UM ANO SEM COMER PARA PAGAR A
DÍVIDA
No “Público” de ontem podia
ler-se: - O ministro da Educação e
Ciência, Nuno Crato, que na noite desta segunda-feira esteve em Ovar numa
sessão de esclarecimento sobre o Orçamento do Estado para 2014, garante que não
é através da injecção de dinheiro na economia que o país cresce. "A pura
injecção de dinheiro na economia provoca distorção no sistema produtivo. A
economia recupera quando há trabalho bem orientado e quando se consegue ser
competitivo".
E continuava: - Para Nuno Crato,
os sinais "ténues" de crescimento não podem ser ignorados.
"Portugal entrou numa espiral responsável", refere. Mas antes, o
governante lembrou que, neste momento, os portugueses teriam de "trabalhar
mais de um ano sem comer e sem utilizar transportes só para pagar a
dívida". "Estamos no sistema monetário do euro, não temos uma máquina
de imprimir dinheiro", avisa o ministro, que faz questão de lembrar os
sinais positivos.
Muito bem. Devo dizer que tinha a
maior consideração por Nuno Crato, antes dele assumir a pasta de Ministro. Devo
acrescentar que compreendo a frase e o significado da metáfora "trabalhar
mais de um ano sem comer e sem utilizar transportes só para pagar a
dívida". Mas também acho que se poderiam criar outras comparações, de belo
recorte literário, para se chegar ao mesmo efeito dramático: “quantos lucros de
grandes empresas seria necessário reduzir para pagar a dívida?” ou, numa outra
direcção: “quantos portugueses reformados seria necessário exterminar para se pagar
a dívida?”. Estilo “solução final” para endireitar as finanças. Ou então “quantos
políticos, empresários, gerentes e equivalentes, corruptos, incompetentes,
desnecessários, tapa buracos seria necessário despachar para pagar a dívida?”
Reparem que só estou a falar em “corruptos,
incompetentes, desnecessários, tapa buracos”, porque acho que há muito boa
gente que se salvava em todos esses cargos e a generalização só agrada a quem
pretende desacreditar a democracia, para a substituir por algo da sua maior
simpatia.
Voltado à metáfora do Senhor
Ministro. Eu até não a levaria a mal. Mas a verdade é que os portugueses que trabalham (ou querem trabalhar
e estão no desemprego!), alguns já estão há mais de um ano sem comer e sem
utilizar transportes, outros já só comem metade e viajam muito menos do que
deviam e a dívida continua a crescer. O que quer dizer que ou o governo é
incompetente, ou então há alguns portugueses, quer trabalhem ou não, que estão
a “comer” muito mais do que deviam. Porque, na verdade, a fome de alguns
milhares não tem pesado na balança de todos.
Mas já percebi onde nos querem
fazer chegar: “um ano sem comer para pagar a dívida”. “Coragem, portugueses!,
mais um esforço e os nossos esqueletos chegarão lá!”.
1 comentário:
Infelizmente, parece que esta é a «receita» única dos nossos governantes.
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