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Ode Marítima, de Fernando PessoaCertamente um dos momentos mais aguardados no Festival de Teatro de Almada 2010, e também dos mais polémicos. Com tradução de Dominique Touati, encenação de um dos mais falados encenadores da actualidade em língua francesa, Claude Régy, e interpretado por um actor suíço de grande reputação, Jean-Quentin Châtelain, esta “Ode Marítima” é seguramente um ponto alto pelo rigor da encenação, atenta ao mais ínfimo pormenor, das luzes à ambiência cromática, da austeridade do cenário ao rigor da quase passividade do actor.
O cenário é deslumbrante no seu minimalismo. Um vasto ciclorama, de uma matéria que faz lembrar uma superfície metálica, em forma de onda, que desce desde a teia até ao proscénio, formando uma imensa curva e evocando oceanos e mares presentes e sonhados, é apenas interrompido por uma breve plataforma que recorda um cais. É aí que Jean-Quentin Châtelain nos irá oferecer, durante cerca de duas horas, e numa quase imobilidade corporal, a sua versão do magnífico poema de Pessoa. O intimismo é total, o discreto foco sobre o actor apenas sublinha a sua presença. As palavras jorram num discurso que alterna vários registos. Há quem ache sublime a forma como o intérprete nos restitui esta “Ode Marítima”. Aceito a magnificência da encenação, não aderi à interpretação. Erros meus, má fortuna, mas não me senti tocado pela dicção do actor. Talvez a localização imprópria (foi uma das raras vezes em que a tão grande procura de bilhetes me obrigou a ficar numa das últimas filas do vasto auditório de Almada, tornando muito deficiente a visão e a audição) tenha contribuído para essa falha.
De uma maneira ou de outra, a verdade é que a releitura da “Ode Marítima”, em versão portuguesa, entregue à porta do teatro, foi outra, depois do espectáculo.
Claude Régy (Nîmes, 1923), encenador com uma vastíssima carreira na área do teatro, é um dos nomes maiores da encenação em França e na Europa, tendo contribuído para a renovação do papel do actor e da estética teatral contemporânea.
Na adolescência, a leitura de Dostoievski “agitou-o, como uma machadada que quebra o mar gelado”. Depois de estudar Ciências Políticas, estudou arte dramática com Charles Dullin e, depois, com Tania Balachova.
Em 1952, a sua primeira encenação foi a criação, em França, de Dona Rosita a solteira, de Federico García Lorca. Rapidamente se desviou do realismo e naturalismo psicológicos, da mesma forma que renunciou à simplificação do teatro dito “político”. Nos antípodas do entretenimento, decidiu aventurar-se em direcção a outros espaços de representação, outros espaços de vida: os espaços perdidos.
Foram os textos dramáticos contemporâneos – textos que fez descobrir mais frequentemente – que o guiaram ao encontro das experiências-limite, onde se dissipam as certezas sobre a natureza do real.
Assistente durante alguns anos de André Barsacq no Théâtre de L’Atelier, Claude Régy encenou ao longo da sua vida teatral obras de autores como Heinrich von Kleist, Harold Pinter, Margueritte Duras, Nathalie Sarraute, Edward Bond, Peter Handke, Botho Strauss, Maurice Maeterlinck, Gregory Motton, David Harrower, Jon Fosse, Sarah Kane e Arne Lygre.
Dirigiu actores e actrizes como Philippe Noiret, Michel Piccoli, Delphine Seyrig, Michel Bouquet, Jean Rochefort, Madeleine Renaud, Pierre Dux, Maria Casarés, Alain Cuny, Pierre Brasseur, Michael Lonsdale, Jeanne Moreau, Gérard Depardieu, Bulle Ogier, Christine Boisson, Valérie Dréville, Isabelle Huppert, entre outros. (Nota do FTA).
Jean-Quentin Châtelain é um prestigiado actor suíço, formado em Arte Dramática em Genebra e na Escola do Teatro Nacional de Estrasburgo, e com uma longa carreira na área da interpretação.
Representou importantes textos de autores tão relevantes quanto Shakespeare, Dostoievski, Heiner Müller, Botho Strauss, Fritz Zorn, Musset ou Eugene O’Neill. Fez numerosos trabalhos para cinema e televisão, tendo nomeadamente sido dirigido por realizadores como Andrzej Wajda, Robert Kramer e Alain Tanner.
Jean-Quentin Châtelain é um colaborador habitual das criações teatrais de Claude Régy. Tendo trabalhado juntos pela primeira vez em 1988, esta Ode Marítima é a sexta vez que encenador e autor se encontram. Além de Claude Régy, trabalhou ainda com alguns dos mais destacados criadores da cena francesa como Joël Joanneau, Bruno Bayen, André Engel, Bernard Sobel, Jorge Lavelli e Jacques Lassalle. (Nota do FTA).
Ode Marítima, de Fernando Pessoa
Encenação de Claude Régy, Les Ateliers Contemporains, Paris; Co-Produção: Festival d’Avignon, Théâtre Vidy-Lausanne, Théâtre de la Ville, Théâtre des Treize Vents – CDN de Montpellier-Languedoc-Roussillon; Intérprete: Jean-Quentin Châtelain; Texto francês (Editions La Différence): Dominique Touati; Cenário e figurinos : Sallahdyn Khatir; Desenho de luz: Rémi Godfroy, Sallahdyn Khatir, Claude Régy; Som: Philippe Cachia; Assistente de encenação: Alexandre Barry; Maquinistas: Emilie Larrue, Zvezdan Miljkovic; Direcção de produção: Bertrand Krill; Duração: 1H50; Classificação: M/ 12; Teatro Municipal de Almada – Almada Sala Principal.
O cenário é deslumbrante no seu minimalismo. Um vasto ciclorama, de uma matéria que faz lembrar uma superfície metálica, em forma de onda, que desce desde a teia até ao proscénio, formando uma imensa curva e evocando oceanos e mares presentes e sonhados, é apenas interrompido por uma breve plataforma que recorda um cais. É aí que Jean-Quentin Châtelain nos irá oferecer, durante cerca de duas horas, e numa quase imobilidade corporal, a sua versão do magnífico poema de Pessoa. O intimismo é total, o discreto foco sobre o actor apenas sublinha a sua presença. As palavras jorram num discurso que alterna vários registos. Há quem ache sublime a forma como o intérprete nos restitui esta “Ode Marítima”. Aceito a magnificência da encenação, não aderi à interpretação. Erros meus, má fortuna, mas não me senti tocado pela dicção do actor. Talvez a localização imprópria (foi uma das raras vezes em que a tão grande procura de bilhetes me obrigou a ficar numa das últimas filas do vasto auditório de Almada, tornando muito deficiente a visão e a audição) tenha contribuído para essa falha.
De uma maneira ou de outra, a verdade é que a releitura da “Ode Marítima”, em versão portuguesa, entregue à porta do teatro, foi outra, depois do espectáculo.
Claude Régy (Nîmes, 1923), encenador com uma vastíssima carreira na área do teatro, é um dos nomes maiores da encenação em França e na Europa, tendo contribuído para a renovação do papel do actor e da estética teatral contemporânea.
Na adolescência, a leitura de Dostoievski “agitou-o, como uma machadada que quebra o mar gelado”. Depois de estudar Ciências Políticas, estudou arte dramática com Charles Dullin e, depois, com Tania Balachova.
Em 1952, a sua primeira encenação foi a criação, em França, de Dona Rosita a solteira, de Federico García Lorca. Rapidamente se desviou do realismo e naturalismo psicológicos, da mesma forma que renunciou à simplificação do teatro dito “político”. Nos antípodas do entretenimento, decidiu aventurar-se em direcção a outros espaços de representação, outros espaços de vida: os espaços perdidos.
Foram os textos dramáticos contemporâneos – textos que fez descobrir mais frequentemente – que o guiaram ao encontro das experiências-limite, onde se dissipam as certezas sobre a natureza do real.
Assistente durante alguns anos de André Barsacq no Théâtre de L’Atelier, Claude Régy encenou ao longo da sua vida teatral obras de autores como Heinrich von Kleist, Harold Pinter, Margueritte Duras, Nathalie Sarraute, Edward Bond, Peter Handke, Botho Strauss, Maurice Maeterlinck, Gregory Motton, David Harrower, Jon Fosse, Sarah Kane e Arne Lygre.
Dirigiu actores e actrizes como Philippe Noiret, Michel Piccoli, Delphine Seyrig, Michel Bouquet, Jean Rochefort, Madeleine Renaud, Pierre Dux, Maria Casarés, Alain Cuny, Pierre Brasseur, Michael Lonsdale, Jeanne Moreau, Gérard Depardieu, Bulle Ogier, Christine Boisson, Valérie Dréville, Isabelle Huppert, entre outros. (Nota do FTA).
Jean-Quentin Châtelain é um prestigiado actor suíço, formado em Arte Dramática em Genebra e na Escola do Teatro Nacional de Estrasburgo, e com uma longa carreira na área da interpretação.
Representou importantes textos de autores tão relevantes quanto Shakespeare, Dostoievski, Heiner Müller, Botho Strauss, Fritz Zorn, Musset ou Eugene O’Neill. Fez numerosos trabalhos para cinema e televisão, tendo nomeadamente sido dirigido por realizadores como Andrzej Wajda, Robert Kramer e Alain Tanner.
Jean-Quentin Châtelain é um colaborador habitual das criações teatrais de Claude Régy. Tendo trabalhado juntos pela primeira vez em 1988, esta Ode Marítima é a sexta vez que encenador e autor se encontram. Além de Claude Régy, trabalhou ainda com alguns dos mais destacados criadores da cena francesa como Joël Joanneau, Bruno Bayen, André Engel, Bernard Sobel, Jorge Lavelli e Jacques Lassalle. (Nota do FTA).
Ode Marítima, de Fernando Pessoa
Encenação de Claude Régy, Les Ateliers Contemporains, Paris; Co-Produção: Festival d’Avignon, Théâtre Vidy-Lausanne, Théâtre de la Ville, Théâtre des Treize Vents – CDN de Montpellier-Languedoc-Roussillon; Intérprete: Jean-Quentin Châtelain; Texto francês (Editions La Différence): Dominique Touati; Cenário e figurinos : Sallahdyn Khatir; Desenho de luz: Rémi Godfroy, Sallahdyn Khatir, Claude Régy; Som: Philippe Cachia; Assistente de encenação: Alexandre Barry; Maquinistas: Emilie Larrue, Zvezdan Miljkovic; Direcção de produção: Bertrand Krill; Duração: 1H50; Classificação: M/ 12; Teatro Municipal de Almada – Almada Sala Principal.
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