Os Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia de Avanca decorreram entre 26 e 30 de Julho de 2006. Para lá de uma mostra de obras audiovisuais de todo o mundo, realizaram-se alguns workshops, comemorando as 10 edições do AVANCA. Entre as obras que despertavam maior interesse, a concurso, e entre as que pude ver, contava-se "Topor et Moi", de Sylvie Kristel. Já aqui falei da minha admiração por esta mulher belíssima e extremamente simples, naturalmente sensual e não muito boa actriz, é verdade, apesar de se ter transformado, de uma dia para o outro, num mito sexual dos anos 70, e muito embora ter aparecido nalguns filmes curiosos, quando dirigida por cineastas de prestigio (Chabrol, Robbe-Grillet, um ou oputra mais).
Mas "Topor et Moi" anula tudo o que para trás disse. Com esta curta-metragem de animação, SK não se esquece do tempo de "Emmanuelle" e faz dela o precurso até à actualidade, desde que se tranformou em "Sex Symbol" de várias gerações até à actual idade madura (54 anos), onde pinta, escreve e realiza filmes, agora definitivamente sem talento nenhum, e um pretenciosismo de nova rica, de "intelectual" feita à pressa, agradecida a Topor que lhe estendeu o pincel e a ensinou a pintar com café e com o que tivesse à mão. Infelimente, técnicas ensinam-se, talento não se passa de mão em mão. As pinturas parecem saídas da Feira do Relógio, o filmezinho não existe, a ver vamos a auto-biografia que se anuncia. Além disso, agora transformou-se numa "diva" que se afasta do "povo" e acha uma chatice jantar num jardim, sem cadeiras, com mesas corridas e pratos de plástico. Não há pachorra. No dia do jantar mostrei-lhe a página do DN com a entrevista que lhe fiz há vinte e três anos. Marcámos um encontro para o dia seguinte, para "actualizar" a entrevista. Depois de ver o filme, "esqueci-me". Não tinha nada para lhe perguntar, ela nada para me dizer com qualquer tipo de interesse. Preferi ir almoçar à praia da Torreira. Um refeição magnífica. Sem a Kristel, é verdade, mas com outras vantagens.
Um filme de alunos da Universidade Católica do Porto, assinado por João Nuno Brochado, "Paraiso Fiscal", foi a outra obra da noite de abertura. Também aí nada de especial. Uma repartição de finanças e o caos, para lá e para cá do balcão, instalado com base nos ruídos que se repetem. Uma espécie de "Dancing in the Dark", com uma montagem bem batida, interpretações deficientes, e uma sátira sem sentido. A primeira exigência da grande comédia é amar-se as pessoas, nao desprezá-las. Aqui goza-se com tudo, sem critério. Uma anedota mal contada e sem graça, à fora de a querer ter.
Não muito melhores foram "Puritas", de um grupo de frequentadores de um "work shop" de Avanca 2005, "Fat Fatal", de Micaela Copikova (Eslováquia) ou "Le Jour du Festin", de Cedric Hachard e Sebastien Milhou (França). Mais curioso foi a experiência de Janek Pfeifer, em "Quatro Elementos", com música de Joaquim Pavão. Um grafismo interessante, acompanha uma banda musical inspirada, abordando os quatro elementos. Trabalho de PC, criando apenas silhuetas animadas, mostra desenvoltura técnica, mas pouca emoção. De todas as formas, uma experiência a rever.
Curiosa também a longa-metragem da Macedónia, "Mirage", de Svetozar Ristovski, que aborda as feridas da guerra na Bósnia, e chama a primeiro plano um miúdo, que poderia ter tido um futuro grandioso mas que as circunstâncias arrastaram para uma sorte madrasta. Um bom filme a merecer outra visibilidade. Muito boa é a sátira aos EUA e ao terrorismo internacional, "Patriotic", de Pascal Liévre e Benny Nemerofsky (França), onde se ilustra com geniais imagens de cantores militares a banda sonora de Celine Dion para o "Titanic".
Não pude estar até final do festival, mas o clima de simpatia e boa vizinhança era sintomático. António Costa Valente estava feliz pelos 10 anos celebrados, os gémeos, com dois meses, e o mestrado terminado. Até para o ano, se não for antes.
1 comentário:
Engraçado. Da Kristel lembro-me de Emanuelle, bien sur, e pouco mais. Mas despertou-me curiosidade a entrevista que passou num canal da nossa televisão (a SIC?), apesar de tudo. Quem vê imagens não vê corações? Enfim, isto para saudar o blogger (andava na rede à procura de uma expressão qualquer, e vim aqui parar, sem querer) Perguntar-lhe, por exemplo, se já leu Murakami em português? «Kafka à Beira-Mar»? «Sputnik, Meu Amor»?
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