AS SERVIÇAIS
Não me parece que “As Serviçais” seja um filme excepcional, mas também não julgo que deva ser levianamente menosprezado. Será um pouco convencional na escrita, mas não tanto na forma como aborda, não direi os conflitos rácicos no Sul dos EUA, durante a década de 60 do século passado, mas sobretudo a tensão existente entre comunidades brancas e negras, numa altura em que a luta pelos direitos civis assumia uma importância decisiva e Luther King se impunha.
Tudo parte de um romance de Kathryn Stockett, escrito há uns tempos e publicado em 2009, depois de ter sido recusado por mais de 60 editoras que não descortinaram o filão que tinham entre as mãos. Quem se atreveu a pegar-lhe ganhou 5 milhões de exemplares vendidos só no universo anglo-saxónico e cem semanas na “top list” do “The New York Times”. Agora, que passou a filme, e foi traduzido para muitos mais países, o sucesso editorial vai multiplicar-se. Ainda não li, dizem que o romance é muito bom, quero ler. Já está disponível nas livrarias portuguesas, em tradução.
Tate Taylor, o realizador, é mais conhecido como actor, apareceu por exemplo nesse magnífico “Despojos de Inverno”, do ano passado. Como realizador tinha rodado uma comédia que nos dizem desinspirada, “Pretty Ugly People” (2008), e agora chegou com “The Help”, que explode em todas as listas de candidatos a prémios do ano, sobretudo através do elenco de luxo que reuniu e que confere a esta obra uma densidade psicológica e uma verdade ambiental notável. Diz-se por aí, sem confirmação segura, que Tate Taylor foi amigo e colega de infância da escritora, que conhece bem os locais e as personagens evocadas, que conseguiu agarrar os direitos de adaptação e que logrou com isso uma obra sem grandes rasgos narrativos, mas de evidente sinceridade, e um tom que, apesar de dramático e por vezes tenso, não ignora o humor e uma certa ironia que lhe fica bem e distancia o possível melodramatismo.
O filme surge escorreito e limpo, aborda o tema sem facilidades demagógicas, recorda um pouco o clima de “E Tudo o Vento Levou”, de Fleming, sem o tom épico, preferindo-lhe um banal quotidiano, relembra também “Hurry Sundown”, de Preminger, ou “A Cor Púrpura”, de Splielberg, sem a monumentalidade. É um filme de trazer por casa, que observa a existência de todos os dias, os pequenos conflitos que se interiorizam, as humilhações que se sentem em segredo, as prepotências que, de tão banais, quase passam despercebidas até a quem as pratica. Os olhos de uma criança branca vai vendo e registando, para mais tarde reproduzir em livro. Esta a génese.
Como já referi, a representação é excelente (Emma Stone, Viola Davis , Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Sissy Spacek, Mary Steenburgen, entre outros) e o ambiente sulista dos anos 60 é muito bem recriado, tendo a obra sido filmada nos cenários naturais (Jackson, no Mississippi), o que acaba sempre por trazer alguma autenticidade.
AS SERVIÇAIS
Título original: The Help
Realização: Tate Taylor (EUA, Índia, Emiratos Árabes Unidos, 2011); Argumento: Tate Taylor, segundo romance de Kathryn Stockett; Produção: Mohamed Khalaf Al-Mazrouei, Michael Barnathan, Nate Berkus, Jennifer Blum, Chris Columbus, Brunson Green, L. Dean Jones Jr., Sonya Lunsford, John Norris, Mark Radcliffe, Jeff Skoll, Tate Taylor; Música: Thomas Montagem: Hughes Winborne; Casting: Kerry Barden, Paul Schnee; Design de produção: Mark Ricker; Direcção artística: Curt Beech; Decoração: Rena DeAngelo; Guarda-roupa: Sharen Davis; Maquilhagem: Camille Friend, Denise Paulson, Roxanne Wightman, Brad Wilder; Direcção de Produção: Mark Graziano, L. Dean Jones Jr., Brian McNulty, Robin Sweet; Assistentes de realização: Karen Davis, Donald Sparks, Tessa Lyn Stephenson; Departamento de arte: Cindy Ichikawa, Ellen Lampl, Paul Sonski; Som: Kim Drummond, Will Riley, D. Chris Smith, Gary A. Theard; Efeitos especiais: Robert Cole, David Fletcher; Efeitos visuais: Christine Cobb, Steven Lloyd, Ray McIntyre Jr., Doug Spilatro: Companhias de produção: DreamWorks SKG, Reliance Entertainment, Participant Media, Imagenation Abu Dhabi FZ, 1492 Pictures, Harbinger Pictures; Intérpretes: Emma Stone (Skeeter Phelan), Viola Davis (Aibileen Clark), Bryce Dallas Howard (Hilly Holbrook), Octavia Spencer (Minny Jackson), Jessica Chastain (Celia Foote), Ahna O'Reilly (Elizabeth Leefolt), Sissy Spacek (Missus Walters), Mary Steenburgen (Elain Stein), Allison Janney (Charlotte Phelan), Anna Camp (Jolene French), Eleanor Henry, Emma Henry, Chris Lowell, Cicely Tyson, Mike Vogel, Brian Kerwin, Wes Chatham, Aunjanue Ellis, Ted Welch, Shane McRae, Roslyn Ruff, Tarra Riggs, Leslie Jordan, Tiffany Brouwer, Carol Sutton, Millicent Bolton, Ashley Johnson, Ritchie Montgomery, Don Brock; Duração: 146 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 5 de Outubro de 2011.
1 comentário:
Gostei de ler a sua opinião.
Vi este filme ontem. Foi uma bela surpresa o filme. Já tinha ouvido muito boas críticas em relação ao livro, a que o filme foi baseado e então tive mesmo de ver As Serviçais.
Já agora Bom ano para si.
silenciosquefalam.blogspot.com
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