segunda-feira, fevereiro 09, 2009

NOS 100 ANOS DE CARMEN MIRANDA

HOMENAGEM A CARMEN MIRANDA
A 5 de Agosto de 1955, morre Carmen Miranda em sua casa (Los Angeles, Beverly Hills, Bedford Drive, 616), aos 46 anos de idade, vítima de um colapso cardíaco, após filmar com Jimmy Durante um programa para a televisão. A 12 de Agosto, o corpo embalsamado chega ao Brasil, para ser velado na antiga Câmara de Vereadores do Rio. Das 13 horas desse dia até às 13 horas do dia 13, mais de 60.000 pessoas desfilaram em preito de gratidão e homenagem. No dia seguinte, Carmen Miranda seria sepultada no Cemitério de São João Batista, num lote cedido pela Santa Casa de Misericórdia. Fala-se que entre 500.000 e um milhão de pessoas acompanhou o enterro, que foi considerado o mais concorrido de toda a história do Rio de Janeiro. O Brasil chorava a diva que Portugal tinha oferecido ao mundo.
Foi a 9 de Fevereiro de 1909 que nasceu na Freguesia da Várzea da Ovelha, Conselho de Marco de Canavezes, antiga São Martinho da Aliviada, no Distrito do Porto, em Portugal, uma menina de nome Maria do Carmo Miranda da Cunha. Filha de José Maria Pinto da Cunha (17-2-1887 / 21-6-1938) e de Maria Emilia Miranda da Cunha (10-3-1886 / 9-11-1971), foi baptizada na Igreja de São Martinho da Aliviada. Logo no ano seguinte a família parte ara o Brasil, primeiro o pai, depois a mãe e a irmã Olinda. O pai estabeleceu-se como barbeiro, no "Salão Sacadura", à Rua da Misericórdia nº 70, no Rio. Em 1919, matricula-se na Escola Santa Tereza, à Rua da Lapa nº 24, no Rio. Em 1925, mudam-se para o nº 13 da Travessa do Comércio, no centro comercial do Rio, onde instalaram uma pensão, para fazer face às despesas com o tratamento pulmonar de Olinda em Portugal, num sanatório do Caramulo. Cármen Miranda, com 14 anos, deixa a escola e emprega-se numa loja de gravatas. Em 26 de Setembro de 1926, a revista "Selecta" publica o retrato de CM, na secção de cinema do jornalista Pedro Lima, sem citação de seu nome. Três anos depois canta num festival, organizado pelo baiano Aníbal Duarte, no Instituto Nacional de Música no centro do Rio. Josué de Barros, compositor e violonista baiano, interessa-se por esta voz e promove-a junto de estações de rádio, clubes e discográficas. No mesmo ano, canta na Rádio Educadora e na Rádio Sociedade. Em Setembro, grava o seu primeiro disco na Brunswick (Lado A: "Não Vá Sim'bora", samba, Lado B: "Se O Samba É Moda", chôro), lançado no fim do ano, e, em Dezembro, volta a gravar, pela etiqueta Víctor, com "Triste Jandaia" e "Dona Balbina".
Em Fevereiro de 1930, o lançamento de "Tá hi", consagra-a durante o ano. Participa em vários espectáculos, "Noite Brasileira de Francisco Alves", "Monroe", "Tarde da Alma Brasileira", "Miss Rio de Janeiro", "Tarde do Folclore Brasileiro", até organizar o seu próprio, Festival Carmen Miranda, no Teatro Lírico. "O Pais" publica uma entrevista com CM, considerando-a a maior cantora popular brasileira. De 13 a 21 de Setembro, canta na revista musical "Vai Dar o que Falar", no Teatro João Caetano. É um fenómeno de popularidade. Requisitada internacionalmente: Em Outubro de 1931 embarca com Francisco Alves e Mário Reis, e outros artistas, para Buenos Aires, com contrato de um mês no Cine Broadway. Voltam pelo "Astúrias" a 8-11-1931. Continua a gravar com êxito redobrado pela “Victor”. Sucedem-se espectáculos por todo o Brasil. Em 1933, estreia-se no cinema com "A Voz do Carnaval", no Cine Odeon. Em Agosto, assina contrato de 2 anos com a Rádio Mayrink Veiga, ganhando 2 contos de réis mensais. Foi a primeira cantora de rádio a merecer contrato. César Ladeira, director desta rádio, chamou-a de "Cantora do It", e depois de "Ditadora Risonha do Samba" e, em 1934 ou 1935, de "Pequena Notável".
Embarca para Buenos Aires com outros artistas, para cantar na L.R.-5. Volta a 5 de dezembro de 1933. Começa a ser conhecida como a "Embaixatriz do Samba". É eleita "Rainha do Broadcasting Carioca", em concurso do jornal "A Hora". Em Julho de 1934, de visita ao Brasil, para promoção do filme "Voando para o Rio", Ramon Novarro encontra CM numa recepção. Começa a falar-se na sua provável ida para Hollywood. Passa por São Paulo com sucesso louco, embarca para Buenos Aires, com Aurora Miranda, sua irmã, e o "Bando da Lua", contratados por Jaime Yankelevisch, da Rádio Belgrano, para uma temporada de um mês. Em 1935, estreia "Alô, Alô Brasil", primeiro filme brasileiro com som directo na película. Inicia asgravações na Odeon, com contratos milionários. Estréia novo filme, "Estudantes", no Cine Alhambra. Em 1936, actua no Cassino Copacabana, estreia "Alô, Alô Carnaval" no Cine Alhambra, exibe-se no Teatro Coliseu de Santos e nesse ano fala-se na vinda das irmãs Miranda para Portugal. CM recusa outro vantajoso contrato da Rádio El Mundo, de Buenos Aires, e rejeita a participação num filme argentino em que faria o segundo papel. Surge na Rádio Tupi, que a roubou à rádio Mayrink Veiga, mercê um fabuloso contrato de 5 contos de réis por mês, para 4 horas mensais, isto é, dois programas semanais de meia hora. Triunfa no Cassino da Urca.
Viagens e sucessivos êxitos no Brasil e no mundo. A 21 de Junho de 1938, morre o pai. Em Dezembro, Tyrone Power e a noiva Annabella visitam o Rio e tornam-se amigos de CM, a quem convencem num triunfo em Hollywood. 1939, de novo no ecran, com "Banana da Terra", onde assume a personagem de "baiana". Grava com Dorival Caymmí "O Que É Que a Baiana Tem". A 3 de Maio de 1939, parte para os Estados Unidos, onde á chega afirma: "Vocês verão principalmente que sou cantora e tenho ritmo". Estreia-se na revista "Streets of Paris", em Boston, com êxito estrondoso. Depois, em Nova York, com o "Bando da Lua", revoluciona Broadway, a "Feira Mundial" e toda Nova York. Grava os seus primeiros discos na Decca. Em Fevereiro de 1940, canta nas filmagens de "Serenata Tropical". Volta ao Brasil, triunfal. Mas, entre 2 e 27 de Setembro de 1940, grava suas últimas músicas no Brasil, tentando reagir às críticas que a viam “americanizada”. A 3 de Outubro de 1940, regressa aos Estados Unidos. No ano seguinte, suprema honra: Imprime mãos e sapatos no cimento dos passeios do Teatro Chinês de Los Angeles, até aí primeira e única sul-americana a receber tal honraria. Integra o elenco da revista de Schubert "Sons O' Fun", no Teatro Winter Garden de Nova York.
Entre 1941 a 1953, intervém em 13 filmes em Hollywood, para lá de se tornar preseça assídua nos mais importantes programas de rádio, televisão, "night-clubs", cassinos e teatros. Em 1946 é tida como a mulher que mais impostos paga nos E.U.A. Casa-se com o americano David Sebastian. Em Abril de 1948, estreia-se no Teatro Palladium, de Londres, onde esperava fazer 4 semanas, e teve de ficar 6, ganhando 100.000 dólares. Em Agosto de 1948, perde um filho que esperava. Em 1951, é a artista de show que mais dinheiro ganha nos E.U.A. Visita o Havai. Excursão por vários países da Europa. Em Dezembro de 1954, depois de 14 anos de ausência, volta ao Brasil, traz consigo um profundo esgotamento nervoso. Matou saudades, compareceu a homenagens em teatros e festas, e a 4 de Abril de 1955, aparentemente restabelecida, volta aos E.U.A. Trabalha em Las Vegas, Havana em Cuba e na televisão. Não dura muito.
A 5 de Dezembro de 1956, o prefeito Negrão de Lima assina a Lei nº 886, que cria o Museu Carmen Miranda, para guardar, conservar e expor o acervo da artista, doado pelo marido, e constante de sapatos, roupas, jóias e troféus. A 5 de Agosto de 1976, é inaugurado o "Museu Carmen Miranda", em frente ao número 560 da Avenida Rui Barbosa, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro.
NO BRASIL
1932 - O Carnaval Cantado no Rio, de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro
1933 - A Voz do Carnaval, de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro
1935 - Alô, Alô Brasil!, de Wallance Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro
1935 – Estudantes, de Wallace Downey
1936 - Alo, Alo Carnaval, de Adhemar Gonzaga
1939 - Banana da Terra, de João de Barro

NOS EUA:
1940 – Sinfonia dos Trópicos (Pt) Serenata Tropical (Br) (Down Argentine Way)
1941 – Uma Noite no Rio (Pt e Br) (That Night In Rio)
1941 – Férias em Havana (Pt) Aconteceu em Havana (Br) (Weekend In Havana)
1942 – Primavera nas Montanhas (Pt) Minha Secretária Brasileira (Br) (Springtime In The Rockies)
1943 – Sinfonia de estrelas (Pt) Entre a Loira e Morena (Br) (The Gang´S All Here)
1944 – Quatro Raparigas Encantadoras (Pt) Quatro Moças num Jeep (Br) (Four Jills In A Jeep)
1944 – Serenata Boemia (Pt e Br) (Greenwich Village)
1944 – Alegria Rapazes! (Pt e Br) (Something For The Boys)
1945 – A Canção da Felicidade (Pt) Sonhe eu Fosse Feliz (Br) (If I´M Lucky)
1947 – Copacabana
1948 – A Professora de Rumba (Pt) O Principe Encantado (Br) (A Date With Judy)
1950 – Festa no Brasil (Pt) Romance Carioca (Br.) (Nancy Goes To Rio)
1953 – O Castelo das surpresas (Pt) Morrendo de Medo (Br) (Scared Stiff)

Carmen Miranda: "Nasci em Portugal, mas me criei no Brasil e, portanto, considero-me brasileira. O local do nascimento não importa, nem sequer o sangue. O que importa é o que os americanos chamam de "environment", a influência do país e dos costumes em que vivemos, se bem que sempre existe um grau de gratidão e fidelidade aos pais que nos geraram. Da minha parte, sou mais carioca, mais sambista de favela, mais carnavalesca do que cantora de fados. O sangue tem uma certa importância, mas só no temperamento, não na maneira de sentir as coisas."
Heitor Villa Lobos, compositor: "Nenhum brasileiro pode ignorar o que Carmen fez por nós lá fora. Ela espalhou nossa língua, ensinou pessoas que nunca ouviram falar da gente a cantar nossas músicas e a amar nossos ritmos. Ela irá sempre significar muito para nós."
Kevin Stayton, vice - director do Brooklyn Museum: “Carmen Miranda era uma portuguesa que virou brasileira e levou a sua música e as suas fantasias - temperadas com elementos e ritmos dos escravos - para os Estados Unidos, e ainda conquistou a América através do cinema. E tudo isso em plena Segunda Guerra Mundial.”

3 comentários:

Frioleiras disse...

gostei imenso de a recordar, através deste teu post.....
obrigada!

Lauro António disse...

Frioleiras, quando era puto adorava a Carmen Miranda. Ainda hoje a acho uma mulher raçada com imensa graça e um talento transbordante. Beijo.

burro disse...

uma bela homenagem a uma mulher de quem eu ouvia meus pais falar.