ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA
(1927-2008)
“CATARINA OU O SABOR DA MAÇÔ,
(...) Já de seguida, uma novela portuguesa, de António Alçada Baptista, o mesmo que surpreendera com “Os Nós e Os Laços” e que regressa com “Catarina ou o Sabor da Maçã” um novo capítulo a acrescentar aos seus «Nós» e aos seus «Laços».
António Alçada Baptista pertence a uma geração, e a um grupo que, quando eu andava na faculdade e se começou a publicar “O Tempo e o Modo”, era conhecida por “católicos progressistas”. Havia os que os compreendiam e os que, ironicamente, lhes chamavam “os católicos que descobriram o sexo”. “O Tempo” foi passando e “O Modo” foi-se mantendo: Alçada Baptista foi publicando as suas obras, quase sempre confessionais, mesmo quando políticas e polémicas, como “As Peregrinações Interiores” ou os “diálogos com Marcelo Caetano”.
As “peregrinações interiores” continuam com “Os Nós e os Laços” ou este “Catarina”. Escrito na primeira pessoa do singular, com o autor fazendo-se passar pelo personagem, esta novela de quase cem páginas, a meio caminho entre o memoralismo e o moralismo moderno, desenvolto, pudico e elegante, mas sem pruridos, é bem o retrato do Alçada Baptista que conhecemos das “charlas” televisivas, ou das conversas em casa de amigos. Com uma escrita sóbria mesmo aristocrata, preocupada com as novas representações do Demónio na Terra, mas consciente da liberdade individual e da falibilidade das grandes acções, excelente contador de histórias que sabiamente se distancia dos mecanismos que desencadeia, António Alçada Baptista cita “O Livro de São Cipriano” a propósito de «amor e droga» na Lisboa de hoje, criando figuras com densidade e verdade deambulando por ambientes que se reconhecem facilmente como reais. A um tom desencantado e simultaneamente optimista que faz grande parte do fascínio desta obra que se lê de um fôlego, como de um fôlego parece ter sido escrita, dada a espontaneidade e escorreiteza do verbo. Sedução que se instala ainda pela recuperação de um certo arcaísmo de conceitos e valores, que se inscreve no interior de uma moderna ficção filosófica. (“Catarina ou o Sabor da Maçã”, Ed. Presença).
(1927-2008)
Chegou-me agora a notícia através de alguns blogues por onde deambulava. Com 81 anos, faleceu António Alçada Baptista. Grande escritor, personalidade que vincou a vida portuguesa com a sua presença e o seu verbo, a sua sensibilidade e uma delicadeza de comunicação muito especial, que o levou a definir-se a si próprio como "escritor de afectos", "com uma sensibilidade feminina", foi director da revista “O Tempo e o Modo” (1ª série), autor de obras de pendor filosófico, como “Peregrinação Interior - Reflexões sobre Deus” (1971) ou “Peregrinação Interior II - O Anjo da Esperança” (1982) e ficcionista de relevo, sobretudo em “Os Nós e o Laços” (1985), para mim o seu melhor trabalho neste domínio.
Escrevi sobre esse romance uma prosa que, infelizmente, não retenho, mas vasculhando nos recortes de “A Capital”, onde eu tive durante anos um secção a que chamei “Sessões Continuas”, descubro uma recensão a uma outra novela sua. Aqui a reproduzo como homenagem a um homem bom, de gesto afável, de palavra sensível, óptimo companheiro de tertúlias, amante da liberdade e da justiça. Amante da “Mulher” igualmente, o que só lhe ficava bem.
Escrevi sobre esse romance uma prosa que, infelizmente, não retenho, mas vasculhando nos recortes de “A Capital”, onde eu tive durante anos um secção a que chamei “Sessões Continuas”, descubro uma recensão a uma outra novela sua. Aqui a reproduzo como homenagem a um homem bom, de gesto afável, de palavra sensível, óptimo companheiro de tertúlias, amante da liberdade e da justiça. Amante da “Mulher” igualmente, o que só lhe ficava bem.
“CATARINA OU O SABOR DA MAÇÔ,
DE ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA
(...) Já de seguida, uma novela portuguesa, de António Alçada Baptista, o mesmo que surpreendera com “Os Nós e Os Laços” e que regressa com “Catarina ou o Sabor da Maçã” um novo capítulo a acrescentar aos seus «Nós» e aos seus «Laços».
António Alçada Baptista pertence a uma geração, e a um grupo que, quando eu andava na faculdade e se começou a publicar “O Tempo e o Modo”, era conhecida por “católicos progressistas”. Havia os que os compreendiam e os que, ironicamente, lhes chamavam “os católicos que descobriram o sexo”. “O Tempo” foi passando e “O Modo” foi-se mantendo: Alçada Baptista foi publicando as suas obras, quase sempre confessionais, mesmo quando políticas e polémicas, como “As Peregrinações Interiores” ou os “diálogos com Marcelo Caetano”.
As “peregrinações interiores” continuam com “Os Nós e os Laços” ou este “Catarina”. Escrito na primeira pessoa do singular, com o autor fazendo-se passar pelo personagem, esta novela de quase cem páginas, a meio caminho entre o memoralismo e o moralismo moderno, desenvolto, pudico e elegante, mas sem pruridos, é bem o retrato do Alçada Baptista que conhecemos das “charlas” televisivas, ou das conversas em casa de amigos. Com uma escrita sóbria mesmo aristocrata, preocupada com as novas representações do Demónio na Terra, mas consciente da liberdade individual e da falibilidade das grandes acções, excelente contador de histórias que sabiamente se distancia dos mecanismos que desencadeia, António Alçada Baptista cita “O Livro de São Cipriano” a propósito de «amor e droga» na Lisboa de hoje, criando figuras com densidade e verdade deambulando por ambientes que se reconhecem facilmente como reais. A um tom desencantado e simultaneamente optimista que faz grande parte do fascínio desta obra que se lê de um fôlego, como de um fôlego parece ter sido escrita, dada a espontaneidade e escorreiteza do verbo. Sedução que se instala ainda pela recuperação de um certo arcaísmo de conceitos e valores, que se inscreve no interior de uma moderna ficção filosófica. (“Catarina ou o Sabor da Maçã”, Ed. Presença).
1 comentário:
beijos.
para ti.
Amigo!
imf
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