“O brasileiro é tão bom de bola que o jogo vira bailado –
tão ruim a realidade que um simples jogo vira esperança nacional.
Na partida entre o Homo Sapiens e o Homo Ludens,
o Homo Sapiens perde de goleada.
É pura dança: a trajectória do futebol em nosso país
é espectáculo e “comercindustria”,
glória e frustração nacionais, quando dentro dos estádios,
manobrado pelos cartolas e pela imprensa,
vira o pobre esquecido de hoje.”
- Flávio Moreira da Costa.
Acabada a euforia do Mundial 2006 em directo pela TV, restam vestígios dessa euforia que durou mês e meio: alguns livros nas livrarias, por exemplo. No Brasil, os escaparates transbordavam. Em Portugal houve algum interesse e meia dúzia de edições que se justificam. Muitas sobre a História dos Mundiais ou sobre a História do próprio futebol, outras, literariamente mais estimulantes, com textos de escritores que se alimentaram do fenómeno desportivo para ficções ou ensaios interessantes.
Ficam aqui desde já três sugestões de leitura que recomendo:
ONZE EM CAMPO DE CADA VEZ
antologia de ficção brasileira sobre futebol, onde surgem nomes consagrados como João Ubaldo Ribeiro (muito saboroso), Carlos Drumond de Andrade )muito poético), Rubem Fonseca (seco e muito bem escrito), Luís Fernando Veríssimo (como sempre, divertidíssimo), e uns quantos mais, menos conhecidos dos portugueses. Revelação mesmo foi para mim Sérgio Sant’Anna, com o conto “Na Boca o Túnel”. Brilhante. Prefácio de Carlos Daniel.
Ed. Âmbar.
BRASIL
Futebol ao Ritmo do Samba
Entre o romance, o ensaio, a crónica, dezenas de textos, divertidos e muito lúcidos, sobre a relação entre o futebol brasileiro e a cultura popular daquele país. O ritmo do samba a marcar o ritmo da jogada. Uma viagem pela história e a sociologia do espectáculo de eleição dos brasileiros. Levei o livro no avião entre Lisboa e São Paulo, e andei com ele por Goiás, Barsilia, Rio, e fui sempre aprendendo algo da alma de um povo e do significado de uma paixão. Tem a vantagem de ser um testemunho, um olhar estranho: Alex Bellos, a autora, é correspondente dos jornais “The Guardian” e “The Observer” e só vive no Brasil há alguns anos. Mas já deu para radiografar o clima humano.
Ed. Civilização.
FUTEBOL, SOL E SOMBRA
Eduardo Galeano é natural de Montevideu, jornalista, ensaísta, romancista e cronista, como o demostra esta obra dedicada ao futebol, com passagem absorvente pelo futebol brasileiro, e alguma da rivalidade existente entre Brasil e Uruguai. Quem esquece a Copa de 1950, a inaugurar o Maracanã? A II Guerra Mundial tinha acabado há pouco, a taça Jules Rimet tinha fiocado escondida numa caixa de sapatos, debaixo da cama de um dirigente da Fifa, a competição de 1950 estava organizada como uma miniliga, e o Brasil, a Suécia, a Espanha e o Uruguai foram as últimas equipas a jogar. Inaugura-se o majestoso Maracanã, no Rio de Janeiro. No jogo final, contra o Uruguai, o Brasil só precisava de um empate para ganhar a taça, mas perdeu por 2-1 diante de uma multidão de 174.000 torcedores (outros afirma que eram 220.000). Galeano é uruguaio mas gosta sobretudo de futebol, tem verve, humor, ironia, uma escrita com estilo, suave, deslizante, que sabe bem saborear. A não perder. Ed. Livros de Areia. (*)
Pode consultar em:
O navio de espelhos
não navega cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
O seu porão traz nada
nada leva à partida
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
Mário Cesariny
2 comentários:
Arquivo: de "Livros de Areia":
(http://livrosdeareia.blogspot.com/)
Domingo, Julho 16, 2006
Livrarias que resistem
Apesar do fecho de algumas livrarias por aí, outras resistem e cumprem aniversários: a Livro do Dia de Luís Filipe Cristóvão, em Torres Vedras (1 ano) e a O Navio de Espelhos de Sónia Sequeira, em Aveiro (3 anos). Nesta última, soubemos que Lauro António encontrou a nossa edição de Futebol: sol e sombra e gostou. Do livro de Galeano disse ele ter "verve, humor, ironia, uma escrita com estilo, suave, deslizante, que sabe bem saborear. A não perder." Aqui se prova como uma livraria pode ser catalizadora de encontros felizes.
posted by Livros de Areia at 7/16/2006 03:12:00 PM 0 comments
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