quarta-feira, janeiro 14, 2009

CINEMA: CONTRATO

CONTRATO
Confesso que fui para a antestreia com receio. Julgo que Nicolau Breyner é presentemente um dos melhores actores portugueses, o que tem demonstrado ao longo de vários filmes, muitos dos quais quase só valem pelo seu trabalho. Depois, Nicolau Breyner é um amigo e não gostaria de ter de fugir escada abaixo do S. Jorge logo que a palavra Fim se projectasse, para não ter de ser sincero com a personagem em causa. Quando não gosto, não gosto, seja amigo ou desconhecido. E aos amigos sobretudo não se pode mentir. Por isso às vezes o melhor mesmo é a piedosa fuga à realidade dos factos. Neste caso não foi preciso e fiquei com gosto até final para lhe dar um abraço de parabéns. “Contrato”, a sua estreia na realização, é um filme bastante interessante, e julgo que um dos melhores filmes abertamente comerciais que vi nos últimos anos saído dos estúdios portugueses.
"Contrato" é a adaptação de "Requiem para D.Quixote", policial de Dennis McShade (pseudónimo de Dinis Machado), segundo versão de Pedro Bandeira Freire, com argumento assinado por Álvaro Romão e Nicolau Breyner. Não será bem “policial”, mas “filme negro”, já que se trata de um ajuste de contas entre mafiosos do sub mundo do crime. Nada de muito intelectual, deliberadamente: um assassino profissional é contratado para matar um tal Giorgio Thanatos que gosta de arte e vive por vezes em Portugal (Sintra, mais precisamente). Nenhuma mensagem sub-reptícia, nenhuma denúncia de corrupção na polícia, na política ou nos clubes de futebol. Apenas acção: fulano de tal quer matar sicrano, por dinheiro, leva uma coça que o põe entre a vida e a morte nos braços de uma bela enfermeira, por quem se apaixona. Mas contrato é para se cumprir até ao fim. O que tenta fazer, para logo a seguir se embrenhar noutro contrato que Lourenço julga ser o derradeiro da sua vida. Lourenço teve uma infância difícil e passou as passas do Algarve na guerra. Nada mais. Este lado de filme sem pretensões de salvar o mundo, é simpático. Não engana. É o que é à vista desarmada. Claro que qualquer série “nobre” americana é melhor, tem outros meios, outras ambições. Mas até aqui “Contrato” se safa bem, dentro de género de filme de acção. Pobrezinha, mas honrada, o que faz, faz bem. A realização é escorreita, não inventa onde não tem de inventar, e consegue mesmo alguns excelentes momentos, quando tem actores pela frente. Há meia dúzia de cenas brilhantes, das melhores do cinema português, que deixam boas perspectivas para o Nicolau Breyner realizador: A cena com José Wallenstein, o travesti Sonny, é notável como representação e como realização, o mesmo se passando com Nicolau Breyner a dirigir Nicolau Breyner, numa demonstração plena de como se compõe uma personagem partindo do nada e dando-lhe uma autenticidade e densidade humana notáveis. Vítor Norte, José Raposo, Adelaide João são igualmente muito bons nos seus apontamentos, e sempre que aparecem actores o filme sobe e ganha uma força de tragédia humana invulgar neste tipo de filmes. Os miúdos que aparecem no filme são igualmente notáveis. Depois aparecem as fragilidades: um filme um pouco a mata cavalos com alguém a explicar o que ainda não se sabia, e alguns intérpretes (quase todos modelos) sem a consistência necessária. Pedro Lima, Cláudia Vieira e Sofia Aparício, por exemplo. Mas a estreante Cláudia Vieira é uma figura não só sensual, mas também simpática, integrando-se bem no lado despreconceituoso do filme.
O abraço de parabéns que dei no final a Nicolau Breyner foi sincero e gostoso. Esperemos por mais e melhor. Iniciar uma carreira aos 68 anos promete.

CONTRATO
Título original: Contrato
Realização: Nicolau Breyner (Portugal, 2009); Argumento: Pedro Bandeira-Freire, Álvaro Romão, Nicolau Breyner, segundo romance de Dinis Machado ("Requiem para D.Quixote", sob pseudónimo de Dennis McShade); Produção: Isabel Chaves; Fotografia (cor): José António Loureiro; Montagem: João Braz; Música: Elvis Veguinha, José Manuel Afonso; Decoração: Pedro Sá; Guarda-roupa: Joana Rodrigues; Assistente de realização: César Fernandes; Som: Quintino Bastos, Branko Neskov; Companhia de produção: Hora Mágica, TVI.
Intérpretes: Pedro Lima (Lourenço), Cláudia Vieira, Sofia Aparício, José Boavida, Nicolau Breyner (Giorgios Thanatos), Maria Dias, George Felner, Pedro Granger, Adelaide João, Joaquim Nicolau (Dr. Machado), Vítor Norte, Tiago Teotónio Pereira (António), José Raposo (o careca), José Wallenstein (Sonny), etc.
Duração: 100 minutos; Data de estreia: 15 de Janeiro de 2009 (Portugal); Classificação etária: M/ 12 anos; Distribuição: Hora Mágica.

5 comentários:

Hugo Cunha disse...

Agora visto que este vale a pena ser visto como diz e eu confio, vai como eu esperar pelo outro filme tambem delibradamente comercial de nome Second Life(é uma guerrinha Sic TVI com alguns actores a passarem pelos 2).

Anónimo disse...

Há dias li a mui douta opinião do Lauro António sobre o filem " Austrália" e sinceramente apesar do que se diz por aí fiquei muito interessado em ver o filme. Ainda não o consegui. Mas chamou-me a atenção a crónica da senhora crítica da " Visão" de 31.12.08. Para a dita senhora o filme é execrável pelos vistos. E eu pergunto. O que poderá levar pessoas que percebem de cinema
a dizerem muito bem enquanto outros dizem muito mal ? Afinal deveremos seguir a opinião dos críticos ou apenas guiarmo-nos pela nossa sensibilidade ? Uma boa tarde - Palma -Louletania

SR disse...

Caro Lauro António,
tenho imenso respeito por si, mas francamente, acho que a sua amizade pelo realizador lhe toldou a análise: "Contrato" é um filme de diálogos miseráveis, o enredo é amador, o desfecho é insultuoso para o espectador e as actuações - salvo do próprio Nicolau Breyner e de José Wallenstein - são francamente más (muito culpa do texto, é certo). Estão lá todos os "clichés" do que não deve fazer um bom realizador. Não recomendo o filme a ninguém. É lixo.

Anónimo disse...

Vi e gostei, dentro do que se faz no cinema Português moderno, é plenamente aceitável. Mas o Nicolau nunca me pareceu grande actor, melhor estava a cláudia vieira.

Anónimo disse...

O filme é horrivel,so pode dizer isto por ser amigo do Nicolau Breyner ou então não percebe nada de cinema.Este filme feito em cima do joelho com as cenas a correr,com a aparição dos actores por 2 minutos e com 10 palavras se tanto (José Wallenstein,José Raposo,Sofia Aparício,Nicolau Breyner,o próprio Vitor Norte),este filme só tem duas personagens,o resto pouco mais são que figurantes).Entrar numa casa ultra-protegida demora 10 segundos ?Qual acção a deste filme?4 ou 5 tiros?Ridiculo,5 euros muito mal gastos,devolvam-me o dinheiro.Nem o facto de quererem mostrar a Cláudia Vieira despida faz desta tortura de filme uma película menos má,é hediondo mesmo.Vejam só o trailer,mostra tudo,foi uma completa desilusão.