domingo, agosto 13, 2006

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (8)

"EROTISMO NA CIDADE"
CANTOS DE UM AMOR REINVENTADO


“Encandescente” é o nick, de quem o ostenta nada mais sabemos, apenas que o Sexo é female, o Local é Portugal e os Blogs que assina são “Erotismo na Cidade” e “Pequenas Histórias” (lamentavelmente este não tem acesso permitido). Uma mulher, portuguesa, que assina um blog profundamente erótico, é obra, sobretudo se os seus trabalhos tiverem qualidade. E têm.
Blogs com textos “poéticos”, lamechas e delicodoces, com arremedos de florbelices mais ou menos romântico-sensuais, é o que há mais e nem por isso nos sentimos felizes. Ao menos que as autores o estejam, ao efectuarem essa catarse psicanalítica. Mas literariamente a qualidade deixa muito a desejar e dessas centenas de blogs confessionais e engatatorais muito não há a dizer.
Os textos da “Encandescente”, felizmente, são normalmente fortes, densos, muito carregados de uma envolvência erótica, sensual, sexual intensa. Por vezes serve-se da elipse, da simbologia, da metáfora, mas noutros casos abdica de aligeirar a imagem, e investe com a brutal coragem de quem chama “os bois pelos nomes”. Quase sempre com propriedade, com arrojo seguramente, e com a reivindicação solene e orgulhosa de que “sou mulher e digo-o.”
“Erotismo na Cidade”, o blog, já deu origem a dois volumes que estão ali mesmo publicitados, “Erotismo na Cidade” e “Encandescente”. Fiquei curioso. Vou tentar encontrá-los na Fnac. Depois direi. Mas para já vale a pena visitar este blog e percorrer longamente as suas páginas. Num livro, esse percurso é desde logo voluptuoso. Abrir as páginas de um livro é algo profundamente sensual, dependendo da textura do papel o quão sensual pode ser. Vamos tentar perceber se as páginas de um blog também podem possuir esse inebriante contacto, levando a mão a deslizar no texto, nas fotos, a impregnar-nos desse doce encantamento. O blog da “Encandescente” permite a experiência.


Para já dois textos a abrir o apetite:

Terça-feira, Agosto 01, 2006
Detrás da porta


Meu querido
Lembras-te quando chegavas e eu te agarrava logo ali, junto à porta, e me encostava e te encostava à parede, e te despia num ápice, as mãos vorazes, a boca colada à tua, a boca dizendo na tua: - Não te mexas. Não te movas.
E tu não podias, e tu não querias, e tu não te movias, e mordias os lábios para sufocares o grito, para não soltares o grito, para não ouvirem a tua nudez, do outro lado da porta.
E as minhas mãos que procuravam o teu sexo e encontravam a tua erecção e a seguravam e a apertavam e a consumiam e a esgotavam e te esgotavam e no chão…
No chão marcadas a tua chegada e a tua vinda, e eu olhando-te e tu cansado, e tu ofegante, e tu seco de sémen e repleto de prazer e eu...
Eu apertava-te o rosto e puxava o teu cabelo, e abria as minhas pernas, e empurrava a tua cabeça, e descias no meu corpo, e eu dizia-te apontando chão, apontando marcas:
- Falta ali junto ao teu o meu sinal.

posted by encandescente at 8/01/2006 / Foto: Kay


Perdida


Fecha-me na tua mão
Se me fechares na tua mão estarei segura
Se me guardares na tua mão nem os meus medos
De mim saberão e de mim perderão todos os sinais.
Depois…
Depois leva-me para onde fores
Num bolso fechada
Num canto do peito escondida
Que de mim me quero perdida
E por ti perdida de amores.

posted by encandescente at 8/10/2006 / Foto: Lia Costa Carvalho
Entretanto, Encandescente vai recolhendo textos seus
num arquivo a que pode ter acesso em:

7 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

excelente...escolha.






já de longe.

um abraço.:)

Anónimo disse...

É gratificante ver um destaque destes, bem merecido, porque há muito que acompanho a escrita de encandescente, que para mim é sensacional.

Já tenho os seus livros, que recomendo e tenho quase a certeza que outros virão!

Mas nunca devemos desprezar quem escreva "lamechices" porque para mim o verdadeiro júri...é e será sempre o público.

Lauro António disse...

Fatyly: Obrigado pelas considerações. Quanto às "lamechices", ninguém as despreza. Tal como afirma, apenas se deve deixar o público julgar. Aqui sou público leitor, logo foi a minha opinião que dei. Faço parte do verdadeiro júri. Ou o verdadeiro júri é só o que gosta de lamechices? Acho que não.

Anónimo disse...

LA peço desculpas...e claro que não, referia-me ao "júri" governamental tão precário nos apoios aos novos talentos (lamechices nunca) e sobretudo ao M.da Educação cujos livros que deverão ser lidos na disciplina de Português serem sempre ou quase sempre (d)os mesmos!
Não minto quando afirmo que hoje não consigo reler alguns ícones da nossa Literatura já que fui tão massacrada nos meus tempos de estudante.
Prefiro os novos que nascem como cogumelos!

e fugi do essencial deste post: tiro o meu chapéu a encandescente, que não conheço mas que leio com imenso prazer!

Parabéns por este seu espaço e será mais um lugar a visitar.

Anónimo disse...

Às vezes há confusões que me deixam pensativa... ficam cá por dentro a remoer. Lamechice não tem de ser mau. Há lá coisa mais lamechas do que o Werther do Goethe? E há lá literatura melhor? O que é muito mau é a lamechice sem qualidade. Tal como o erotismo sem qualidade. Ou souflé de lagosta sem qualidade! O LA, apaixonado por melodramas no cinema - Douglas Sirk & Co - não pode certamente ter outra opinião. Quanto aos clássicos, o problema não é deles, é de quem os ensina. Clássicos na escola (ou em casa, ou no jardim), sim! When you read you begin with abc. Depois há mais uma data delas a descobrir, até ao z, mas só sabendo o abc.
Gosto de ver a preocupação de despoluir o ambiente da blogosfera. Bom trabalho!
MEC

Anónimo disse...

Obrigada MEC. Sempre bons contributos. Pena não teres um blog. Vai pensando nisso. Beijos doces, cheios de "clássicos e modernos". LA

Gotinha disse...

Não podia ter feito melhor escolha poética!!
:-)