OS PRODUTORES
(Versão 2005)
Devo dizer que “The Producers”, aparecido em 1968 (com o título “O Falhado Amoroso”, e também “Por Favor não Matem as Velhinhas!”), numa criação de Mel Brooks, que escrevia o argumento (oscarizado) e realizava o filme, foi uma das comédias mais divertidas que vi por essa altura, e diga-se que a época era farta em boas comédias. Depois disso, no início do novo século, Mel Brooks adaptou o argumento do filme a peça de teatro musical que explodiu na Broadway num sucesso estrondoso, com encenação de Susan Stroman e um elenco em muito semelhante ao que hoje vemos na nova versão cinematográfica (apenas se descobrem as novidades – benvindas! - de Uma Thurman e Will Ferrell). Assim se chegou à pescadinha de rabo na boca: do cinema para o palco, do palco para o cinema. Com resultados que quase rondam o catastrófico, neste último lance.
Esta nova versão de “The Producers” é por vezes lastimável, raramente tem graça, nunca foge ao confronto com o clássico de 68, Zero Mostel e Gene Wilder são inesquecíveis como actores (Nathan Lane é um desastre, Matthew Broderick mais interessante, mas longe de Wilder também), e Mel Brooks mostrava-se um mestre na comédia ao lado desta noviça sem graça, que resolve passar da encenação teatral (onde possivelmente retirou bons resultados) para a realização cinematográfica (onde baqueia estrondosamente).
A história de “Os Produtores” é conhecida: Max Bialystock é um produtor da Broadway que vai amealhando fracasso atrás de fracasso até que se reúne com um contabilista, Leo Bloom, que lhe sugere uma ideia fantástica: um fracasso teatral pode dar muito mais lucro que um êxito. Poderão assim reunir dois milhões de dólares com patrocinadores que ultrapassem em muito os 100% do orçamento do espectáculo. Como este irá resultar num fiasco, ninguém pedirá contas e os dois poderão empochar todo o dinheiro recolhido e partir de férias para o Rio de Janeiro. Essa era a ideia, que não resulta porque o péssimo “Primavera para Hitler” acaba por resultar num sucesso. Uma peça horrenda escrita por um idiota nazi, saudoso de Hitler, encenada por um director “gay” de péssimo gosto, com os piores actores do mundo, acaba por funcionar como uma paródia que deixa em delírio os espectadores da Broadway e atira para a cadeia com os produtores sem escrúpulos.
O drama do filme é a falta de graça dos actores, a inépcia da realização, a duração desmedida de um espectáculo que se arrasta (apesar de lhe terem cortado vários “números”), que se repete (o “número de Max Bialystock na cadeia, repisando todo o filme serve para quê?) e que cansa. O positivo? Uma Thurman, belíssima e cheia de talento, Matthew Broderick, curioso numa composição divertida, e Will Ferrell, turbulento, entre os actores. Alguns bons números musicais (as velhinhas, a “Primavera de Hitler”, a prisão) que transitam do “musical” no palco para o ecrã, sem a necessária conceptualização cinematográfica, mas que, mesmo assim, se salvam. Algumas piadas, e pouco mais. A graça saborosa dos anos 60 passou mesmo a uma vulgaridade quase obscena em 2005. As citações de tantos e tantos filmes, de “Serenata à Chuva” a “A Gaiola das Malucas” ou “Chicago”, ficam-se por piscadelas de olho inconsequentes.
Os Produtores (The Producers), de Susan Stroman (EUA, 2005), com Nathan Lane, Matthew Broderick, Uma Thurman, Will Ferrell, Gary Beach, Roger Bart, etc. 134 min; M/ 12 anos.
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