sábado, agosto 26, 2006

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (16)

"PASMOS FILTRADOS"
É Francisco Mendes quem assina o blog “Pasmos Filtrados”. Uma outra boa aposta num blog de cinéfilo.
Nesta minha opção de referir “Um blog por dia” a ideia não será salientar blogs que pensam e sintam como eu. Há muitos anos que sou professor e a minha objéctivo nunca foi criar réplicas, mas ajudar a afirmar-se cada aluno como um personalidade única e diferente, desenvolvendo as potencialidades que cada um trás dentro de si. Só assim entendo a actividade de professor. Nunca como a de alguns outros que ensinam a ser como eles são ou gostariam de ter sido.
Ao salientar blogs que estimo nada mais faço do que, de uma forma totalmente aleatória, à medida que vou vendo blogs que me agradam, por uma razão ou por outra, sublinhar esse facto e salientar aspectos que julgo de sobressair. Não refiro, pois, só blogs que pensem como eu. Podem até pensar o contrário, mas desde que o façam com boa argumentação, podem convencer-me, não a mudar a minha opinião, mas a aceitar a deles. É o que tenho feito até aqui, é o que faço com “Pasmos Filtrados”, que julgo um blog de um jovem, com as escolhas óbvias de um jovem cinéfilo, adepto do cinema de autor, do fantástico, do filme de culto, dos clássicos. Tudo boas opções. Um blog que procura rigor e paixão, e que se inicia com um prefácio à laia de guia de intenções. Um bom princípio também. Aqui fica o bom princípio, dois textos actuais, e o convite para visitaram “Pasmos Filtrados”.

Segunda-feira, Maio 16, 2005
Prefácio

O dramaturgo William Shakespeare proferia que “o objectivo da Arte é dar forma à vida”. O brilhante poeta Edgar Allan Poe proclamava que “a Arte é a reprodução do que os Sentidos apreendem da Natureza, filtrado através da Alma”. O pintor espanhol Pablo Picasso expressava que “a Arte varre da Alma o pó do quotidiano”. Durante a minha vida calcorreei trilhos que convergiam para a contemplação de diversas formas de Arte. É através da arte que conseguimos flutuar bem acima da nossa consistência física e alcançar admiráveis pontos de vista existenciais. Perspectivas essas que se encontram ocultas aos nossos sentidos, graças ao torpor gerado pelo quotidiano do nosso sórdido globo. Adoro pintura, deslumbro-me com fotografia, absorvo literatura, flutuo com música e venero cinema. Graças ao cinema não perecemos contemplando um mundo singular (o nosso), mas divagámos por múltiplos e diversos mundos de talentosos artistas. No auge dos filmes de ficção científica, os críticos falavam de “Sense of Wonder”. Uma superior Obra-Prima perdura graças ao vórtice que escancara diante de nossos olhos, atordoando e sugando deleitosamente os nossos sentidos. Nós não vemos personagens directamente nos olhos, nós vemos através dos seus olhos. Neste espaço difundirei principalmente as emoções provocadas em mim pela Sétima Arte. Fui recentemente apresentado à arte de criar blogs e os meus conhecimentos são limitadíssimos. Criarei inicialmente algo simples e tentarei arranjar tempo e aprofundar conhecimentos para actualizar este espaço.
posted by Francisco Mendes at 5/16/2005 09:07:00 PM

Sábado, Agosto 26, 2006
"O" final

The Last Waltz, de Jo Yeong-wook (“OldBoy”)

Existe um filme que coabita na minha essência há mais de um ano. Não… não se encontra somente alojado numa ramificação da minha memória. Revolve-me o âmago, amotina-me num patamar intangível, fraccionando o real do místico. “OldBoy” de Park Chan-wook, foca-se num poderoso ensaio sobre a vingança, imbuindo repressões psicológicas no pano de fundo de uma sociedade coreana (e porque não universal) iníqua. Examinando a raiz do pecado ao ritmo de uma Tragédia Grega ou Shakespeareana, o virtuosismo de Park aprofunda a ambiguidade do espírito humano e respectiva fragilidade quando corrompido pelos danos inerentes ao sentimento de perda e subsequente desejo de vingança, numa peculiar mescla de mel e fel, de beleza e abominação, de amor e horror. É uma Obra de Arte que explora de forma vibrante a condição humana.
Elevando a sua poderosa vertente ambígua para um patamar olímpico, encontra-se a magistral conclusão do filme. A partir do momento em que Dae-su abre a caixa misteriosa, o filme explode em ondas de simbolismo. Após a fatídica revelação, a sua revolta é exclusivamente montada com planos de vidros estilhaçados, numa exímia alusão à dissolvência da sua alma. Ao longo do filme existe um mantra ao qual Dae-su recorre nos momentos de desespero: «Ri… e o mundo rirá contigo. Chora… e chorarás sozinho». Se existem imagens que valem mais que mil palavras, a imagem final de “OldBoy” é um dos exemplos supremos. Matizada numa beleza assoladora, o retrato ressoa os conflitos emocionais de Dae-su, através da ambiguidade espelhada no seu rosto. «Amo-te… Oh Dae-su…», sussurra Mi-do aninhando-se nos braços de Dae-su. Escutamos a faixa The Last Waltz de Jo Yeong-wook irrompendo em ondas melodiosas que enlevam o momento dramático, enquanto visionamos algo a ser accionado na consciência de Dae-su. O sorriso inicial como resposta emocional à declaração de Mi-do, depressa se transforma num carpido silenciosamente angustiante. É nestes trilhos humanos que Park Chan-wook nos transporta, numa expedição aos becos escuros da condição humana, enquanto nos provoca comoção veemente, riso genuíno e choro sentido. Sob a hipnótica camada barroca de Park, jazem poderosos receptáculos emocionais.
posted by Francisco Mendes at 8/26/2006 08:23:00 AM

Sexta-feira, Agosto 25, 2006
"INLAND EMPIRE" – primeiras imagens


Finalmente algo!
O Cinempire conseguiu colocar alguma luz (por muito ténue que seja) sobre o novo filme de David Lynch, "INLAND EMPIRE". Lynch decidiu manter segredo sobre o enredo, mas sabe-se que o filme é ambientado nos subúrbios de Los Angeles, sobre uma mulher obrigada a enfrentar um grande perigo. A primeira incursão de Lynch no uso do vídeo de alta definição aguarda-se tão sensacional quanto o seu trabalho com o filme em 35 mm e o longo período de gestação da sua nova produção (gravada com algumas interrupções, no decorrer de dois anos), permitiu-lhe concentração intensiva nas suas preocupações primárias: a exploração das jovens mulheres, as mudanças de identidade e a alma omnívora de Hollywood. “INLAND EMPIRE” irá ser projectado em Veneza (fora de competição) e David Lynch irá receber um Leão de Ouro pela sua brilhante carreira, sendo o mais jovem realizador a receber tal distinção.
posted by Francisco Mendes at 8/25/2006 08:51:00 AM

2 comentários:

Francisco Mendes disse...

Caro Lauro António,

Fico imensamente grato pela menção honrosa que me proporciona neste seu recanto da Blogosfera. Reverentemente, constato a forma digna como encara a Sétima Arte. O Cinema atinge cada espectador numa plataforma supra-pessoal, daí a construtividade analítica ser a forma imaculada para a definição íntegra de um cinéfilo.

Cumprimentos.

Hugo disse...

Destaque mais do que merecido!