segunda-feira, novembro 06, 2006

PARA SEMPRE

VERGÍLIO FERREIRA
(1916-1996)


Foi em Seia que conheci Vergilio Ferreira, durante a rodagem de "Cântico Final", de Manuel Guimarães.

Foi em Seia que preparei "Prefácio a Vergilio Ferreira", "Vergilio Ferreira numa "Manhã Submersa" e "Manhã Submersa".
Foi em Seia que estive instalado, na estalagem da cidade, com a equipa de filmagens, durante e rodagem de "Manhã Submersa".
Foi em Seia que iniciei, há doze anos, um festival de cinema e ambiente, o "Cine Eco".
Foi em Seia, no I Cine Eco, em 1995, que fiz a primeira homenagem a Vergilio Ferreira, num ciclo cinematográfico a que dei o título "Vergilio Ferreira, a Serra e o Cinema" (que está na origem de um livro, hoje completamente esgotado).
É de Seia que parto todos os anos, durante a época do Festival, numa fuga às sessões de cinema, para visitar Melo, terra natal de Vergilio Ferreira, e Linhares da Beira, terra onde filmei grande parte de "Manhã Submersa".
De Seia parto, todos os anos, depois de 1996, rumo a Melo e Linhares, com a saudade nos olhos, junto de amigos que amo e com quem quero compartilhar o silêncio da perca e a alegria da criação. Com a Serra por testemunha, por ali morro um pouco, por ali renasço a cada ano.
Este ano, mais uma vez assim foi. Faz 90 anos que Vergilio Ferreira nasceu, faz 10 anos que faleceu. No cemitério local, a lápide cinzenta, recorda o nome do escritor, virado à Serra que o viu nasceu e o recolheu depois da morte. Na aldeia, com placa a sublinhar o facto, lá está a casa onde nasceu e onde filmei a mãe do escritor caminhando para a câmara, ao longo de um corredor fantasmático, num dos planos mais bonitos do "meu" cinema. ("Aqui estou. Na casa grande e deserta. Para sempre").
Ali está. Para Sempre. Um escritor para a Eternidade.

A casa onde nasceu.

A campa, a assinatura para a eternidade.

virado à serra, onde nasceu, onde se recolheu.

PS. Queria tanto mostrar-te Linhares, visitar contigo os lugares mágicos, onde com dor e alegria se cria. Não deu. Mas mandaste-me uma página da "Manhã Submersa", na letra inconfundível de Vergilio Ferreira. Momentos de criação que se misturam com outros, de destruição. Olha a escrita, minúscula, atormentada, as palavras, a rasura, a obstinação, a procura, o escreve e rescreve, a dureza aqui, a leveza além, a tortura de criar.

5 comentários:

Anónimo disse...

este foi o melhor momento do seu blog. Foi em Seia, foi em Seia.

Matilda Penna disse...

Está ótimo esse seu post, Lauro António, cheio de sentimento, de beleza e com belas fotos.
gostei muito.
Beijos, :).

Anónimo disse...

H. Devias ter vindo comigo. Depiois vias o filme, os filmes que fiz sobre ele. Temos que falar disso. A sério. Um beijo. LA

Anónimo disse...

Vergílio Ferreira é o meu escritor preferido. sei frases de cor. adoro os romances líricos. adorei "Pensar" com ele... se ele soubesse do meu maravilhamento diante das coisas que descobri com ele, voltaria para falar comigo e ser a "Estrela Polar", ficava ao menos alguns dias...

quando mudei de país, foi os livros dele que trouxe. a minha tese começa e termina com palavras deles. o meu trabalho de seminário de literatura foi sobre ele...

e ambos temos algo que ver com Melo. ele a aldeia. eu o apelido...

"Não tenhas a pretensão de ser inteiramente novo no que pensares ou disseres. Quando nasceste já tudo estava em movimento e o que te importa, para seres novo, é embalares no andamento dos que vinham detrás." Vergílio Ferreira, Pensar (1992; 226)

Anónimo disse...

Não me sabia uma pessoa invejosa. Mas confesso, que neste momento, é isso que sinto. Inveja. Tua. Queria tanto ter estado no teu lugar. Tanto tanto tanto tanto... Acho que depois de veres o meu blog deves ter uma pequena noção disso... Foi o homem que me mudou a vida, através das suas palavras. Grande parte do que sou hoje, é o resultado de ter crescido com ele... E daí decorre a inveja. Espero que o percebas, não é por mal. Mas gostava tanto de o ter conhecido. Mas as palavras continuam entre nós. Para Sempre.

Beijo

P.S. O meu livro mais precioso como é o Para Sempre, mas não a versão "normal" da Bertrand (essa é a que está sublinhada!). Tenho uma edição limitada da Asa de 1993 com ilustrações de Júlio Resende. Ainda torna o livro mais bonito, se possível!