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TROPA DE ELITE 2
- O INIMIGO AGORA É OUTRO
“Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro” prolonga “Tropa de Elite”, lançado em 2007 com enorme sucesso no Brasil e no mundo. Sucesso e polémica. Sobretudo para todos aqueles que pensam que polícia é sempre o vilão da fita e o criminoso a vítima do poder estabelecido. O filme de José Padilha mostrava que tanto polícias como criminosos se igualavam por vezes em métodos, e erguia uma figura de herói violento, mas impoluto ao nível da corrupção, o chefe do esquadrão da BOPE, Nascimento de seu nome (excelente criação de Wagner Moura).
“Tropa de Elite 2” também se poderia chamar “agora o filme é outro”, apesar do protagonista e o cenário serem os mesmos. Nascimento é agora coronel e, no início do filme, continua à frente da tropa de elite que instruiu como uma verdadeira máquina de guerra, mas por pouco tempo. A tentativa de apaziguar a revolta na cadeia Bangu 2 transforma-se num massacre, aproveitado pelo pacifista Diogo Fraga (Irandhir Santos) para denunciar mais este atentado aos direitos do homem. Nascimento torna-se não já um problema policial, mas político, sobretudo para os responsáveis do estado do Rio de Janeiro, que o resolvem afastar do comando do BOPE e “promovê-lo”, já que o pulsar popular a isso obrigava, a Secretário de Segurança, uma forma de o afastar da acção directa e colocá-lo a enfeitar mais uma prateleira de prestígio.
Aqui, digamos, começa “Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro”, quando Nascimento descobre os podres políticos da situação, os conluios que se estabelecem entre políticos preocupados com o voto e a reeleição, senadores e publicitários de campanha, alguma polícia, alguns meios de comunicação social, os bandidos das favelas, etc. Uma teia de interesses que se estabelece com base no dinheiro que circula e gera poder, poder esse que oferece votos, que garantem eleições e a permanência no poder. Nada que não se saiba em qualquer país do mundo, nada que o cinema de qualquer canto democrático não tenha já denunciado, por vezes com grande vigor e talento (relembram-se vários filmes americanos, italianos, franceses, espanhóis e etc.), por vezes com grande tibieza e mesquinhez de olhar (e estou a recordar alguns portugueses recentes que abordavam a corrupção local deixando muito a desejar, procurando sobretudo o sucesso de bilheteira e não a denúncia aberta das questões abordadas).
O filme de José Padilha aproxima-se muito dos melhores exemplos italianos dos anos 60 e 70, com algumas cenas de violência muito bem conduzidas, e uma leitura muito “mais politicamente correcta” para as mentes inquietas com os direitos humanos do banditismo organizado. É óbvio que estes filmes de José Padilha só existem porque o Brasil vive realmente em democracia e, sobretudo, porque muito brevemente vão organizar dois eventos à escala mundial que impõem uma “limpeza” nas favelas (o que já aconteceu e vai continuar) e alguma atenção à corrupção institucionalizada. Neste aspecto, “Tropa de Elite”, 1 e 2, tranquilizam de alguma forma a população, uma forma inteligente de tranquilizar igualmente a política local.
Mas o filme tem efectivamente muitos aspectos positivos, ainda que ao nível da narrativa não tenha a fluência e a unidade do original. O facto de a acção passar, em grande parte, da rua para os escritórios e as salas oficiais, retira-lhe alguma espectacularidade, mas ganha outro empenhamento. A denúncia do apresentador de televisão que exorta o seu público para a violência policial como forma de atenuar conflitos, dos senadores comprados, dos chefes policiais vendidos, das campanhas eleitorais subsidiadas pelo crime, tudo isso resulta transparente e bem enunciado. Nascimento é visto, neste “opus 2”, como uma personagem nuanceada, que tem dúvidas, que hesita, humanizada sobretudo pela presença de um filho que o rejeita e que ele tenta conquistar (muito boa a cena de karate em que pai e filho se “abraçam” da única forma que Nascimento sabe abraçar, em luta, mas numa luta que aqui simboliza amor).
O ritmo é nervoso e bem conseguido, a fotografia densa e “vivida”, a interpretação brilhante por parte de todos os intervenientes, muito bem escolhidos para as personagens.
TROPA DE ELITE 2 - O INIMIGO AGORA É OUTRO
Título original: Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro
Realização: José Padilha (Brasil, 2010); Argumento: Bráulio Mantovani, José Padilha, Rodrigo Pimentel; Produção: Marcos Prado, James D'Arcy, Leonardo Edde, Malu Miranda, Carlos Eduardo Rodrigues; Música: Pedro Bromfman; Fotografia (cor): Lula Carvalho; Montagem: Daniel Rezende; Direcção artística: Tiago Marques Teixeira; Decoração: Odair Zani; Guarda-roupa: Claudia Kopke; Maquilhagem: Martin Macias; Direcção de Produção: Katiuscha Mello, Edu Pacheco; Assistentes de realização: Luiz Henrique Campos, Daniel Lentini, Paula Lima, Marianne Macedo Martins, Rafael Salgado, Jim Shreim; Departamento de Arte: Cristina Cirne; Som: Eduardo Virmond Lima, Alessandro Laroca; Efeitos Especiais: William Boggs, Rene Diamante, Bruno Van Zeebroeck; Efeitos visuais: Andre Waller; Companhias de Produção: Globo Filmes, Feijão Filmes, Rio Filmes, Zazen Produções; Intérpretes: Wagner Moura (Tenente-Coronel Nascimento), Irandhir Santos (Diogo Fraga), André Ramiro (Capitão André Matias), Pedro Van-Held (Rafael), Maria Ribeiro (Rosane), Sandro Rocha (Major Rocha / Russo), Milhem Cortaz (Tenente-Coronel Fábio), Tainá Müller (Clara), Seu Jorge (Beirada), André Mattos (Fortunato), Fabrício Boliveira (Marreco), Emílio Orciollo Neto, Bruno d'Elia, Rod Carvalho, etc. Duração: 116 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 16 anos; Estreia em Portugal: 7 de Abril de 2011.
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