na última noite em que morri. vi a curva da lua
sublinhar uma só palavra. ajoelhei-me à porta da
igreja. encostei a cabeça ao peito. depositei-me
na caixa das esmolas. eis onde repouso.
a essa hora do amor. o sino toca as lamentações.
vêm das campas os gatos mais sombrios. abrem-se
covas a músculo no cemitério. os mortos cantam
sempre a mesma canção. coro inaudível.
dou o braço a comer às múmias. tu queimas a vela
dentro do frasco. o papel evapora-se num anel de
cinza. dançam as tíbias como lume. chiam espadas
de fumo. comem-se os restos mortais. fome santa.
mas isso foi há muito tempo atrás. na véspera da
ira do senhor. a chave rompe o saco lacrimal das
jarras. fere o tímpano dos surdos. arde muda. os
mortos desistem de cantar. os gatos somem-se.
a solidão progride rua acima. detém-se junto ao
altar. mete uma moeda na caixa. acende-se a lua.
um blogue a não perder, assinado pela Alice.
Visitem-no que vale a pena.
A Alice ainda mora ali.
O fundo é cinza, a poesia triste,
mas a sensibilidade existe e mostra-se em tudo.
4 comentários:
L.A., costumo visitar com prazer o blog da Alice. É, de facto, repleto de delicada sensibilidade. Faço minhas as suas palavras acerca d' "A Tradução da Memória".
A.P.
bom dia, lauro antónio. estou sem palavras. agradeço o post. e a sua intenção. beijinho muito grande.
muito obrigada. bem haja!
pois, vale a pena, mesmo L.A.!!!
grande a poesia!
beijo
B.
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A Alice é uma das almas nunca penadas e sempre dotadas do sumo que exala das musas!
Referência mais do que merecida para uma companheira firme no caminho calcorreado pelo instinto das emoções!
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