domingo, agosto 13, 2006

ACTRIZES QUE ME MARCARAM (IV)

MARLÈNE DIETRICH

“If she had nothing more than her voice she could break your heart with it. But she has that beautiful body and the timeless lovliness of her face. It makes no difference how she breaks your heart if she is there to mend it.”
- Ernest Hemingway

“Não sou uma actriz, sou uma personalidade”, disse Marlène um dia. Uma personalidade, é certo, e mais: um mito. Mito-mulher, mulher-mito de uma geração que foi a dos nossos pais. Mito-mulher, mulher-mito de todos nós que a descobrimos depois, feita “Anjo Azul” descido à cidade para desespero dos homens. Marlène é mais do que um nome. É lenda. Lenda que não consegue ultrapassar a realidade, porque Marlène perdura para além da lenda que a não consegue totalmente abarcar.

“No Oeste, quando a lenda ultrapassa a realidade, nós imprimimos a lenda”, afirma um jornalista a James Stewart no final do “O Homem que Matou Liberty Valance”, de John Ford. Que fazer, porém quando a própria realidade ultrapassa a sua lenda? Que fazer quando as palavras se mostram absolutamente impotentes para transmitir o que quer que seja que vá além de uma simples aproximação? Já Robert Benayount (na revista "Positif") pusera idêntica questão: “Ela ultrapassa a obra de arte, por muito genial que a obra seja e que se queira... Ela ultrapassa até o próprio mito, sem se distanciar, sem o pôr em questão. Porque essa mulher verdadeira, apesar do mito, vale sempre mais do que o próprio mito”.

Marlène nasceu em Berlim, a 27 de Dezembro de 1901. O nome de baptismo: Maria Magdalena Dietrich von Losch. Filha de um oficial de cavalaria e de uma pianista, foi educada segundo uma disciplina monacal que a levou a resguardar no seu íntimo a vitalidade e a alegria de viver que a sua personalidade desde logo denunciou. Conta-se até que a mãe a obrigava a sair de casa nos dias mais frios do inóspito clima nórdico, levando-a a suportar estoicamente as maiores privações, da fome à sede, a fim de lentamente a «despojar de todos os sintomas de angústia e descontentamento que uma educação menos rígida poderia favorecer».

Os estudos secundários fê-los em Weimar, e durante algum tempo dedicou-se ao piano e ao violino (onde poderia ter sido uma virtuose, se não fora a existência de «um gânglio no nervo primário do pulso esquerdo»), recebendo ainda lições de dança, equitação e línguas estrangeiras. Antes de se estrear no teatro, frequentou o curso de Arte Dramática de Max Reinhardt, célebre encenador alemão de inícios do século XX, que revolucionou profundamente a estrutura cénica do teatro, jogando com o aproveitamento da luz e dos volumes que estão na base de uma estética expressionista.

Quando Josef von Sternberg a descobre numa revista por ele considerada medíocre (“Zwei Kravatten”) já Marlène (então casada com o argumentista e produtor Rudolph Sieber, de quem teve uma filha) ostentava o corpo miraculosamente desenhado que Sternberg saberia realçar, encobrindo-o com véus diáfonos e plumas, possuindo também aquele rosto de volumes admiravelmente conjugados que lhe avivavam o mistério inefável de uma sensualidade simultaneamente serena e obsessiva. A sua carreira profissional fora, contudo, e até aí, pouco promissora. Repartira o tempo por operetas medíocres, espectáculos de «music-hall» de terceira ordem ou papéis pequenos e insignificantes em filmes que nunca deram a medida aproximada do seu talento. Apesar disso, porém, Marlène fora dirigida por cineastas de importância incontroversa, caso de C. W. Pabst (“Die Freudlose Gasse”, “Rua Sem Sol”), William Dieterie (“Menschen am Weg”), Joe May (“Die Tragodie der Liebe”), Alexander Korda (“Eine du Barry von Heute”), Arthur Robinson (“Manon Lescaut”), Maurice Tourneur (“Das Schiff der Verlorenen Menshcen”) ou Kurt Bernhart (“Die Frau Nach der Man Sich Sehnt”).

A revelação de Marlène Dietrich será, entretanto, obra do sexto sentido de um homem que soube olhar para além das aparências e descortinar o essencial de uma personalidade estranhamente rica e fascinante. Uma das poucas mulheres que poderiam ser Lolo-Lola e cantar o tema de “O Anjo Azul”: “Ich bin von Kofp bis Fuss auf Liebe eingestellf” (“Sou toda amor, da cabeça aos pés”).

Marlène teve consciência da importância decisiva do seu encontro com Josef von Sternberg e nunca se cansou de o repetir para quem a quis ouvir: “Foi Sternberg quem me descobriu, quando eu não era ninguém. Acreditou em mim, fez-me trabalhar, deu-me todo o seu saber, a sua experiência, a sua energia e construiu desta maneira o meu triunfo.” Ou ainda, a famosa dedicatória de uma fotografia sua «a Von» “Sem ti não seria ninguém.” A isto responde Sternberg, do alto da sua megalomania e do seu incomensurável talento: “Marlène não é Marlène. Marlène sou eu!” Mas, que era este “Pigmalião” consciente e autorizado?

Duas personalidades invulgares irão encontrar-se por força do destino. Esse encontro, visualizado em “O Anjo Azul”, será, simultaneamente, o desdobrar de uma paixão impetuosa. Mas, como se terá passado na realidade nos bastidores? Isso mesmo nos conta o próprio Josef von Sternberg, em páginas das suas memórias (“Fun in a Chineses Laundry”):

“Vestida com um "tailleur" de Inverno, chapéu, luvas e muitas peles, tinha o ar de vir ver-me para gozar de um descanso bem mereceido para a fazer sair da sua letargia, perguntei-lhe porque é que a sua reputação de actriz era tão pouco conhecida. Ela olhou longamente as mãos enluvadas e, bruscamente, como se as tivesse mostrado muito tempo, escondeu-as atrás das costas. Decididamente, pensei, iria ser muito difícil transformar em "devoradora de homens" a mulher acanhada que estava à minha frente!”

“O Anjo Azul”, datado de 1930, marca portanto a convergência de duas carreiras, para além de assinalar igualmente o encontro com um outro actor admirável, esse Emil Jannings a que o cinema alemão das décadas de 20 e 30 ficou a dever algumas das suas criações mais notáveis.

Em 1935, depois do êxito clamoroso de filmes como “Marocco” (30), “Dishonored” (31), “Song of Songs” (33), e “The Scarlet Empress” (34), e depois do fracasso de “The Devil is a Woman”, Marlène e Sternberg rompem a sua ligação, indo, cada um por seu lado, à procura de um ideal perdido: Sternberg tentará fazer de cada nova vedeta uma nova Marlène; Dietrich, por seu turno, só muito tardiamente conseguirá libertar-se do retrato que dela impunham os produtores e que o público não se cansava de reclamar.

Posteriormente, apareceu ainda em muitos filmes memoráveis, muito embora nenhum deles ostente a auréola lendária das obras interpretadas sob a direcção de Sternberg. Mas “Destry Rides Again”, “A Foreign Affair”, “Witness for the Prosecution”, “Touch of Evil2, ou “Judgment at Nuremberg” foram obras a todos títulos importantes. Deve ainda salientar-se a sua actividade como cantora, em filmes (o caso de “The Blue Angel”, onde canta um tema que se colaria a ela para sempre, uma das mais belas canções de amor de que há memória, "Falling In Love Again"), mas também em, concertos, em tournées pela Europa e América.

Em 1937, torna-se cidadã americana, depois de ter fugido da Alemanha nazi, recusando todos os cargos que as autoridades do III Reich lhe ofereceram. Pelo contrário fez campanha pelos Aliados, e radicalizou posições políticas, cantou em diferentes frentes de batalha e gravou discos de apoio à causa (como o famoso “Lili Marleen” que, durante a II Guerra Mundial, era cantado os sdois lados das barricadas). A sua vida sentimental também foi muito movimentada e sobretudo muito comentada. Casada com Rudolf Sieber, assistente de realização, veio com Sternberg para a América, teve, ao que dizem, relações lésbicas (Mercedes de Acosta conta-se entre os seus amores femininos), mas confessou sempre que o grande amor da sua vida tinha sido o actor francês Jean Gabin.

Essa Marlène de olhar voluptuoso, a meio caminho entre a mítica pureza de uma deusa inacessível e a diabólica presença inquietante de uma mulher destruidora; essa Marlène regressada do reino das sombras e das trevas, esse rosto iluminado, que permanece misterioso para além de toda a descoberta; essa Marlène de tempos idos, mulher-mito, mito-mulher, estará para sempre entre nós, fazendo de cada um, um novo professor Unrat que, por amor desmedido e desejo incontido, mergulha no irracional e no desespero. Morreu aos 90 anos de idade, em Paris, há muito retirada dos palcos, no dia 6 de Maio de 1992.

2 comentários:

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