CYRANO DE BERGERAC
Edmond Rostand escreveu a peça
em 1897. Recuperava em tons românticos a vida aventurosa e amorosa de Cyrano de
Bergerac, que foi um pouco de tudo, de poeta a espadachim, de dramaturgo a
cientista, filósofo e um valeroso escritor de cartas de amor, apaixonadas, sensíveis,
enternecedoras. Não as usava em proveito próprio, porque pensava que ninguém seria
capaz de o amar, dada a volumetria do seu nariz, mas escrevia-as e enviava-as em
nome de Christian, à amada de ambos, Roxanne. Cyrano privava-se assim do amor
da sua bem amada prima, para a oferecer a Christian, seu alter ego em questões amorosas.
Esta é uma bela história de amor por interposta pessoa e a peça teatral dela
retirada, com raro sentido poético, intrepidez e galanteria, seria alvo de
várias encenações ao longo dos tempos. No cinema também não foram poucas as
adaptações, sendo as mais célebres a de Jose Ferrer, uma produção de Stanley
Kramer, com realização de Michael Gordon (1959) e a de Gerard Depardieu, com
direcção do francês Jean-Paul Rappeneau (1990). Será de citar ainda uma comédia
norte-americana, assinada por Fred Schepisi em 1987, e que chamava a primeiro
plano o objecto da paixão de Cyrano, Roxanne. Os intérpretes eram Steve Martin e Daryl Hannah. Por Portugal esta
peça tem conhecido igualmente várias encenações, a última das quais estreou há
dias no Teatro Nacional de D. Maria II. Diga-se desde já que com resultados
brilhantes.
Se a peça é excelente,
complexa e densa, mas profundamente popular, escrita em saborosos e límpidos versos,
que a tradução de Nuno Júdice serve de forma magnífica, e a adaptação de João
Maria André conserva, tudo o mais não fica a dever nada ao original. A
encenação de João Mota (que deixa agora a direcção do Teatro Nacional de D.
Maria II) é modelar em muitos aspectos, jogando com a espectacularidade e o
intimismo com acerto. Os cenários de José Manuel Castanheira são sumptuosos e
plasticamente muito bonitos, e o guarda-roupa da equipa Storytailors está à
altura, com belíssimos figurinos. Muito bons ainda o desenho de luz de P. Graça
e desenho de som e sonoplastia de Pedro Costa, Rui Dâmaso e Sérgio Henriques. A
música de Pedro Carneiro é inspiradíssima, conjugando bem com a sonoplastia.
Finalmente, o elenco vastíssimo, mas de grande homogeneidade, onde imperam dois
actores magníficos: Diogo Infante como Cyrano, não ficando em nada atrás dos
monstros sagrados que o antecederam a compor a figura, e a belíssima Sara
Carinhas, uma doce e empreendedora Roxanne, a que a actriz empresta uma
modernidade de tom que surpreende e sabe bem.
Um espectáculo a não perder,
que se arrisca a ter casas cheias, mostrando que afinal o teatro “quando é bom”
é mesmo bom e o público sabe corresponder. Grande despedida de João Mota do
Nacional D. Maria II.
CYRANO
DE BERGERAC, de Edmond Rostand; tradução: Nuno Júdice; Adaptação: João Maria
André; versão cénica e encenação: João Mota; cenografia: José Manuel
Castanheira; figurinos: Storytailors; desenho de luz: P. Graça; música: Pedro
Carneiro; desenho de som e sonoplastia: Pedro Costa, Rui Dâmaso, Sérgio
Henriques; mestre de esgrima: Miguel de Andrade Gomes; caracterização: Nuno
Elias; Cabelos: Helena Vaz Pereira para Griffe Hair Style; Maquilhagem: Carla
Pinho; assistentes de encenação: Fábio Vaz (estagiário da ESTC); assistente de
cenografia: Luna Rebelo (estagiária); Intérpretes: Diogo Infante, Virgílio
Castelo, Sara Carinhas, João Jesus, João Grosso, José Neves, Lúcia Maria,
Manuel Coelho, Maria Amélia Matta, Paula Mora, Alberto Villar, Bernardo
Chatillon, Celestino Silva, Frederico Coutinho, Joana Cotrim, Jorge
Albuquerque, Lita Pedreira, Luis Geraldo, Marco Paiva, Nídia Roque, Rita
Figueiredo, Simon Frankel e Bernardo Souto, José Sotero; produção TNDM II; duração
2h25 (com intervalo); M/12 anos;
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