa. Está uma actriz admirável que saboreia com especial prazer os últimos papéis que aceita criar. Depois da sua incursa pelos Abba, constrói aqui outra personagem de antologia que relembra um Jacques Tati de saias numa Paris dos anos 50. A sua figura, desengonçada e invariavelmente risonha, não compreende sequer o porquê de certas perseguições, não percebe muito bem o “maccarthismo” na América, que o pai admira e de que o marido é vítima. Para ela a vida não tem preocupações que ultrapassem o espaço da sua cozinha (agora recuperado num museu norte americano). Meryl Streep ergue um trabalho de composição invulgar. Merecedor de uma nova nomeação para os Oscars (mas o filme vai por lá andar noutras categorias também, acredito). Amy Adams, uma actriz não muito conhecida e muito jovem ainda, é outra presença de peso, numa doce Julie que vive o seu sonho de afirmação construindo um blogue pessoal. Stanley Tucci, no diplomata, marido de Julia, é igualmente excelente.
Diga-se ainda que a cidade de Paris dos anos 50 é recuperada com uma atmosfera de encanto e bonomia que ajuda à festa dos sentidos, e dos sabores adivinhados.
Se é um hedonista, não perca. Até a receita cinematográfica é muito saborosa. Um filme para ter estrela no Michelin.
Não é genial, é correcta, eficaz, sensível, e por vezes deixa-se possuir por uma rasgo de talento. “Julie e Júlia” está neste caso, e será seguramente dos títulos mais conseguidos da autora, mercê de diversos aspectos que se reúnem para que o efeito seja o requerido.
Antes de mais há que sublinhar um excelente argumento, extremamente bem estruturado, partindo de material de base que era difícil de entrelaçar. A história, com a assinatura da própria Nora Ephron, parte de uma obra de Julie Powell ("Julie & Julia") e de uma autobiografia de Julia Child e Alex Prud'homme ("My Life in France"). É, portanto, um guião que junta duas histórias verídicas, cada uma delas relato mais ou menos autobiográfico de uma mulher, e que conta a relação que se estabelece entre ambas, sem que no entanto se cheguem a conhecer pessoalmente. Há inclusive uma distância temporal a afastá-las (ou será a uni-las?).
Julia Child é mulher de um diplomata americano a viver em Paris, depois da II Guerra Mundial, em pleno período quente da Guerra-fria. Gosta de comer e de conhecer a gastronomia francesa, por que se apaixona. Com duas amigas resolve escrever um livro para “as americanas começarem a apreciar devidamente” a comida que ela admira em restaurantes parisienses. O livro acaba por encontrar editor e sobe em flecha na estima das leitoras. É um fenómeno de vendas, um best seller. Muitos anos depois, Julie Powell, uma jovem cujo emprego é tentar resolver problemas pessoais decorrentes do 11 de Setembro de 2001, descobre a sua paixão pela gastronomia e pelo livro de Julia Child, resolvendo escrever um blogue onde diariamente vai registando as suas impressões pessoais sobre as receitas de Julia Child que vai ensaiando, uma a uma, dia após dia. O blogue é um sucesso. Nora Ephron enlaça as duas experiências e o gosto comum pela boa comida, entrega a representação de cada mulher a uma actriz admirável, que dá livre curso à sua inspiração, e o resultado não é uma obra prima da comédia moderna, mas não anda assim tão longe disso. Não lhe falta inteligência, sensibilidade, humor, ternura, voluptuosidade e indescritíveis descrições de pratos a fumegar de apetitosa gulodice.
Mas se tudo isto é verdade, o espanto, esse fica mesmo reservado para os actores. Meryl Streep é simplesmente fabulosa. Está uma actriz admirável que saboreia com especial prazer os últimos papéis que aceita criar. Depois da sua incursa pelos Abba, constrói aqui outra personagem de antologia que relembra um Jacques Tati de saias numa Paris dos anos 50. A sua figura, desengonçada e invariavelmente risonha, não compreende sequer o porquê de certas perseguições, não percebe muito bem o “maccarthismo” na América, que o pai admira e de que o marido é vítima. Para ela a vida não tem preocupações que ultrapassem o espaço da sua cozinha (agora recuperado num museu norte americano). Meryl Streep ergue um trabalho de composição invulgar. Merecedor de uma nova nomeação para os Oscars (mas o filme vai por lá andar noutras categorias também, acredito). Amy Adams, uma actriz não muito conhecida e muito jovem ainda, é outra presença de peso, numa doce Julie que vive o seu sonho de afirmação construindo um blogue pessoal. Stanley Tucci, no diplomata, marido de Julia, é igualmente excelente.
Diga-se ainda que a cidade de Paris dos anos 50 é recuperada com uma atmosfera de encanto e bonomia que ajuda à festa dos sentidos, e dos sabores adivinhados.
Se é um hedonista, não perca. Até a receita cinematográfica é muito saborosa. Um filme para ter estrela no Michelin.
JULIE & JULIA
Título original: Julie & Julia
Realização: Nora Ephron (EUA, 2009); Argumento: Nora Ephron, segundo obras de Julie Powell ("Julie & Julia") e Julia Child e Alex Prud'homme ("My Life in France"); Produção: Laurence Mark, Amy Robinson, Nora Ephron, Eric Steel, John Bernard, Dianne Dreyer, Donald J. Lee Jr., Scott Rudin, J.J. Sacha, Dana Stevens; Música: Alexandre Desplat; Fotografia (cor): Stephen Goldblatt; Montagem: Richard Marks; Casting: Kathy Driscoll, Francine Maisler; Design de produção: Mark Ricker; Direcção artística: Ben Barraud; Decoração: Susan Bode; Guarda-roupa: Ann Roth; Maquilhagem: Jerry DeCarlo, J. Roy Helland, Kyra Panchenko; Direcção de Produção: Jerome Albertini, Gilles Castera, Ann Gray, Erica Kay, Donald J. Lee Jr., Paul A. Levin; Assistentes de realização: Jeffrey T. Bernstein, Ali Cherkaoui, Estelle Gérard, Alfonso Gomez-Rejon, Nancy Herrmann, Guilhem Malgoire; Departamento de arte: Hélène Dubreuil, Claire Kirk, Joan Winters; Som: Ron Bochar, Sean Garnhart, Debby VanPoucke; Efeitos especiais: Fred Buchholz, Doug Coleman; Efeitos visuais: Glenn Allen; Companhias de produção: Columbia Pictures, Easy There Tiger Productions, Scott Rudin Productions; Intérpretes: Meryl Streep (Julia Child), Amy Adams (Julie Powell), Stanley Tucci (Paul Child), Chris Messina (Eric Powell), Linda Emond (Simone Beck), Helen Carey (Louisette Bertholle), Mary Lynn Rajskub (Sarah), Jane Lynch (Dorothy McWilliams), Joan Juliet Buck (Madame Brassart), Crystal Noelle, George Bartenieff, Vanessa Ferlito, Casey Wilson, Jillian Bach, Andrew Garman, Michael Brian Dunn, Remak Ramsay, Diane Kagan, Pamela Stewart, Jeff Brooks, Frances Sternhagen, Brooks Ashmanskas, Eric Sheffer Stevens, Brian Avers, Kacie Sheik, Megan Byrne, Deborah Rush, Helen Coxe, Amanda Hesser, Maryann Urbano, Simon Jutras, Felicity Jones, Meg Kettell, Stephen Bogardus, Byron Jennings, Kelly AuCoin, Richard Bekins, Luc Palun, Rémy Roubakha, Marceline Hugot, Erin Dilly, Robert Emmet Lunney, Guiesseppe Jones, Jeff Talbott, Johnny Sparks, etc. Duração: 123 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner Filmes de Portugal; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 19 de Novembro de 2009.
Título original: Julie & Julia
Realização: Nora Ephron (EUA, 2009); Argumento: Nora Ephron, segundo obras de Julie Powell ("Julie & Julia") e Julia Child e Alex Prud'homme ("My Life in France"); Produção: Laurence Mark, Amy Robinson, Nora Ephron, Eric Steel, John Bernard, Dianne Dreyer, Donald J. Lee Jr., Scott Rudin, J.J. Sacha, Dana Stevens; Música: Alexandre Desplat; Fotografia (cor): Stephen Goldblatt; Montagem: Richard Marks; Casting: Kathy Driscoll, Francine Maisler; Design de produção: Mark Ricker; Direcção artística: Ben Barraud; Decoração: Susan Bode; Guarda-roupa: Ann Roth; Maquilhagem: Jerry DeCarlo, J. Roy Helland, Kyra Panchenko; Direcção de Produção: Jerome Albertini, Gilles Castera, Ann Gray, Erica Kay, Donald J. Lee Jr., Paul A. Levin; Assistentes de realização: Jeffrey T. Bernstein, Ali Cherkaoui, Estelle Gérard, Alfonso Gomez-Rejon, Nancy Herrmann, Guilhem Malgoire; Departamento de arte: Hélène Dubreuil, Claire Kirk, Joan Winters; Som: Ron Bochar, Sean Garnhart, Debby VanPoucke; Efeitos especiais: Fred Buchholz, Doug Coleman; Efeitos visuais: Glenn Allen; Companhias de produção: Columbia Pictures, Easy There Tiger Productions, Scott Rudin Productions; Intérpretes: Meryl Streep (Julia Child), Amy Adams (Julie Powell), Stanley Tucci (Paul Child), Chris Messina (Eric Powell), Linda Emond (Simone Beck), Helen Carey (Louisette Bertholle), Mary Lynn Rajskub (Sarah), Jane Lynch (Dorothy McWilliams), Joan Juliet Buck (Madame Brassart), Crystal Noelle, George Bartenieff, Vanessa Ferlito, Casey Wilson, Jillian Bach, Andrew Garman, Michael Brian Dunn, Remak Ramsay, Diane Kagan, Pamela Stewart, Jeff Brooks, Frances Sternhagen, Brooks Ashmanskas, Eric Sheffer Stevens, Brian Avers, Kacie Sheik, Megan Byrne, Deborah Rush, Helen Coxe, Amanda Hesser, Maryann Urbano, Simon Jutras, Felicity Jones, Meg Kettell, Stephen Bogardus, Byron Jennings, Kelly AuCoin, Richard Bekins, Luc Palun, Rémy Roubakha, Marceline Hugot, Erin Dilly, Robert Emmet Lunney, Guiesseppe Jones, Jeff Talbott, Johnny Sparks, etc. Duração: 123 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner Filmes de Portugal; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 19 de Novembro de 2009.
2 comentários:
O filme é uma delícia, a Meryl Streep é um doce e a Amy Adams é mesmo a cereja em cima do bolo!
Um abraço, do
Helder
Soberbo....vi com prazer esta comédia. E depois de ler o que escreveste sobre Meryl Streep, subscrevo inteiramente cada palavra. A actriz nova nunca a tinha visto antes em papel nenhum.
Ando curiosa agora é com o Ágora...desejando ver. E desejando ler antes sobre ele aqui neste blog.
Abraços do norte, carregados de psuedo-neve que em breve não tarda a ser neve graúda.
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