COMEMORANDO O NASCIMENTO DO
CINEMA
Hoje, sessões às 18 e às 21, 30, no Forum Municipal Luísa Todi
1. DA INVENÇÂO DO CINEMA AO
PRIMEIRO FILME SONORO
A 28 de
Dezembro de 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière anunciam a invenção do
cinema, tal como o conhecemos hoje, numa sala de espectáculos. Nesse dia, terá
ocorrido a primeira projecção pública do Cinematógrafo na primeira sala de
cinema do mundo, o Eden, que ainda existe, situado em La Ciotat, no sudeste de
França. A primeira sessão, com publicidade e entradas pagas, teve lugar, no
entanto, em Paris, no Grand Café, situado no Boulevard des Capucines. O
programa incluía dez filmes, de cerca de um minuto cada. A sessão abriu com a
projecção de “La Sortie de l'usine Lumière” à Lyon (A Saída da Fábrica Lumière,
em Lyon). George Méliès esteve presente e interessou-se logo pela exploração do
aparelho. No ano seguinte, os irmãos Lumière fizeram uma digressão com o
invento, visitando Bombaim, Londres e Nova Iorque. “L'Arrivée d'un Train en
Gare de la Ciotat” (Chegada de um Comboio à Estação de Ciotat), “Le Déjeuner de
Bébé” (O Almoço do Bebé) e outros, incluindo alguns dos primeiros esboços
cómicos, como “L'Arroseur Arrosé” (O "Regador" Regado), foram os primeiros
filmes apresentados.
Mas
para se chegar a esta primeira sessão pública com bilhetes, a invenção do
cinema percorreu um longo caminho. Houve sobretudo que ultrapassar três etapas
fundamentais:
A INVENÇÃO DA FOTOGRAFIA - criação de imagens por meio
de exposição luminosa, fixando-as numa superfície sensível. A primeira
fotografia reconhecida remonta ao ano de 1826 e é atribuída ao francês Joseph
Niépce. Daguerre desenvolveu depois um processo que reduzia o tempo de
revelação de horas para minutos. O processo foi denominado daguerreotipia. Em
1839, os retratos dessas “máquinas fotográficas” dependiam de longa exposição –
chegando a 12 minutos, enquanto Niépce levava oito horas – mas a evolução a
partir daí foi muito rápida. No mesmo ano, William Talbot anuncia as suas experiências do novo processo fotográfico positivo-negativo, com impressão em papel, constituindo, junto com a metodologia de Daguerre, os princípios básicos da fotografia que ainda usamos hoje.
A IMAGEM EM MOVIMENTO – Desde muito cedo se procurou reproduzir a imagem em movimento. Em primeiro lugar, através do desenho e da
pintura. Anthemius de Tralles usou um tipo primitivo de câmara escura, no
século 62. Cerca de 1600, foi aperfeiçoado por Giambattista della Porta, com a
luz a ser invertida através de um pequeno orifício, e projectada numa
superfície ou tela, criando uma imagem em movimento, mas que não é preservada
numa gravação. Na década de 1860, mecanismos para a produção de dois desenhos
tridimensionais em movimento foram demonstrados com dispositivos como o
zootrópio, mutoscope e praxinoscópio. Estas máquinas eram consequências de
simples dispositivos ópticos (como lanternas mágicas) e iria mostrar sequências
de imagens estáticas em velocidade suficiente para que as imagens nas fotos
parecessem estar a mover-se, um fenómeno chamado persistência da visão. Com o
aparecimento da real. Uma experiência de 1878, levada a cabo por Eadweard
Muybridge, nos Estados Unidos, usando 24 câmaras, produziu uma série de imagens
estereoscópicas de um cavalo a galope, que foi sem dúvida a
"primeira" série de fotografia, capturando directamente objectos em
movimento. As imagens eram passadas a uma velocidade variável de 5 a 10
tornou-imagens por segundo.
Outro
importante contributo foi dado pela espingarda fotográfica, o cronofotográfico
de Marey, construído em 1882, que era capaz de produzir 12 imagens consecutivas
por segundo, todas registadas num mesmo suporte. Estudou o movimento em gatos,
cavalos, pássaros, cães, ovelhas, elefantes, peixes, criaturas microscópicas,
moluscos, insectos, répteis, etc. Chamam-lhe de "o zoológico animado"
de Marey, que estudou igualmente a locomoção humana. Thomas Edison e o seu
Cinetoscópio, que se podia ver nos nickeodeons norte-americanos encontra-se
neste nível, aproveitando a impressão das imagens sucessivas, que correndo
perante o olho humano, dão a sensação de movimento. A visão é, porém,
individual e não colectiva e não implica uma projecção.
A PROJECÇÃO DAS IMAGENS EM
MOVIMENTO – o
terceiro momento, que distingue a invenção de Edison da dos irmãos Lumière, é
projectar essas imagens captadas em sucessão e projectá-las dando a ideia de
movimento, para o que se contava /conta com um deficiência do olho humano, a
persistência retiniana. Na década de 1880, várias foram as etapas que permitiram
o desenvolvimento da câmara de cinema levando a que as imagens captadas fossem
armazenadas numa única bobine, o que levou ao desenvolvimento de um projector
de cinema, que, através de um feixe de luz, conseguiu exportar as imagens
impressas na película para um ecrã que podia/pode ser apreciado por uma
plateia. Assim nasceram as “imagens em "movimento", o
“cinematografo”, o “cinema”.
A HISTÓRIA DO CINEMA – Aquando das primeiras
sessões do cinematógrafo, os Irmãos Lumière achavam que a invenção não passava
de uma novidade de feira que duraria pouco junto do grande público. Mas Georges
Méliès, que se encontrava entre os primeiros espectadores, e que era mago por
profissão, descobriu desde logo o poder fascinante desta invenção. Comprou uma
máquina e lançou-se na realização de filmes por si encenados e interpretados,
onde a ilusão era a dominante. O mais conhecido foi “Le Voyage dans la Lune“ (A
Viagem à Lua, 1902). Rapidamente o cinematógrafo apaixonou comerciantes e
artistas, na Europa e nos EUA. Inicialmente, os filmes duravam 5, 7 10 minutos.
Depois da I Guerra Mundial, a indústria cinematográfica nos EUA floresceu com o
aparecimento de Hollywood, dos grandes estúdios, da explosão das stars, Rudolfo
Valentino, Douglas Fairbanks, Mary Pickford, Lilian Gish, Charles Chaplin,
etc., e a imposição de alguns grandes criadores, à frente dos quais se deve
colocar David W. Griffith, que dirige mais de 500 filmes e as primeiras
superproduções de sempre, as obras-primas “O Nascimento de uma Nação” (1915) e
“Intolerância” (1916). Na década de 1920, na Europa, surgem grandes movimentos
artísticos, o expressionismo na Alemanha, com FW Murnau e Fritz Lang, o
construtivismo e o realismo soviético, com Sergei Eisenstein e Pudovkin, o
surrealismo, com Buñuel, etc.
Durante
toda a década de 20, foi-se criando uma nova tecnologia que iria permitir aos
produtores e realizadores juntarem a cada filme uma banda sonora de voz, música
e efeitos sonoros mais ou menos sincronizados com a acção. Mas os processos
foram lentos e muitos deles insatisfatórios, até se conseguir numa mesma
película incluir a imagem e o registo óptico do som. Estava descoberto o cinema
sonoro, cujo primeiro exemplo mais conseguido foi “O Cantor de Jazz” (The Jazz
Singer), dirigido por Alan Crosland e produzido pela Warner Bros., contava com
o sistema sonoro Vitaphone. Al Jolson, famoso cantor de jazz da época, canta
várias canções no filme. A história é baseada numa peça de mesmo nome, um
grande sucesso da Broadway em 1925. O filme foi um dos primeiros a ganhar o
Oscar, dividindo o prémio especial com “O Circo”, de Charlie Chaplin.
2. FRED ZINNEMANN,
REALIZADOR DE “OKLAHOMA!”
“Oklahoma!”
é uma realização de 1955 e surge pouco depois de “O Comboio Apitou Três Vezes”
(1952) e “Até à Eternidade” (1953), duas das suas obras mais célebres, a última
das quais lhe conferiu um dos seus Óscars de Melhor Realizador. Cineasta de
“grandes temas” com alguma propensão para um realismo forte, dir-se-ia que o
musical não era o seu território, mas Zinnemann era sobretudo um excelente
realizador integrado numa indústria que ele respeitava e ajudou a fazer
respeitar. Nos Oscars de 1956 “Oklahoma!” ganhou as estatuetas referentes a
Melhor Som (Fred Hynes, Todd-AO Sound Dept.) e Melhor Partitura Musical (Robert
Russell Bennett, Jay Blackton e Adolph Deutsch), ignorando-se a sua partitura
original criada para teatro por Oscar Hammerstein II e Richard Rodgers. Foi
nomeado ainda para Melhor Montagem (Gene Ruggiero e George Boemler) e Melhor
Fotografia (Robert Surtees).
Alfred
Zinnemann nasceu a 29 de Abril de 1907, em Viena, na altura integrada no
império Austro-Húngaro, agora Áustria. Morreu a 14 de Março de 1997, em
Londres, Inglaterra, de ataque cardíaco. Filho de um médico judeu, inicialmente
parecia destinado a uma carreira de violinista, depois estudou Direito na
Universidade de Viena, mas apaixonou-se pelo cinema, particularmente pelo
americano, também por Sergei Eisenstein e Erich von Stroheim, e decidiu que era
essa a carreira a seguir. Primeiro na Europa, na “École Technique de
Photographie”, de Paris, em 1927, a seguir em Berlim, onde trabalhou como
assistente de realização de Robert Sidmark e de Billy Wilder, nos estúdios UFO,
depois na América, onde estudou cinema, foi operador de câmara e figurante. Uma
das suas grandes inspirações foi Robert J. Flaherty, de quem se tornou
assistente pessoal. Conseguiu o apoio do produtor Paul Strand para filmar no
México um documentário, “Redes” (1935), que impressionou pelo seu realismo
narrativo. A sua primeira longa-metragem de ficção foi também filmada no México
e com um grupo de actores amadores: “The Wave” (1937). Entre 1938 e 1942, filma
quinze curtas-metragens, entre as quais “That Mothers Might Live” (1938), que
lhe valeu um Óscar na já extinta categoria de curta-metragem de uma bobina.
Naturalizou-se cidadão americano em 1936. Casado com Renee Bartlett (1936 -
1997). Realizou também alguns filmes de pequeno orçamento, mas a sua primeira
longa-metragem de sucesso foi “The Seventh Cross” (1944). “The Search” (1948)
vale-lhe a primeira nomeação para o Óscar de Melhor Realizador. Em 1951, venceu
o primeiro Óscar da sua carreira como produtor do documentário de
curta-metragem “Benjy” (1951). “High Noon” (1952) e “From Here to Eternity”
(1953) são as suas obras mais célebres, a última das quais lhe conferiu o Óscar
de Melhor Realizador. Em 1966, com “A Man For All Seasons” ganha seis Óscares,
entre os quais outra vez o de Melhor Realizador. Foi sob a sua direcção que se
estrearam no cinema Montgomery Clift, Marlon Brando e Meryl Streep. Excelente
director de actores, dezoito foram nomeados em filmes seus para Óscars de
melhor actor: Hume Cronyn, Montgomery Clift, Gary Cooper, Julie Harris, Frank
Sinatra, Donna Reed, Burt Lancaster, Deborah Kerr, Anthony Franciosa, Audrey
Hepburn, Glynis Johns, Paul Scofield, Robert Shaw, Wendy Hiller, Jason Robards,
Vanessa Redgrave, Jane Fonda ou Maximilian Schell.
Fred
Zinnemann, que foi um dos mais talentosos cineastas da época de ouro do cinema
norte-americano, definiu excelentemente o que é o cinema norte-americano,
sobretudo o do seu tempo, ao dizer: “Sempre me pensei um realizador de
Hollywood, não porque tenha nascido na indústria americana, mas porque gosto de
fazer filmes que agradem a grandes audiências, e não somente para expressar a
minha personalidade e as minhas opiniões. Tentei sempre oferecer ao público
algo de positivo ao mesmo tempo que o entretinha”. Diz-se que depois de ter
ganho um Oscar, compareceu numa reunião com um jovem produtor executivo que lhe
perguntou o que é que Zinnemann tinha feito até aí. Ao que o cineasta
respondeu: “Claro, mas primeiro conte você”. Em 1967, radica-se na Inglaterra,
onde rodaria alguns filmes bem-sucedidos, e onde vem a falecer.
Principais filmes: 1944: The Seventh Cross (A
Sétima Cruz); 1948: The Search (Anjos Marcados); 1948: Act of Violence (Acto de
Violência); 1950: The Men (O Desesperado); 1951: Benjy (curta-metragem): Teresa
(Teresa); 1952: High Noon (O Comboio Apitou Três Vezes); 1953: From Here to
Eternity (Até à Eternidade); 1955: Oklahoma! (Oklahoma); 1957: A Hatful of Rain
(Cárcere Sem Grades); 1958: O Velho e o Mar (não creditado); 1959: The Nun's
Story (A História de Uma Freira); 1960: The Sundowners (Três Vidas Errantes);
1966: A Man for All Seasons (Um Homem para a Eternidade); 1973: The Day of the
Jackal (Chacal); 1977: Julia (Júlia); 1982: Five Days One Summer (Cinco Dias um
Verão).
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