segunda-feira, junho 11, 2007

NOS TEMPOS DE "GABRIELA"


Fala-se tanto em telenovelas que me apeteceu recordar como tudo começou em Portugal. Há trinta anos atrás. Eramos jovens e virgens de telenovelas. Apareceu "Gabriela, Cravo e Canela."


O aparecimento da telenovela “Gabriela” em Portugal foi um acontecimento único, a vários níveis. Desde logo, porque marcou a estreia do formato telenovela diária nos écrans portugueses. Depois porque, sendo uma obra adaptada de um romance de Jorge Amado, garantia à partida uma qualidade e interesse acima da média (não o sabíamos nessa altura, mas viemos a confirmá-lo posteriormente: “Gabriela” foi, se não a melhor, uma das melhores telenovelas produzidas no Brasil). Depois, tanto criadores e técnicos, a começar pelo realizador Walter Avancini, como o elenco, eram de primeiríssima grandeza, com Sónia Braga, José Wilker, Armando Bogus, Dina Sfat, Paulo César Pereio, Paulo Gracindo, Ary Fontoura, e tantos outros, em plena forma e carreiras ascensionais.
Era uma delícia descobrir estes actores e vê-los trabalhar com o sabor de uma língua portuguesa re-criada, re-inventada. A história era magnífica, a forma como as situações se multiplicavam e se entrechocavam um modelo criativo brilhante, os cenários naturais espantosos, descobrindo-nos, a nós portugueses, uma cultura e uma civilização irmãs, onde nos víamos igualmente reflectidos com nitidez.
Portugal parava diariamente à hora da telenovela, o parlamento fechou mais cedo nos derradeiros dias da sua exibição, todos os programas se organizavam em redor do episódio do dia - não era alienação colectiva, era apenas o sedutor poder do espectáculo no seu melhor. A sociedade portuguesa transformou-se obviamente assistindo a esta obra: adoptou o sotaque brasileiro como segunda língua, adoptou as actrizes e os actores brasileiros como vedetas indispensáveis em qualquer festejo fraterno, adoptou usos e costumes, expressões idiomáticas, e começou a rebolar a bunda ao som do samba. Calmamente. Ao ritmo nacional.
Depois, houve algumas outras telenovelas que quase roçaram o céu (estou a lembrar-me por exemplo de “Roque Santeiro”), mas o milagre não voltou a surtir o mesmo efeito. “Gabriela” foi o estado de graça irrepetível. Como será revê-la, hoje em dia, quase trinta anos depois? Certamente um prazer, mas não um prazer igual ao primeiro. Saravah!


4 comentários:

Anónimo disse...

É graças à telenovela "Gabriela" que eu tenho o nome de Sónia.
Tenho muita pena que Armando Bogus tenha morrido tão cedo, porque era um actor de mão cheia. Lembro-me muito bem do personagem que interpretou em Roque Santeiro, o Zé das Medalhas. Para já não falar de José Wilker que me faz lembrar imenso o Jack Nickolson e que também acho o máximo.

Ana Paula Sena disse...

Saravah, meu irmão...! :)
Inesquecível, a "Gabriela"! Não só pela qualidade e pela graça como também pelo tempo em que havia tempo para apreciar.

Ouriço disse...

E a Sónia Braga continua na maior...

Bracken disse...

Olá! Já tivemos oportunidade de a ver de novo, se não estou em erro, "Gabriela" foi transmitida 4 vezes, a última das quais na SIC, há três anos. E, de facto, o sabor não é o mesmo. Mas, para mim, ainda melhor que "Roque Santeiro" foram a "Tieta" e "Vale Tudo".
Abraço,
Bracken