O HÓSPEDE
Numa Londres vitoriana, envolvida pelo nevoeiro e pelo mistério, lá fora acontecem os crimes sangrentos de Jack, o Estripador, que assinava os seus loucos e sádicos esventramentos de prostitutas e alcoólicas com a sinistra designação de “O Vingador”, enquanto dentro daquela pobre casa vivia um casal de criados aposentados, que havia aceite um hóspede. Um estranho inquilino, na verdade. Este o ponto de partida de "O Hóspede" de Marie Belloc Lowndes (ed. Quidnovi, 2008).
Mr. e Mrs. Bunting tinham dificuldades na vida até à chegada de Mr. Sleuth, um bem apessoado gentleman, que só lê a Bíblia, vive retirado no seu quarto durante o dia, e dá problemáticas e intrigantes escapadas durante a noite. As libras começam a correr naquela casa, enquanto nas ruas pobres e mal iluminadas de Londres corre o sangue. A esmerada educação e placidez de que dá sobejas provas Mr. Sleuth, ao mesmo tempo que o tornam simpático, fazem dele uma personagem assustadora, sobretudo sabendo-se que, lá fora, na noite, os surtos de um cavalheiro bem vestido, com uma mala ou um embrulho na mão, não dão tréguas a mulheres perdidas que se encontram barbaramente assassinadas pelas vielas e becos mais desertos.
Ellen Bunting, que de parva não tem nada, mas viu entrar pela porta dentro uma mina de libras e não a quer delapidar, pressente o perigo, mas acha que denunciar não é da sua competência. Vai de íntima desculpa em secreta desculpa, até a realidade se afirmar na sua frente. Numa altura em que Daisy, a filha de um antigo casamento de Mr. Bunting se instala lá em casa e anuncia noivado com o detective Joe, da Scotland Yard, que não deixa de visitar a casa sob qualquer pretexto, sem no entanto farejar nada de estranho. Tudo tão obvio e afinal tão longe de o ser.
Entretanto lá fora, pela manhã, ou ao cair da noite, as noticias dos jornais sensacionalistas, não deixam de atordoar a cabeça do velho casal, com a progressão imparável de novos crimes gritados a plenos pulmões. Entre a pacifica existência do “dentro de casa”, e a assustadora realidade do “lá fora”, se prolonga a escrita engenhosa na sua estrutura dramática, elegante, precisa, envolvente, misteriosa de Marie Belloc Lowndes, uma escritora inglesa de policiais (e outros romances mais) que Portugal não conhecia (apesar de muita da sua família viver em Portugal) e que a editora Quidnovi agora lançou (em boa hora). Trata-se de um belíssimo policial, que está na origem de diversas adaptações cinematográficas (entre as quais uma de Alfred Hitchcock, de 1927, “The Lodger, a Story of the London Fog”, que quero agora muito rever, bem como algumas outras versões de que mais tarde darei conta).
Mr. e Mrs. Bunting tinham dificuldades na vida até à chegada de Mr. Sleuth, um bem apessoado gentleman, que só lê a Bíblia, vive retirado no seu quarto durante o dia, e dá problemáticas e intrigantes escapadas durante a noite. As libras começam a correr naquela casa, enquanto nas ruas pobres e mal iluminadas de Londres corre o sangue. A esmerada educação e placidez de que dá sobejas provas Mr. Sleuth, ao mesmo tempo que o tornam simpático, fazem dele uma personagem assustadora, sobretudo sabendo-se que, lá fora, na noite, os surtos de um cavalheiro bem vestido, com uma mala ou um embrulho na mão, não dão tréguas a mulheres perdidas que se encontram barbaramente assassinadas pelas vielas e becos mais desertos.
Ellen Bunting, que de parva não tem nada, mas viu entrar pela porta dentro uma mina de libras e não a quer delapidar, pressente o perigo, mas acha que denunciar não é da sua competência. Vai de íntima desculpa em secreta desculpa, até a realidade se afirmar na sua frente. Numa altura em que Daisy, a filha de um antigo casamento de Mr. Bunting se instala lá em casa e anuncia noivado com o detective Joe, da Scotland Yard, que não deixa de visitar a casa sob qualquer pretexto, sem no entanto farejar nada de estranho. Tudo tão obvio e afinal tão longe de o ser.
Entretanto lá fora, pela manhã, ou ao cair da noite, as noticias dos jornais sensacionalistas, não deixam de atordoar a cabeça do velho casal, com a progressão imparável de novos crimes gritados a plenos pulmões. Entre a pacifica existência do “dentro de casa”, e a assustadora realidade do “lá fora”, se prolonga a escrita engenhosa na sua estrutura dramática, elegante, precisa, envolvente, misteriosa de Marie Belloc Lowndes, uma escritora inglesa de policiais (e outros romances mais) que Portugal não conhecia (apesar de muita da sua família viver em Portugal) e que a editora Quidnovi agora lançou (em boa hora). Trata-se de um belíssimo policial, que está na origem de diversas adaptações cinematográficas (entre as quais uma de Alfred Hitchcock, de 1927, “The Lodger, a Story of the London Fog”, que quero agora muito rever, bem como algumas outras versões de que mais tarde darei conta).
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