DUNKIRK
A chamada batalha de Dunquerque decorreu
durante a II Guerra Mundial, em território francês. Tropas francesas, inglesas,
belgas, entre outras, ficaram isoladas e encurraladas pelo avanço nazi na costa
de Dunquerque, entre finais de Maio e o dia 4 de Junho de 1940. Esta batalha
teve um desfecho trágico, pelo número de baixas que se verificaram, sobretudo
do lado dos Aliados, mas a conclusão é complexa e contraditória: pode falar-se,
de um lado e do outro, de vitória e derrota. Os Aliados tiveram de retirar numa
situação não muito heroica, mas essa retirada acaba por ser uma vitória, pois
evita a morte de quase 350.000 militares, de entre os mais de 400.000 que ali
se encontravam concentrados, à mercê do avanço da infantaria alemã e dos raids
da Luftwaffe. Por outro lado, os nazis conseguiram expulsar da região aquele
contingente de tropas militares inimigas, mas acabaram por sentirem frustrados
os seus intentos, pois a grande maioria deles escapou numa operação naval de grande
fôlego, desencadeada pelo Reino Unido, sob o comando persistente de Winston
Churchill (veja-se o filme “Darkest Hour”, que explica bem a génese desta
iniciativa).
Perante o quadro existente na altura (400.000
militares encurralados e à espera de uma morte anunciada, numa praia do norte
de França), duas atitudes se colocavam aos altos dirigentes políticos e
militares ingleses: ou tornam aqueles militares vítimas indefesas dos nazis,
dada a dificuldade de os defender ou tentam evacuá-los numa perspectiva quase
suicida, quer para os encurralados, quer para os que os iriam tentar libertar. Optou-se
pela última solução, enviando para Dunquerque vários navios de guerra, mas
igualmente centenas de pequenas embarcações de pesca ou de recreio, que
partiram do porto de Dover, sob o comando do vice-almirante Bertram Ramsay. A
esta operação foi dado o nome de Dinamo.
É este o quadro do último filme de Christopher
Nolan, que foi nomeado para oito Oscars, entre os quais o de Melhor Filme e
Melhor Realizador.
Christopher Nolan é um dos realizadores
norte-americanos mais interessante entre os revelados já no século XXI.
Norte-americano por quase toda a sua obra ser produzida e realizada em estúdios
de Hollywood, apesar da sua naturalidade ser inglesa (nasceu em Londres a 30 de
Julho de 1970). Mas já assinou títulos notáveis e de grande originalidade, como
“Memento” (2000), “Insónia” (2002), “Batman, o Início” (2005), “O Terceiro
Passo” (2006), O Cavaleiros das Trevas (2008), “A Origem” (2010), “O Cavaleiro
das Trevas Renasce” (2012) ou “Interstellar” (2014), todos anteriores a
“Dunkirk” (2017). Uma conclusão se pode desde logo retirar deste conjunto de
obras: o seu autor consegue conciliar com extremo equilíbrio o sucesso
comercial e o rigor de um verdadeiro autor, com uma temática própria e um gosto
facilmente identificável de uma narrativa original, jogando sobretudo com o
factor tempo (ou com tempos diversos).
“Dunkirk” é um filme brilhante sob diversos
pontos de vista. Transformar uma retirada estratégica num acto heroico é conseguido
de forma notável. Não há praticamente heróis individuais, há uma força
colectiva que se movimenta, nas praias de Dunquerque ou nas águas do canal da
Mancha, por ar, mar e terra. Consegue montar em paralelo estas acções, ora
documentando a espera da morte, ou de um barco salvador, nas areias da praia,
ora acompanhando batalhas aéreas entre pilotos britânicos e alemães, ora
testemunhando a odisseia de barcos de guerra ou de pequenas embarcações com
civis voluntários que se oferecem para esta acção quase suicida de resgate. O
clima de inquietação e suspense é magnificamente dado pela montagem de Lee
Smith, a fotografia de Hoyte Van Hoytema consegue uma tonalidade de quotidiano
dramatismo que se impõe, a música de Hans Zimmer e todo o som do filme criam
uma banda sonora de grande carga emotiva, sem, no entanto, ser redundante ou
excessiva. A interpretação, sem grandes sobressaltos individuais, alia-se a
essa intenção de produzir uma gesta colectiva. Um belíssimo e pungente filme
que ajuda a consolidar a imagem de um cineasta.
DUNKIRK
Título
original: Dunkirk
Realização: Christopher Nolan
(Inglatewrra, EUA, 2017); Argumento:
Christopher Nolan; Produção: Christopher
Nolan, Maarten Swart, Emma Thomas, Andy Thompson, John Bernard, Erwin
Godschalk, Jake Myers; Música: Hans Zimmer;
Fotografia (cor): Hoyte Van Hoytema; Montagem: Lee Smith; Casting: John Papsidera, Toby Whale; Design
de produção: Nathan Crowley; Direcção artística: Toby Britton, Oliver Goodier,
Kevin Ishioka, Eggert Ketilsson, Benjamin Nowicki, Erik Osusky; Decoração:
Emmanuel Delis, Gary Fettis; Guarda-roupa: Jeffrey Kurland; Maquilhagem: Luisa Abel, Jessica Brooks, Nicola Buck,
Patricia DeHaney, etc. Direcção de Produção: Daniel-Konrad Cooper, Chris
Dowell, Christine Raspillère, Page Rosenberg-Marvin, Nicky Tüske; Som: Richard
King; Efeitos especiais: Karine Branco, Ian Corbould, Paul Corbould, Tony
Edwards, Marie Korf, Jason Leinster, Ben Vokes; Efeitos visuais: Nick Ghizas,
Arushi Govil, Andrew Jackson, Anshul Kashyap, Anne Putnam Kolbe, Liz Mann, Jeff
Reeves, Emma Rider; Companhias de
produção: Syncopy, Warner Bros., Dombey Street Productions, Kaap Holland Film,
Canal+, Ciné+, RatPac-Dune Entertainment; Intérpretes:
Fionn Whitehead (Tommy), Damien Bonnard (soldado francês), Aneurin Barnard
(Gibson), Kenneth Branagh (comandante Bolton), Tom Nolan, James D'Arcy, Lee
Armstrong, James Bloor, Barry Keoghan, Mark Rylance, Tom Glynn-Carney, Tom
Hardy, Jack Lowden, Luke Thompson, Michel Biel, Constantin Balsan, Billy Howle,
Mikey Collins, Callum Blake, Dean Ridge, Bobby Lockwood, Will Attenborough,
James D'Arcy, Matthew Marsh, Cillian Murphy, Adam Long, Harry Styles, Miranda
Nolan, Bradley Hall, Jack Cutmore-Scott, Brett Lorenzini, Michael Fox, Brian
Vernel, Elliott Tittensor, Kevin Guthrie, Harry Richardson, etc. Duração: 104
minutos; Distribuição em Portugal: NOS Audiovisuais; Classificação etária: M/
12 anos; Data de estreia em Portugal: 20 de Julho de 2017.