sexta-feira, março 22, 2013

SÓCRATES NA RTP



A HISTERIA ANTI SÓCRATES
Não compreendo, e repugna-me, esta histeria instalada contra José Sócrates. Por uma razão simples. É que não encontro razão nenhuma em particular para assim se proceder.

Vejamos. Que eu saiba, José Sócrates tem sido acusado de dois tipos de pecados:

1º Andar metido em negócios pessoais pouco claros, de que foi acusado e de que nunca nada se provou de concreto, em nenhum dos casos. Ora eu acho que vivemos ainda em democracia, num estado de direito, onde qualquer individuo é considerado inocente até ser julgado e condenado como culpado. Julgamentos sumários em praça pública ou assassinatos políticos, para mim não contam e acho-os ignóbeis. Não o fiz com Sá Carneiro, na histeria Snu, não o fiz com Santana Lopes, quando imperava a boatice, não o farei com José Sócrates. Ponto final, paragrafo, até me provarem o contrário.

2º Ter permitido, enquanto primeiro-ministro, vários erros de governação que nos conduziram onde hoje os encontramos: num profundo buraco negro. Ora não tenho dúvidas de que José Sócrates pode, e deve, ser acusado de alguns erros de governação. O maior de todos, talvez, ter-se demitido. Acontece que nunca vi em Portugal nenhum político não se enganar, até chegarmos ao vergonhoso estado em que hoje nos encontramos, em que os ditos governantes não acertam uma. Mais: quem acabou com a agricultura e as pescas e iniciou as faraónicas obras de cimento e betão? Cavaco Silva! Quem iniciou a delapidação generalizada dos avultados dinheiros vindos da CE? Bom, não preciso de ir mais longe. José Sócrates é tanto réu como tantos outros, com a agravante de muito do que ele disse se ter confirmado posteriormente. Na verdade, a crise não era só portuguesa, mas internacional; na verdade, a dívida não era para se pagar como está a acontecer, mas para se negociar, etc, etc. E nos primeiros quatro anos do seu mandato, sem crise, as contas portuguesas equilibraram-se como raras vezes tinha acontecido. Depois sim, foi o descalabro. Mas não foi o descalabro só português, foi europeu, foi internacional.

Posto isto, em democracia qualquer um pode falar e expor as suas razões. Tenho visto e ouvido cada alimária a dizer disparates tamanhos que não será certamente o programa de José Sócrates na RTP a incomodar-me. Terá mesmo uma virtude, que só quem tem medo do que pode aí vir não quererá aceitar: ouvir o que o homem tem para nos dizer. Será que estávamos onde hoje estamos se o PEC IV tem sido implementado? Teríamos a tróica entre nós?

Assim sendo, deixem falar o homem, que os tempos da ditadura do silêncio já passaram. Eu sei que nos pretendem impor uma outra ditadura, mas ainda há quem não a aceite.

2 comentários:

Artur Henrique disse...

Caro Lauro António,

Visito este seu espaço muito regularmente e tenho um respeito e uma admiração cinéfilos por si assinaláveis. Daí que, desiludido com este seu post, senti que devia escrever algo e não somente ler. Caro Lauro, vivemos em democracia??? Acha mesmo? Não será uma ilusão que criaram no povo, que nem direito ao voto nominal tem, encontrando-se "emperrado" no "two party system", ora o PSD a asneirar, ora o PS (e propositadamente, sabemos bem), não esquecendo que são sempre eleitos mentindo sistematicamente, o que, no mínimo, deveria de incorrer num crime de publicidade enganosa. Mais: em 1976, a nossa Constituição foi ajeitada pelos políticos contra o povo, desempoderando-o avassaladoramente. O número 1 dos artigos 285 e 286, a seguir transcritos, foram o toque de Midas da ignomínia: Artigo 285.º - 1. A iniciativa da revisão compete aos Deputados.
Artigo 286.º - 1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos Deputados em efectividade de funções.

Isto é mais grave e tristemente devastador do que parece. Caro Lauro, também me confrange a forma como dá a entender que acredita na Justiça portuguesa. Acredita mesmo??? Num país com tantos casos descarados, num país que perdeu 10 lugares nos últimos 10 anos no ranking da corrupção (falando negativamente, claro), num país em que um cidadão se sente completamente desamparado e desencorajado para denunciar corrupção, com receio que fique queimado, quando deveria de acontecer exactamente o contrário, etc., etc. Caro Lauro, segundo o seu discurso, então, quanto a um fulano como Miguel Relvas, só poderemos dizer algo assim: "Sim, há muita coisa que cheira mal nele, mas como nunca foi condenado em nada, então é bem possível que nunca tenha executado quaisquer más práticas na sua vida política e que seja um indivíduo com um respeito legal imaculado". Caro Lauro, a sua experiência, a sua cultura e a sua capacidade intelectual mereciam um outro post, mais lúcido, e, não me leve a mal, por favor, menos ingénuo.

Tenho simpatia por si, a sério. Daí ter-me custado um bocado ler o que escreveu; só espero ter sido um acidente de percurso.

Continuarei a passar por aqui,
Um abraço

Lauro António disse...

Caro Artur Henrique,
Aqui fica o seu comentário,que obviamente respeito.
Se outros não praticam a democracia, é preciso que alguns a pratiquem.
Com amizade,
LA