Sei apenas que se chama Rita. Não a conheço. Andava voando de blog em blog, de comentário em comentário, quando deparei com o blog “A(mar)”, assinado por uma Rita. Uma Rita que se despedia da blogosfera. Assim:
Domingo, Agosto 06, 2006
A-MAR
Não sei bem porque é que o a-mar surgiu. Quando comecei, pensava que sabia. Durante estes meses, embora que em constante reformulação do sentido, pensava que sabia. Hoje não sei nada. Esta é aquela fase em que, dizem os sábios, despojados de tudo, estamos finalmente aptos a começar a conhecer. Não sei se é assim. Sempre tive medo de me perder. Esta sensação de desamparo, de total vazio, em nada me estimula - e só me paralisa. Perdi-me, apesar de tudo. Isso sei.
Suponho que já não tenho vontade de continuar o a-mar, que já não me faz sentido continuar o a-mar.
Fazem-se afectos na blogosfera. Há pessoas que conhecemos, ou melhor, reconhecemos, porque têm algo que nós também temos, e de que passamos a gostar. Falo agora delas e se, possível, também para elas.
O meu obrigada a todas, não por me terem lido, mas por me terem permitido lê-las, no que isso tem, apesar de tudo, de subjectivo, e que é ler-me também. O meu mundo ficou maior!
Obrigada ao Jorge, porque tudo o que constrói me parece sempre sério e belo.
Obrigada ao mfc, que há muito que deixou de me visitar, ele que sempre me visitava no impossibilidades, mas cuja ausência me fez repensar a importância de não desistirmos, mesmo quando estamos sós e, sobretudo, a importância de cuidarmos melhor dos nossos afectos.
Obrigada ao jrd, também ausente.
Obrigada ao Pedro Ferreira, por ser sempre igual a ele próprio.
Obrigada à Elsa, amiga da vida, dita real, que me mostra sempre o outro lado da Lua ou do Sol e que me faz relembrar os momentos mais bonitos da minha infância.
Obrigada ao Alba, pela sua consistência, coragem e perseverança.
Obrigada à Maria do Rosário, cujas visitas silenciosas me fizeram acreditar que haveria algo em mim de imutável, ela que me leu no impossibilidades e que pareceu reconhecer-me também aqui, ela que, como eu, adora ser mãe.
Obrigada ao Pedro Estácio e ao Lino, do Porto, que me mostraram, de outra forma, o calor daquela cidade.
Obrigada ao Pedro Farinha e a toda a equipa do Farol das Artes, pela paz interior e harmonia que sempre me inspiraram e inspiram.
Obrigada ao jmnk, que acabo de conhecer mas que já me faz pensar.
Obrigada a todos os que não referi, mas que constam da minha lista de favoritos, e que também ajudaram a tornar maior o meu mundo.
Finalmente, obrigada ao jctp, pessoa que mais mexeu comigo durante estes escassos seis meses e que deitou por terra muitas das minhas certezas. Obrigada por me fazeres crescer!
Até breve, espero.
posted by Rita at 09:35
Suponho que já não tenho vontade de continuar o a-mar, que já não me faz sentido continuar o a-mar.
Fazem-se afectos na blogosfera. Há pessoas que conhecemos, ou melhor, reconhecemos, porque têm algo que nós também temos, e de que passamos a gostar. Falo agora delas e se, possível, também para elas.
O meu obrigada a todas, não por me terem lido, mas por me terem permitido lê-las, no que isso tem, apesar de tudo, de subjectivo, e que é ler-me também. O meu mundo ficou maior!
Obrigada ao Jorge, porque tudo o que constrói me parece sempre sério e belo.
Obrigada ao mfc, que há muito que deixou de me visitar, ele que sempre me visitava no impossibilidades, mas cuja ausência me fez repensar a importância de não desistirmos, mesmo quando estamos sós e, sobretudo, a importância de cuidarmos melhor dos nossos afectos.
Obrigada ao jrd, também ausente.
Obrigada ao Pedro Ferreira, por ser sempre igual a ele próprio.
Obrigada à Elsa, amiga da vida, dita real, que me mostra sempre o outro lado da Lua ou do Sol e que me faz relembrar os momentos mais bonitos da minha infância.
Obrigada ao Alba, pela sua consistência, coragem e perseverança.
Obrigada à Maria do Rosário, cujas visitas silenciosas me fizeram acreditar que haveria algo em mim de imutável, ela que me leu no impossibilidades e que pareceu reconhecer-me também aqui, ela que, como eu, adora ser mãe.
Obrigada ao Pedro Estácio e ao Lino, do Porto, que me mostraram, de outra forma, o calor daquela cidade.
Obrigada ao Pedro Farinha e a toda a equipa do Farol das Artes, pela paz interior e harmonia que sempre me inspiraram e inspiram.
Obrigada ao jmnk, que acabo de conhecer mas que já me faz pensar.
Obrigada a todos os que não referi, mas que constam da minha lista de favoritos, e que também ajudaram a tornar maior o meu mundo.
Finalmente, obrigada ao jctp, pessoa que mais mexeu comigo durante estes escassos seis meses e que deitou por terra muitas das minhas certezas. Obrigada por me fazeres crescer!
Até breve, espero.
posted by Rita at 09:35
Lido na diagonal o “A(mar)”, ficou-me a vontade de ler mais Rita, de ir até aos seus blogs anteriores, esse “im(possibilidades”, que mudou de poiso em Novembro de 2005, e passou a “im(possibilidades 2”, transformando depois neste “A(mar)”, e embrenhei-me ainda mais e fui descobrir colaboração sua num tal “o princípio e o fim”, blog sobre livros, que são lidos e referenciados também por outros loguistas: katraponga, broa quente, Ana, jmnk, kyler, Isabela, Carrie, Daniela, Susana e Bês. Uma boa iniciativa que seria muito melhor se os colaboradores fossem mais persistentes. A ideia é óptima.
A Rita tem sempre uma tonalidade de nostalgia a roçar a tragédia em tudo o que escreve. Há uma sombra de solidão e tristeza em muitos textos. Há uma mistura de dor e prazer, de cumplicidade e insularidade que tornam os seus textos entre lamentos e gritos que nos tocam. Para essa solidão, para essa forma distante de olhar a vida (que, no entanto, necessita tanto de companhia), há muitas formas de resposta. Uma delas é não abandonar os seus post no “A(mar)” ou noutro blog qualquer, e não esquecer o que a própria Rita citou de Rouseau:
Não há felicidade solitária
É a fraqueza do homem que o torna sociável; são as nossas misérias comuns que levam os nossos corações a interessar-se pela humanidade: não lhe deveríamos nada, se não fôssemos homens. Todos os afectos são indícios de insuficiência: se cada um de nós não tivesse necessidade dos outros, nunca pensaria em unir-se a eles. Assim, da nossa própria enfermidade, nasce a nossa frágil felicidade. Um ser verdadeiramente feliz é um ser solitário; só Deus goza de uma felicidade absoluta; mas qual de nós faz uma ideia do que isso seja? Se algum ser imperfeito se pudesse bastar a si mesmo, de que desfrutaria ele, na nossa opinião? Estaria só, seria miserável. Não posso acreditar que aquele que não precisa de nada possa amar alguma coisa: não acredito que aquele que não ama nada se possa sentir feliz. - Jean-Jacques Rousseau, in 'Emílio'
Rita do A(mar), não vá, fique. Quero ler mais textos seus. Eu e muitos outros amigos e leitores seus.
Não resisti a “roubar” esta sequência de fotogramas de “Der Himmel Uber Berlin” e já agora acrescento-lhe um texto meu de há uns anos onde se destca bem a minha paixão por esta obra única.
Segunda-feira, Junho 05, 2006
Der Himmel Uber Berlin, Wim Wenders
É a fraqueza do homem que o torna sociável; são as nossas misérias comuns que levam os nossos corações a interessar-se pela humanidade: não lhe deveríamos nada, se não fôssemos homens. Todos os afectos são indícios de insuficiência: se cada um de nós não tivesse necessidade dos outros, nunca pensaria em unir-se a eles. Assim, da nossa própria enfermidade, nasce a nossa frágil felicidade. Um ser verdadeiramente feliz é um ser solitário; só Deus goza de uma felicidade absoluta; mas qual de nós faz uma ideia do que isso seja? Se algum ser imperfeito se pudesse bastar a si mesmo, de que desfrutaria ele, na nossa opinião? Estaria só, seria miserável. Não posso acreditar que aquele que não precisa de nada possa amar alguma coisa: não acredito que aquele que não ama nada se possa sentir feliz. - Jean-Jacques Rousseau, in 'Emílio'
Rita do A(mar), não vá, fique. Quero ler mais textos seus. Eu e muitos outros amigos e leitores seus.
Não resisti a “roubar” esta sequência de fotogramas de “Der Himmel Uber Berlin” e já agora acrescento-lhe um texto meu de há uns anos onde se destca bem a minha paixão por esta obra única.
Segunda-feira, Junho 05, 2006
Der Himmel Uber Berlin, Wim Wenders
"AS ASAS DO DESEJO"
Depois de obras como “O Amigo Americano” ou “Alice nas Cidades”, Wim Wenders lança-se na realização de “As Asas do Desejo”, um título de 1987, rodado portanto somente dois anos antes da queda do muro de Berlim.
A um período de um certo nihilismo ideológico, representado por exemplo por “Alice nas Cidades”, sucede uma nova forma de encarar a realidade. Wim Wenders assume um olhar metafísico, ou pelo menos denotando uma procura do espiritual de que “As Asas do Desejo” é não só um claro síntoma, como um excelente e belissimo exemplo.
Dois anjos, Daniel e Cassiel, descem à cidade. A cidade é Berlim, terra dividida pelo muro. Os anjos descem do céu, misturam-se com os humanos, observam-nos nas ruas e nas bibliotecas, no circo ou durante a rodagem de um filme... E descobrem, um pouco por todo o lado, uma certa tristeza, uma visível indiferença, uma profunda incomunicabilidade. Entre os humanos, um antigo anjo é hoje actor de cinema e chama-se Peter Falk. Os anjos descobrem mais, descobrem por entre os homens que se ignoram, o amor possível de um anjo por uma trapezista de nome Marion. O amor de um anjo que desceu do céu à terra, por uma mulher que diariamente partindo da terra tenta agarrar o céu, equilibrando-se no frágil fio da sua arte. É um momento mágico de cinema, este que Wim Wenders consegue neste filme admirável, único, surpreendente.
Enquanto o cinema recria o pesadelo nazi, através do filme dentro do filme, Wim Wenders retrata-nos a cidade dividida, a Alemanha dividida, o mundo dividido. Primeiramente a preto e branco, porque os anjos não conhecem as cores; depois, a cores, porque os anjos quizeram experimentar a natureza do humano, e se confrontam com os perigos bem complexos da realidade.
Mais do que um filme, “As Asas do Desejo” é um poema sobre o destino do homem. Os poemas só muito dificilmente se explicam. Sentem-se, ou não se sentem. Gostaria muito de partilhar convosco esta experiência que julgo singular na história do cinema, e dar simplesmente as boas vindas aos anjos que vêm lá "do céu sobre Berlim". Assim, sem mais. (LA. 29.10.1994).
AS ASAS DO DESEJO
Título original: Der Himmel Uber Berlin; Realização: Wim Wenders (RFA, 1987); Argumento: Wim Wenders e Peter Handke; Fotografia (p/b e cor): Henri Alekan; Música: Jurgen Knieper; Montagem: Peter Przygodda; Direcção artística: Heidi Ludi; Produção: Wim Wenders e Anatole Dauman /Argos Films, Road Movie, Westdeutscher Rundfunk.
Intérpretes: Bruno Ganz, Peter Falk, Solveig Dommartin, Otto Sander, Curt Bois, etc. Duração: 130 minutos.
4 comentários:
obrigada Lauro.
atento.
excelente escolha.
beijo.
:)
Uma das últimas obras de arte absolutas do Cinema. Mesmo a continuação, "In weiter Ferne, so nah" (tão longe, tão perto - numa tradução livre) é capaz de nos dar essa sensação de leveza, de desprendimento da vida terrena.
Os anjos estão aí. Mesmo ao virar da esquina. Basta acreditar
Agradeço a escolha e as palavras.
Sinto-me lisojeada.
Os poemas só muito dificilmente se explicam. Sentem-se, ou não se sentem.
Precisamente.
Até breve, espero.
A Rita escreveu-me:
"Como poderia levar a mal semelhante gentileza? Agradeço as suas palavras de ânimo e aproveito para o informar que já tenho um novo blog de nome PANFLETO CONTRA A PAISAGEM, cujo link também lhe remeto: http://panfleto-contra-a-paisagem.blogspot.com. Até Breve."
Digo mesmo até já. Já lá fui e promete. Afinal a Rita gosta sobretudo de mudar de blog. Uma insatisfeita. Fica-lhe bem. Boa sorte para o Pafleto contra a Paisagem"! LA
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