CALL GIRL
“Call Girl”, de António Pedro Vasconcelos (o realizador de “Oxalá”, “Aqui D’ El Rey”, "O Lugar do Morto", “Jaime" ou “Os Imortais”, estes últimos alguns dos maiores sucessos do cinema português), volta a demonstrar o que já se sabia sobre o autor: bom director de actores e contador de histórias, homem apostado num cinema de fácil contacto com o público, pouco preocupado em questões de autoria ou de singularidades de um cinema ou de um autor. Critico radical e interveniente, de formação “cahierista” dos anos de capa amarela, APV não se converteu num realizador “autor”, mas sim num interessante “contador de histórias”, aparentemente mais ligado a aspirações de uma produção comercial continua do que a uma visão pessoal do cinema. “Call Girl” confirma-o. Não será, porém, preciso pugnar por um cinema de autor para se fazerem filmes de autor. Howard Hawks, Nicholas Ray, Jacques Tourneur, para só citar alguns nomes, nunca pensaram estarem a realizar “filmes de autor” quando rodavam “Ter ou não Ter”, “Party Girl” ou “Out of the Past” respectivamente. Acontece que tinham uma visão pessoal, única e inconfundível do mundo e do cinema e isso mesmo ficava à mostra nos seus filmes. Era não só cinema do melhor, denso, marcante, como obras carregadas de obsessões e fantasma de colheita própria.
Infelizmente ou não, o mesmo não se passa com APV. O seu cinema é eficaz, escorreito, tecnicamente correcto, mas pouco o distingue de uma qualquer produção televisiva de série B. Não falamos de “24”, “Ficheiros Secretos”, “CSI” ou “Prison Breack”. Falamos de banais séries americanas que conta uma história que se acompanha com algum suspense e pouco mais. É o caso de “Call Girl”.
Uma história aceitável: Carlos Meireles (Nicolau Breyner), presidente de uma autarquia alentejana, é homem incorruptível, tem lá pela terra uns sobreiros cobiçados por construtores de campos de “golf”, mas não cede ao interesse dos privados, em defesa do que sente ser o interesse público. Mas um empresário estrangeiro (Anton Skrzypiciel) não desarma enquanto o seu peão de brega, Mouros (Joaquim de Almeida), de conluio com o Ministro da Saúde (Virgílio Castelo), não lhe atira ao caminho uma prostituta de luxo, Maria (Soraia Chaves), que o deixa verdadeiramente obcecado. Entretanto, Madeira (Ivo Canelas) e Neves (José Raposo), polícias da Judiciária, cheiram no ar os fumos da corrupção e atiram-se ao assunto.
A investigação é do que consta o filme, bem condimentado com cenas de escaldante sedução por parte da “call girl”, que torna Meireles um sexodependente, e com diálogos recheados de vernáculos palavrões por parte da dupla de polícias, mas igualmente bem acompanhados por toda a gente que os rodeia. Entre seduções brejeiras em quartos de hotel e tonitruantes peixeiradas o filme conta a sua história e avança. Nada mau para um cinema que a pouco mais aspira.
Mas “Call Girl” merece atenção especial num outro aspecto, esse sim verdadeiramente fora de série. Refiro-me à interpretação, onde se destacam trabalhos notáveis de alguns actores. Desde logo o brilhante Nicolau Breyner, que chega a ser comovente, depois a fulgurante composição de Raúl Solnado, num trabalho genial, depois a dupla Ivo Canelas e José Raposo, que são igualmente notáveis na dupla de agentes da PJ. Joaquim de Almeida compõe com ironia e desenvoltura um mafioso gay que ilustra com especial sublinhado a sua filmografia. Virgílio Castelo destaca-se igualmente com um trabalho de composição divertido e saboroso. José Eduardo (Gomes), Maria João Abreu (Amália), Custódia Galego (Odete), Ana Padrão (Inês) e Luís Mascarenhas (Matos), entre muitos outros, cumprem com segurança o que lhes era pedido.
Falta uma última palavra para Soraia Chaves que, depois de ter dado nas vistas em "O Crime do Padre Amaro", voltar a sobressair nesta “Call Girl” escrita à sua medida. Digamos que neste tipo de trabalhos, onde expõe mais o corpo do que a alma, chega a ser convincente (sobretudo neste filme, onde APV a dirige muito bem). Resta saber o que se pode esperar mais desta bela e sensual mulher, quando for chamada a revelar mais a sua interioridade e menos a volptuosa aparência. Mas haverá muitos entre vós que me perguntam: e que interessa isso se o que hoje se vê é mais do que suficiente? Pois bem, interessa pouco para quem assim pensa, e “Call Girl” merece inteiramente uma visita, não tanto pela denúncia da corrupção (que se tornou um lugar comum que procura explicar tudo!), mas pelos actores brilhantes que lhe dão corpo. E pelo corpo que lhe dá corrupção.
Parece, pois, que depois de “Corrupção” e de “Call Girl”, o negócio da corrupção não vai tão cedo desaparecer do cinema nacional. Após a exploração dos “faits divers” no “vende-vende” dos jornais e na televisão, chegou a vez do cinema. A ameaça de uma longa fornada está eminente.
Infelizmente ou não, o mesmo não se passa com APV. O seu cinema é eficaz, escorreito, tecnicamente correcto, mas pouco o distingue de uma qualquer produção televisiva de série B. Não falamos de “24”, “Ficheiros Secretos”, “CSI” ou “Prison Breack”. Falamos de banais séries americanas que conta uma história que se acompanha com algum suspense e pouco mais. É o caso de “Call Girl”.
Uma história aceitável: Carlos Meireles (Nicolau Breyner), presidente de uma autarquia alentejana, é homem incorruptível, tem lá pela terra uns sobreiros cobiçados por construtores de campos de “golf”, mas não cede ao interesse dos privados, em defesa do que sente ser o interesse público. Mas um empresário estrangeiro (Anton Skrzypiciel) não desarma enquanto o seu peão de brega, Mouros (Joaquim de Almeida), de conluio com o Ministro da Saúde (Virgílio Castelo), não lhe atira ao caminho uma prostituta de luxo, Maria (Soraia Chaves), que o deixa verdadeiramente obcecado. Entretanto, Madeira (Ivo Canelas) e Neves (José Raposo), polícias da Judiciária, cheiram no ar os fumos da corrupção e atiram-se ao assunto.
A investigação é do que consta o filme, bem condimentado com cenas de escaldante sedução por parte da “call girl”, que torna Meireles um sexodependente, e com diálogos recheados de vernáculos palavrões por parte da dupla de polícias, mas igualmente bem acompanhados por toda a gente que os rodeia. Entre seduções brejeiras em quartos de hotel e tonitruantes peixeiradas o filme conta a sua história e avança. Nada mau para um cinema que a pouco mais aspira.
Mas “Call Girl” merece atenção especial num outro aspecto, esse sim verdadeiramente fora de série. Refiro-me à interpretação, onde se destacam trabalhos notáveis de alguns actores. Desde logo o brilhante Nicolau Breyner, que chega a ser comovente, depois a fulgurante composição de Raúl Solnado, num trabalho genial, depois a dupla Ivo Canelas e José Raposo, que são igualmente notáveis na dupla de agentes da PJ. Joaquim de Almeida compõe com ironia e desenvoltura um mafioso gay que ilustra com especial sublinhado a sua filmografia. Virgílio Castelo destaca-se igualmente com um trabalho de composição divertido e saboroso. José Eduardo (Gomes), Maria João Abreu (Amália), Custódia Galego (Odete), Ana Padrão (Inês) e Luís Mascarenhas (Matos), entre muitos outros, cumprem com segurança o que lhes era pedido.
Falta uma última palavra para Soraia Chaves que, depois de ter dado nas vistas em "O Crime do Padre Amaro", voltar a sobressair nesta “Call Girl” escrita à sua medida. Digamos que neste tipo de trabalhos, onde expõe mais o corpo do que a alma, chega a ser convincente (sobretudo neste filme, onde APV a dirige muito bem). Resta saber o que se pode esperar mais desta bela e sensual mulher, quando for chamada a revelar mais a sua interioridade e menos a volptuosa aparência. Mas haverá muitos entre vós que me perguntam: e que interessa isso se o que hoje se vê é mais do que suficiente? Pois bem, interessa pouco para quem assim pensa, e “Call Girl” merece inteiramente uma visita, não tanto pela denúncia da corrupção (que se tornou um lugar comum que procura explicar tudo!), mas pelos actores brilhantes que lhe dão corpo. E pelo corpo que lhe dá corrupção.
Parece, pois, que depois de “Corrupção” e de “Call Girl”, o negócio da corrupção não vai tão cedo desaparecer do cinema nacional. Após a exploração dos “faits divers” no “vende-vende” dos jornais e na televisão, chegou a vez do cinema. A ameaça de uma longa fornada está eminente.
in "Conversas de Café"
2 comentários:
pois... excelentes actores, efectivamente.
Oh Barb Michelen não te preocupes. Segue lá viagem e continua a trabalhar em casa. Quanto ao prazer de "mee you", não dei por nada. devia estar distraído. Mas, "not problem". Eu passo bem. Sobre o site, não vou lá, não. Ele há por aí tanto vilão!
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