sábado, agosto 26, 2006

UM BLOG (POR DIA) PARA VISITAR (17)

“paixões & desejos”

Chama-se “paixões & desejos” é um belíssimo blog sobre cinema, “as paixões e os desejos” e tem como definição “O Universo do Cinema e a sua História. Os Cineastas, os Astros e as Estrelas da 7ªArte, do Cinema Mudo até à Vanguarda do século XXI. Os Teóricos e a Cinéfilia. Os Livros, a Net e as Publicações de Cinema. A Paixão e o Desejo das Imagens.”

Nos últimos posts, um muito bem documentado sobre
“BERTOLT BRECHT E O CINEMA”,
“O PROCESSO DO FILME A ÓPERA DE TRÊS VINTÉNS
UMA EXPERIÊNCIA SOCIOLÓGICA”
(O CINEMA NOS LIVROS),

que transcrevo com a devida vénia e a vontade que este texto despolete o desejo de frequentar com regularidade este blog de Rui Luís Lima.

O cinema nos livros é uma das formas de descobrirmos através de “terceiros” uma outra forma de olhar a 7ª Arte, mas também de confrontar ideias no Universo Cinematográfico. Quantos filmes e cineastas, actores e produtores fomos descobrir após a leitura do cinema nos livros, fruto de especialistas e de simples amantes do Cinema? A resposta seria infinita para o mais comum dos cinéfilos, por isso vamos directos ao livro em questão: “O Processo do Filme «A Ópera de Três Vinténs» Uma Experiência Sociológica” da autoria de Bertolt Brecht.
Antes de mais, temos de realçar a fabulosa introdução de João Barrento, assim como as suas longas notas, oferecendo uma visão da Alemanha dos anos vinte e a complexidade das relações de então entre o poder do autor da peça e do realizador do filme, ou seja Brecht e Pabst. Brecht não necessita de apresentações, mas Georg-Wilhelm Pabst, merece aqui uma pequena introdução para o situarmos no contexto da questão.
Pabst é o autor de filmes como “Rua sem Sol”/”Die Freudlose Gasse”, “O Amor de Jeanne Ney””/”Die Liebe der Jeanne Ney” ou “A Boceta de Pandora”/”Die Buchse der Pandora” e, como muitos dos cineastas alemães da época, iniciou-se no teatro como actor em Berlim, Zurique e Salzburgo; após o fim da primeira Guerra Mundial tornou-se o director da “Neue Wiene Buhne” de Viena, que na época defendia o teatro de vanguarda no seu reportório. Depois tornou-se realizador, mas fazendo o percurso na sua totalidade ou seja primeiro argumentista e depois assistente de realização. No célebre “Rua Sem Sol” dois nomes femininos iriam marcar a História do Cinema… uma protagonista chamada Greta Garbo… e uma figurante de seu nome Marlene Dietrich.
Regressando ao tema que nos interessa…”A Ópera de Três Vinténs”…os seus autores como todos sabemos são Bertolt Brecht e Kurt Weil mas, curiosamente, quando ela foi apresentada Brecht foi acusado de plágio…mas isso é outra história….adiante…Quando a produtora Nero decidiu levar o texto ao grande écran indicou Pabst como realizador e entregou a feitura do argumento a Bela Balazs que, mais tarde, viria a ser mais que famoso, com os seus textos de teoria e história do cinema. Mas Bertolt Brecht não gostou do resultado final e processou a produtora do filme, a qual antes de o caso chegar a tribunal ainda ofereceu uma soma elevada a Brecht para este retirar a queixa. Mas o Brecht de então era o mais radical possível, como refere João Barrento na introdução e como podemos constatar ao longo da leitura do livro. Brecht acabaria por perder o processo e o filme foi exibido. Curiosamente hoje em dia a película é vista por muitos como um dos grandes contributos de Brecht para a História do Cinema.
O livro trata de todo o processo de “A Ópera dos Três Vinténs” e da sua adaptação ao cinema… a forma como o dramaturgo se refere a Bela Balazs… é demonstrativo do radicalismo da altura… radicalismo esse que a passagem do tempo iria tornar mais maleável e moderado. E o percurso destes três grandes nomes… Brecht, Pabst e Balazs foi de certa forma perfeitamente diferenciado.
Brecht quando viu que o poder do Terceiro Reich iria tentar destruir o mundo, refugiou-se na Dinamarca, partindo depois para os Estados Unidos, ligando-se aí aos círculos socialistas do Cinema e a esse figura chamada Upton Sinclair. Foi um refugiado e um lutador no verdadeiro sentido da palavra, escreveu argumentos atrás de argumentos para o cinema, mas as portas dos Estúdios sempre lhe foram fechadas na cara. E tal como sucedeu a esse grande génio chamado Eisenstein… Hollywood nada quis com ele… e quando foi chamado a depor perante uma comissão acerca das suas ideias políticas, esqueceu-se do seu radicalismo, porque tinha bilhete para partir/fugir do Novo Mundo.
Já Balazs refugiou-se na Rússia e os seus textos continuam a ser fundamentais e a sua grandeza como Teórico e Historiador é reconhecida por todos. Quanto a Pabst, que entretanto tinha realizado um dos grandes manifestos socialistas “A Tragédia da Mina”/”Die Dreigroschenger Kameradschaft), partiu para França quando os nazis chegaram ao poder… mas depois, apesar dos seus ideais socialistas e perante a surpresa de todos, regressa à Alemanha em 1940 e oferece os seus serviços a Goebbels… (recordemos que quando Goebbels convidou Fritz Lang para assumir a direcção da UFA, nesse mesmo dia Lang fugiu de comboio da Alemanha) … quando a Guerra acabou passou o resto da vida a retratar-se, mas nunca conseguiu aliciar a sua amiga Greta Garbo, para esse tal filme que o poderia tirar do Limbo Cinematográfico em que vivia.
Este livro da editora “Campo de Letras” deve ser lido por todos, não só pelas palavras/escrita de Bertolt Brecht, mas também pela excelente introdução de João Barrento que nos transporta para a época de uma forma mais que perfeita. O referido volume tanto pode ser encontrado nas livrarias na secção de cinema, como na de teatro como já constatámos… a sua leitura é uma perfeita aventura… e já agora, como acompanhamento, recomendamos a visão de “A Ópera dos Três Vinténs” da qual muitas das canções são conhecidas de muitos…mas se não a encontrarem em dvd… e se desejarem mergulhar nesse anos sombrios, vejam essa obra realizada por Ingmar Bergman intitulada “O Ovo da Serpente”.

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