O
ALDRABÃO
Antes de mais uma pequena anotação
pessoal que vale o que vale. Julgo que muitas das peças, nomeadamente as
comédias, da dramaturgia clássica greco-latina, estão demasiado datadas para
hoje surtirem o efeito desejado. Não deixam de ser clássicos, mas só grandes
encenações servidas por actores de eleição as tornam particularmente
interessantes. De resto, estas comédias de senhores e escravos, de jovem
suspirando por amores correspondidos ou não, neste caso de escravas sexuais que
se pretendem libertar, já nem são muito divertidas nem muito críticas, por
muito inteligentes e actualizadas que possam ser as encenações. Soam a questões
de um passado remoto.
“O Aldrabão”, de Plauto, chama-se no
original “Pseudolus” e é considerada uma das melhores comédias do autor, para
alguns a sua obra-prima. Seja. O autor é um dramaturgo latino, da Roma
Clássica, a peça decorre numa rua de Atenas, na Grécia antiga, e a encenação de
João Mota, não sei se consciente ou inconscientemente, relembra nalguns
aspectos a “commedia dell'arte”, quer pela
representação frontal, diante de uma parede e porta de casa, quer pela forma
caricatural como se apresentam as personagens.
O resultado não é
desinteressante, e não sei se não vou dizer uma heresia, mas tomo-o como um
elogio: o todo assemelha-se a um divertido espectáculo popular de troupe, com o
seu quê de tropelia burlesca, satírica e mesmo brejeira. Neste aspecto, a
actualização da tradução e o engenho da encenação funcionam bem, num belo
cenário, e com alguns desempenhos a salientar, nomeadamente os de Rui Mendes e
João Ricardo, num elenco onde surgem ainda Virgílio Castelo, Fernando
Gomes, Carlos Vieira de Almeida, Rui Neto, Miguel Costa e Miguel Raposo. Muito divertida a
introdução protagonizada por João Mota, e que ajuda a enquadrar a obra no seu
tempo e espaço.
O
Aldrabão,
de Plauto; tradução Luís Vasco, adaptada a partir da tradução francesa de
Édouard Sommer; versão cénica e encenação João Mota; cenografia João Mota e
Eric da Costa; figurinos Carlos Paulo; desenho de luz José Carlos Nascimento; música
original, direção musical e sonoplastia Hugo Franco; movimento Jean-Paul
Bucchieri; Intérpretes: Virgílio Castelo, Rui Mendes, João Ricardo, Fernando
Gomes, Carlos Vieira de Almeida, Rui Neto, Miguel Costa, Miguel Raposo e ainda figurantes:
Diogo Tormenta, Guilherme Gomes, João Dantas, João Ventura, José Leite, Nuno
Rodrigues, Rafael Gomes, Ricardo Teixeira, Sérgio Coragem e Simão Biernat; músicos
Luís Bastos (sopros), Rini Luyks (acordéon e teclados) e Gonçalo Santuns
(percussão); pintura de telão Silveira Cabral e Teresa Varela; confeção de
adereços Teresa Varela; produção TNDM II; M/12 anos.
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