sexta-feira, março 02, 2007

TEATRO EM OEIRAS - Felizmente não é Natal

"Felizmente não é Natal"
em Oeiras

"Felizmente não é Natal", comédia do catalão Carles Alberola, estreou ontem no Centro de Artes Dramáticas de Oeiras, no Auditório Eunice Munoz, bem no centro antigo da cidade. No elenco, dois “monstros sagrados” do nosso teatro: Lourdes Norberto e Manuela Maria, acompanhados por Paula Lobo Antunes e Álvaro Faria. Uma lição da arte de representar que sabe bem ver e deliciarmo-nos com ela. Lourdes Norberto e Manuela Maria são magníficas, completam-se, opõem-se, mesclam-se, juntam-se, afastam-se e, no seu diálogo, criam personagens que humanizam e se aproximam de nós de forma vibrante, secreta, discreta.
Nascido em Alzira, em 1964, Carles Alberola diz da obra que ela "retrata as distintas visões" que duas mulheres alojadas num Lar para idosos "têm da solidão como condenação". "Uma delas - explicou Alberola - procura refúgio na ficção, inventando mês após mês a visita do seu filho, que não vai vê-la há seis anos, e a outra luta por cada pequeno fragmento de felicidade que o dia-a-dia lhes pode dar, enquanto espera que a morte lhe tire tudo". O dramaturgo contou ainda ter sido uma frase da mãe que o inspirou a escrever este texto: "A nós, velhos, já ninguém quer. Incomodamos".
Um lar de terceira idade parece não ser cenário apropriado para uma comédia, mas funciona bem. Aquele quarto que nada tem de especial e por onde perpassa uma solidão imensa enche-se de amargura mas também da ironia e do sarcasmo, da ternura e da fragilidade de duas mulheres que Lourdes Norberto e Manuel Maria “inventam” com uma agilidade e segurança notáveis. A encenação é de Celso Cleto e tem a vantagem de ser eficaz, sóbria, procurando sobretudo sublinhar o trabalho dos actores, o que já tinha sido a receita de “Miss Dayse”.
Para quem, não há muito, acompanhou a mãe durante três semanas num lar destes, e depois a teve de conduzir de ambulância ao hospital, donde não sairia mais, uma obra destas poderia ser difícil de suportar. Mas o registo é amável e o retrato sincero e justo. A ironia é terna, o olhar meigo, sem ser piegas. Boa peça, entrelaçada num diálogo escorreito, traduzida com a justeza de sempre de Marta Mendonça. A iluminação é aconchegante quando a penumbra invade o quarto, demasiado agressiva no restante tempo, mas globalmente este é um espectáculo que sabe bem ver.
"Felizmente não é Natal" terá mais três representações no Centro, no Auditório Municipal Eunice Muñoz, às 21:30, nos dias 2 e 3 de Março e às 17:00 no dia 4. Inicia depois uma digressão que levará o espectáculo aos Açores e ao Porto, regressando a Oeiras, para mais uma série de representações entre Abril e Junho.

2 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Duas grandes actrizes, alvo da minha maior admiração!
A.P.

M.M. disse...

Obrigada, caro Lauro.
Foi um prazer rever-vos.