O GABINETE DO DR. CALIGARI
Porquê “O Gabinete do Dr. Caligari” agora? No dia 3 de Julho de 2013, em Portugal?
Ora bem, este filme expressionista de 1920 conta
uma história muito curiosa. O Dr. Caligari anda de feira em feira com o seu
sonâmbulo César a ganhar a vida com espectáculos de sonambulismo. Mas, durante
a noite, César vai liquidando os cidadãos. No final, na versão original, que as
autoridades alemãs não permitiram que fosse estreada, o Dr. Caligari era o
director de um hospício, um verdadeiro louco perigoso, assassino, que dirigia
um manicómio. Os seus “doentes” eram consideravelmente menos perigosos que ele.
“Apenas” se faziam passar por Napoleão ou outras personagens que tais.
O expressionismo foi a corrente estética que
melhor retractou a sociedade alemã do estertor entre os loucos anos 20 e os
tenebrosos anos da monstruosidade nazi.
Lamento dizê-lo, mas estamo-nos a aproximar muito
desses tempos na Europa de hoje. Em Portugal, a esquizofrenia por que passamos
não é um bom sinal. Parece que já estamos num qualquer gabinete de vários drs.
Caligari. Nunca se viram tantos reunidos à volta de uma população que vão
cozendo em brando lume.
Demite-se um ministro porque está farto e não lhe
permitem trabalhar, segundo as suas próprias palavras. Metem no seu lugar uma
sua subalterna que, infelizmente, nessa mesma altura atravessa uma crise de
confiança grave. Um dos presidentes dos dois partidos da coligação bate com a
porta, vai embora irrevogavelmente, e explica que o chefe do governo não lhe dá
troco em nada e que ele está farto. Mas, horas depois, o outro dos presidentes
dos dois partidos da coligação não aceita a demissão e afirma mais ou menos que
nada se passou e tudo vai ficar bem depois de dormirem sobre o assunto. Para
este homem nunca há problemas. Ainda há dias o vimos no seu melhor: se o défice
público português aumentou no primeiro trimestre deste ano até 10,6% do PIB,
prometeu que no próximo trimestre "ainda vai ser melhor". Pois, que
dizer agora? Fugiram-lhe dois dos principais ministros? Isto resolve-se.
E nós olhamos e não acreditamos.
Mas há mais gabinetes nesta farsa. Alguém, num
gabinete em Belém, apanha com este estado de coisas e pelos vistos vai dizendo
que não quer uma crise “política” em cima da crise que vivemos. Ainda será
preciso maior crise política do que esta que atravessamos? E qual a proposta?
Pois daqui a uns dias ouvir os partidos políticos. Mas o senhor não ouve TV,
rádio, não lê jornais? Há neste país alguém mais que precise de “ouvir os
partidos”?
Pois eu sou capaz de lhe contar em cinco minutos o
que dizem os partidos. O PSD afirma que está bem, afora umas desavenças com o
seu colega de carteira, que não gosta da nova ministra. O CDS-PP aponta o dedo
ao PSD e explica que este não o deixa ter uma palavra para resolver o problema.
Quanto a PS, PCP, BE (e Verdes, não esquecer!) querem eleições já.
Lá fora, outros gabinetes vão mandando bitates
para o ar e ameaças concretas: se não se portam bem, cortamos-lhes a mesada. As
agências de rating e os bancos exercem o seu terror: há movimentações, corta-se
nas bolsas e aumenta-se no crédito.
Enfim: uns bricam a aprendizes de feiticeiro e os
outros todos comem por tabela. Tal está a moenga, hein!
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