sábado, fevereiro 08, 2014

CRÓNICA DA SEMANA NO JORNAL I

SESSÕES CONTINUAS
MIRA MIRÓ, QUE VERGUENZA!


Ingénuos, os portugueses julgaram que, ao votar, estavam a eleger um governo. Enganaram-se. Votaram numa comissão liquidatária nomeada pela finança internacional. O que tem vindo a acontecer a seguir é bem testemunho disso: venda-se o país para os credores ficarem satisfeitos, não com o pagamento da dívida, que não pára de crescer, mas com os juros que também crescem a olhos vistos. Assim, quem tem muito fica com mais, quem tem pouco, que morra à míngua.
Depois de várias vendas a chineses, angolanos, brasileiros, americanos, europeus, restam ainda umas coisitas que dariam muito jeito a alguns outros (ou aos mesmos) estrangeiros, agora irmanados na grande Ordem do Capital Pária sem ideologia. Como sobraram umas obras de Miró (oitenta e tal, uma ninharia!), depois do cambalacho do BPN, um governo minimamente nacional pensaria na melhor forma de rentabilizar esse espólio, criando um museu, uma galeria, uma fonte nacional de receitas que não alienassem o património. A comissão liquidatária que nos (des)governa resolveu mandar à socapa as obras de arte para Londres e colocá-las em leilão na Christie´s.
Má opção, obviamente. Por várias razões. É péssimo perder património cultural nacional. É péssimo mandar para fora do país obras de arte, sem as devidas autorizações. É péssimo oferecer ao estrangeiro esta imagem de país em saldo, estilo loja de 300 ou mesmo loja de chineses. É péssimo o governo e o país serem repreendidos pela Christie´s (imagine-se ao que chegámos!) quando a leiloeira retira do leilão o que para lá mandaram com a justificação de que “as incertezas legais criadas pela disputa em curso significam que a venda não possa ocorrer em segurança”.
Só tristezas, a que se acresce mais uma, bem grave: que moral tem este governo para, a partir de agora, proibir a venda de obras do património cultural português, detidas por particulares, quando estes as pretenderem levar para fora do país?

Lauro António

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