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sábado, junho 05, 2010

RUMO AO FICA

:
Em Goiás, de 8 a 13 de Junho, XI Festival Internacional de Cinema Ambiental. O Cine Eco voltará a estar representado neste certame que é o mais importante da América Latina e com que mantém laços de profunda amizade e geminação. Daremos notícias da belíssima cidade, património da Humanidade, do festival, dos filmes, e... do Brasil.
Para se saber mais sobre o FICA, ver AQUI.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

NOS 100 ANOS DE CARMEN MIRANDA

HOMENAGEM A CARMEN MIRANDA
A 5 de Agosto de 1955, morre Carmen Miranda em sua casa (Los Angeles, Beverly Hills, Bedford Drive, 616), aos 46 anos de idade, vítima de um colapso cardíaco, após filmar com Jimmy Durante um programa para a televisão. A 12 de Agosto, o corpo embalsamado chega ao Brasil, para ser velado na antiga Câmara de Vereadores do Rio. Das 13 horas desse dia até às 13 horas do dia 13, mais de 60.000 pessoas desfilaram em preito de gratidão e homenagem. No dia seguinte, Carmen Miranda seria sepultada no Cemitério de São João Batista, num lote cedido pela Santa Casa de Misericórdia. Fala-se que entre 500.000 e um milhão de pessoas acompanhou o enterro, que foi considerado o mais concorrido de toda a história do Rio de Janeiro. O Brasil chorava a diva que Portugal tinha oferecido ao mundo.
Foi a 9 de Fevereiro de 1909 que nasceu na Freguesia da Várzea da Ovelha, Conselho de Marco de Canavezes, antiga São Martinho da Aliviada, no Distrito do Porto, em Portugal, uma menina de nome Maria do Carmo Miranda da Cunha. Filha de José Maria Pinto da Cunha (17-2-1887 / 21-6-1938) e de Maria Emilia Miranda da Cunha (10-3-1886 / 9-11-1971), foi baptizada na Igreja de São Martinho da Aliviada. Logo no ano seguinte a família parte ara o Brasil, primeiro o pai, depois a mãe e a irmã Olinda. O pai estabeleceu-se como barbeiro, no "Salão Sacadura", à Rua da Misericórdia nº 70, no Rio. Em 1919, matricula-se na Escola Santa Tereza, à Rua da Lapa nº 24, no Rio. Em 1925, mudam-se para o nº 13 da Travessa do Comércio, no centro comercial do Rio, onde instalaram uma pensão, para fazer face às despesas com o tratamento pulmonar de Olinda em Portugal, num sanatório do Caramulo. Cármen Miranda, com 14 anos, deixa a escola e emprega-se numa loja de gravatas. Em 26 de Setembro de 1926, a revista "Selecta" publica o retrato de CM, na secção de cinema do jornalista Pedro Lima, sem citação de seu nome. Três anos depois canta num festival, organizado pelo baiano Aníbal Duarte, no Instituto Nacional de Música no centro do Rio. Josué de Barros, compositor e violonista baiano, interessa-se por esta voz e promove-a junto de estações de rádio, clubes e discográficas. No mesmo ano, canta na Rádio Educadora e na Rádio Sociedade. Em Setembro, grava o seu primeiro disco na Brunswick (Lado A: "Não Vá Sim'bora", samba, Lado B: "Se O Samba É Moda", chôro), lançado no fim do ano, e, em Dezembro, volta a gravar, pela etiqueta Víctor, com "Triste Jandaia" e "Dona Balbina".
Em Fevereiro de 1930, o lançamento de "Tá hi", consagra-a durante o ano. Participa em vários espectáculos, "Noite Brasileira de Francisco Alves", "Monroe", "Tarde da Alma Brasileira", "Miss Rio de Janeiro", "Tarde do Folclore Brasileiro", até organizar o seu próprio, Festival Carmen Miranda, no Teatro Lírico. "O Pais" publica uma entrevista com CM, considerando-a a maior cantora popular brasileira. De 13 a 21 de Setembro, canta na revista musical "Vai Dar o que Falar", no Teatro João Caetano. É um fenómeno de popularidade. Requisitada internacionalmente: Em Outubro de 1931 embarca com Francisco Alves e Mário Reis, e outros artistas, para Buenos Aires, com contrato de um mês no Cine Broadway. Voltam pelo "Astúrias" a 8-11-1931. Continua a gravar com êxito redobrado pela “Victor”. Sucedem-se espectáculos por todo o Brasil. Em 1933, estreia-se no cinema com "A Voz do Carnaval", no Cine Odeon. Em Agosto, assina contrato de 2 anos com a Rádio Mayrink Veiga, ganhando 2 contos de réis mensais. Foi a primeira cantora de rádio a merecer contrato. César Ladeira, director desta rádio, chamou-a de "Cantora do It", e depois de "Ditadora Risonha do Samba" e, em 1934 ou 1935, de "Pequena Notável".
Embarca para Buenos Aires com outros artistas, para cantar na L.R.-5. Volta a 5 de dezembro de 1933. Começa a ser conhecida como a "Embaixatriz do Samba". É eleita "Rainha do Broadcasting Carioca", em concurso do jornal "A Hora". Em Julho de 1934, de visita ao Brasil, para promoção do filme "Voando para o Rio", Ramon Novarro encontra CM numa recepção. Começa a falar-se na sua provável ida para Hollywood. Passa por São Paulo com sucesso louco, embarca para Buenos Aires, com Aurora Miranda, sua irmã, e o "Bando da Lua", contratados por Jaime Yankelevisch, da Rádio Belgrano, para uma temporada de um mês. Em 1935, estreia "Alô, Alô Brasil", primeiro filme brasileiro com som directo na película. Inicia asgravações na Odeon, com contratos milionários. Estréia novo filme, "Estudantes", no Cine Alhambra. Em 1936, actua no Cassino Copacabana, estreia "Alô, Alô Carnaval" no Cine Alhambra, exibe-se no Teatro Coliseu de Santos e nesse ano fala-se na vinda das irmãs Miranda para Portugal. CM recusa outro vantajoso contrato da Rádio El Mundo, de Buenos Aires, e rejeita a participação num filme argentino em que faria o segundo papel. Surge na Rádio Tupi, que a roubou à rádio Mayrink Veiga, mercê um fabuloso contrato de 5 contos de réis por mês, para 4 horas mensais, isto é, dois programas semanais de meia hora. Triunfa no Cassino da Urca.
Viagens e sucessivos êxitos no Brasil e no mundo. A 21 de Junho de 1938, morre o pai. Em Dezembro, Tyrone Power e a noiva Annabella visitam o Rio e tornam-se amigos de CM, a quem convencem num triunfo em Hollywood. 1939, de novo no ecran, com "Banana da Terra", onde assume a personagem de "baiana". Grava com Dorival Caymmí "O Que É Que a Baiana Tem". A 3 de Maio de 1939, parte para os Estados Unidos, onde á chega afirma: "Vocês verão principalmente que sou cantora e tenho ritmo". Estreia-se na revista "Streets of Paris", em Boston, com êxito estrondoso. Depois, em Nova York, com o "Bando da Lua", revoluciona Broadway, a "Feira Mundial" e toda Nova York. Grava os seus primeiros discos na Decca. Em Fevereiro de 1940, canta nas filmagens de "Serenata Tropical". Volta ao Brasil, triunfal. Mas, entre 2 e 27 de Setembro de 1940, grava suas últimas músicas no Brasil, tentando reagir às críticas que a viam “americanizada”. A 3 de Outubro de 1940, regressa aos Estados Unidos. No ano seguinte, suprema honra: Imprime mãos e sapatos no cimento dos passeios do Teatro Chinês de Los Angeles, até aí primeira e única sul-americana a receber tal honraria. Integra o elenco da revista de Schubert "Sons O' Fun", no Teatro Winter Garden de Nova York.
Entre 1941 a 1953, intervém em 13 filmes em Hollywood, para lá de se tornar preseça assídua nos mais importantes programas de rádio, televisão, "night-clubs", cassinos e teatros. Em 1946 é tida como a mulher que mais impostos paga nos E.U.A. Casa-se com o americano David Sebastian. Em Abril de 1948, estreia-se no Teatro Palladium, de Londres, onde esperava fazer 4 semanas, e teve de ficar 6, ganhando 100.000 dólares. Em Agosto de 1948, perde um filho que esperava. Em 1951, é a artista de show que mais dinheiro ganha nos E.U.A. Visita o Havai. Excursão por vários países da Europa. Em Dezembro de 1954, depois de 14 anos de ausência, volta ao Brasil, traz consigo um profundo esgotamento nervoso. Matou saudades, compareceu a homenagens em teatros e festas, e a 4 de Abril de 1955, aparentemente restabelecida, volta aos E.U.A. Trabalha em Las Vegas, Havana em Cuba e na televisão. Não dura muito.
A 5 de Dezembro de 1956, o prefeito Negrão de Lima assina a Lei nº 886, que cria o Museu Carmen Miranda, para guardar, conservar e expor o acervo da artista, doado pelo marido, e constante de sapatos, roupas, jóias e troféus. A 5 de Agosto de 1976, é inaugurado o "Museu Carmen Miranda", em frente ao número 560 da Avenida Rui Barbosa, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro.
NO BRASIL
1932 - O Carnaval Cantado no Rio, de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro
1933 - A Voz do Carnaval, de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro
1935 - Alô, Alô Brasil!, de Wallance Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro
1935 – Estudantes, de Wallace Downey
1936 - Alo, Alo Carnaval, de Adhemar Gonzaga
1939 - Banana da Terra, de João de Barro

NOS EUA:
1940 – Sinfonia dos Trópicos (Pt) Serenata Tropical (Br) (Down Argentine Way)
1941 – Uma Noite no Rio (Pt e Br) (That Night In Rio)
1941 – Férias em Havana (Pt) Aconteceu em Havana (Br) (Weekend In Havana)
1942 – Primavera nas Montanhas (Pt) Minha Secretária Brasileira (Br) (Springtime In The Rockies)
1943 – Sinfonia de estrelas (Pt) Entre a Loira e Morena (Br) (The Gang´S All Here)
1944 – Quatro Raparigas Encantadoras (Pt) Quatro Moças num Jeep (Br) (Four Jills In A Jeep)
1944 – Serenata Boemia (Pt e Br) (Greenwich Village)
1944 – Alegria Rapazes! (Pt e Br) (Something For The Boys)
1945 – A Canção da Felicidade (Pt) Sonhe eu Fosse Feliz (Br) (If I´M Lucky)
1947 – Copacabana
1948 – A Professora de Rumba (Pt) O Principe Encantado (Br) (A Date With Judy)
1950 – Festa no Brasil (Pt) Romance Carioca (Br.) (Nancy Goes To Rio)
1953 – O Castelo das surpresas (Pt) Morrendo de Medo (Br) (Scared Stiff)

Carmen Miranda: "Nasci em Portugal, mas me criei no Brasil e, portanto, considero-me brasileira. O local do nascimento não importa, nem sequer o sangue. O que importa é o que os americanos chamam de "environment", a influência do país e dos costumes em que vivemos, se bem que sempre existe um grau de gratidão e fidelidade aos pais que nos geraram. Da minha parte, sou mais carioca, mais sambista de favela, mais carnavalesca do que cantora de fados. O sangue tem uma certa importância, mas só no temperamento, não na maneira de sentir as coisas."
Heitor Villa Lobos, compositor: "Nenhum brasileiro pode ignorar o que Carmen fez por nós lá fora. Ela espalhou nossa língua, ensinou pessoas que nunca ouviram falar da gente a cantar nossas músicas e a amar nossos ritmos. Ela irá sempre significar muito para nós."
Kevin Stayton, vice - director do Brooklyn Museum: “Carmen Miranda era uma portuguesa que virou brasileira e levou a sua música e as suas fantasias - temperadas com elementos e ritmos dos escravos - para os Estados Unidos, e ainda conquistou a América através do cinema. E tudo isso em plena Segunda Guerra Mundial.”

segunda-feira, julho 07, 2008

NO BRASIL, III


TROPA DE ELITE
Há uma nova geração de cineastas no Brasil que traz um olhar novo sobre a realidade do seu país. Nem todos alinham pelo mesmo diapasão, mas pode dizer-se que alguns não temem enveredar pelas favelas e focar os desgraçados que ali vivem, os gangs que controlam os movimentos, os polícias que ganham com o esquema montado, os governos que tentam passar incólumes entre os pingos da chuva, ou as balas dos tiroteios, dando-nos o outro lado do Brasil que o turista vê. Ainda há dias escrevi sobre a Cinelândia, os cinemas e os cafés, a confeitaria Colombo, e obviamente não reportei as colinas que descem pesadamente sobre a cidade, essas favelas de pesadelo que lá do cima parecem controlar os movimentos de quem se passeia no Centro ou na Avenida Atlântica. Não há um Brasil, há vários. Há também o das favelas, do crime organizado, da droga controlada e difundida, da polícia que coopera, que protege mediante um tanto, que vende armas ao assaltante, do coronel que recebe por baixo da mesa o “mensalão” recolhido pelo subalterno, do burguês que consome droga, sem imaginar quantas crianças é preciso morrerem para o diletante chutar uns momentos de paraíso artificial. Há esse Brasil, que passou em várias obras, como “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, ou a recente “Tropa de Elite”, de José Padilha. Não conheço o documentário “Ônibus 174” (que dizem ser sensacional!) com que o cineasta se estreou no cinema de longa-metragem. Vi agora no Brasil “Tropa de Elite” que provocou várias ondas de choque de diverso significado, antes e depois da sua estreia. Antes, porque precedendo a sua estreia nas salas do Brasil de dois meses, o filme vendeu DVD pirata “p’ra caramba” em todas as ruas das cidades brasileiras, rendendo bons reais aos “camelôs” que os anunciavam clandestinamente (mas pouco, há todos os DVDs de momento à venda nas ruas do Rio ou de São Paulo). Dizem que mais de 3 ou 4 milhões de brasileiros viram o filme antes da estreia oficial nos cinemas (e na estreia ainda se conseguiu colocar entre os filmes brasileiros mais vistos de sempre no Brasil). É obra. Espíritos mal intencionados insinuaram mesmo e puseram a correr o boato de que este lançamento clandestino do filme fora manobra de marketing da própria produtora, mas a verdade é que acabou por saber-se, no tribunal, que foram funcionários sem escrúpulos de uma empresa de legendagem (que preparava cópias da obra, legendadas em inglês) quem pirateou o filme e inundou de reproduções o mercado. A polémica estoirou mesmo antes do filme estrear até porque a polícia se sentiu “insultada” e resolveu interpor providência cautelar, tentando impedir a sua exibição. Uma juíza da 1ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, de seu nome Flávia de Almeida Viveiros de Castro, negou porém o pedido dos autores, destacando: “Não existem críticas às instituições. As críticas feitas são ao sistema”. As produtoras e distribuidoras Zazen Produções e Paramount Pictures do Brasil puderam portanto exibir o filme, passando por cima da denúncia de que este “violava a honra, a dignidade e até mesmo a integridade física dos integrantes do BOPE”.
Aproxima-nos do âmago de uma das questões: o BOPE (por extenso: Batalhão de Operações Policiais Especiais). Diz quem viu (não consegui ainda ver, nem em DVD) que, em 1999, os cineastas João Moreira Salles e Kátia Lund rodaram um documentário, “Notícias de uma Guerra Particular” (vendido clandestinamente, com o título – inventado! - “Tropa de Elite, nº 2”, ao que me contam também, o que não deixa de ser pirataria a dobrar!) onde um capitão do BOPE, Rodrigo Pimentel, confessava estar “cansado” da batalha diária que travava contra o tráfico, já que nenhum resultado efectivo parecia estar sendo alcançado e os governantes não demonstravam o menor interesse em fazer algo que pudesse representar uma solução eventual para a criminalidade.” Saiu entretanto uma obra, "Elite da Tropa", escrita por André Batista, Luiz Eduardo Soares e o mesmo capitão Rodrigo Pimentel (julgo que agora é ex-capitão) que denunciava muito do que se passava no interior daquela força policial. Oito anos depois da entrevista concedida a João Moreira Salles e Kátia Lund, Rodrigo Pimentel assina, ao lado de Bráulio Mantovani (argumentista de “Cidade de Deus”) e de José Padilha, o argumento de “Tropa de Elite”, que, inicialmente o realizador queria transformar num documentário. Pensou, porém, que não viveria muitos dias depois da estreia do documentário com as acusações que o mesmo encerraria, visando factos e personalidades reais, e resolveu ter um pouco de amor à (sua) vida e à dos seus mais próximos colaboradores, optando por construir uma ficção. Que não será menos contundente.
“Tropa de Elite” situa-se no ano de 1997, algum tempo antes da anunciada visita do Papa João Paulo II ao Rio de Janeiro. Sempre que alguma personalidade importante visita a cidade, a segurança é duplicada. Com o Papa, foi um pouco diferente. Nenhum político quer ser acusado de ver o Sumo Pontífice alvejado no seu país. Logo, a segurança é triplicada. Com meses de antecedência preparam-se os “festejos.” Prendem-se os “suspeitos do costume”, invadem-se os morros e vasculham-se as favelas, intimida-se meio mundo, tortura-se, mata-se ou deixa-se ali à mão de semear os denunciantes que pactuaram, para o gang do lado se encarregar deles. Agora mesmo, nesses dias ainda de início de Junho de 2008, uns militares em acção numa favela do Rio entregaram, como vingança, três rapazolas “dealers” a um grupo rival de traficantes que os torturou durante horas, cortou pernas e braços, e depois despejou nos caixotes do lixo. Percebe-se, pois, de que tipo são as relações entre os fora da lei e os agentes da autoridade.
Mas voltemos ao filme. Este tem como protagonista o Capitão Nascimento, um dos comandantes do Batalhão de Operações Especiais, a quem foi atribuída a missão de garantir a segurança do Papa. Nascimento está cansado das suas tarefas, stressado com o ritmo e a violência do dia a dia, farto do desgaste físico e psicológico, toma drageias para sobreviver, e a sua ambição máxima é ver nascer o filho que se anuncia. Tem de arranjar um substituto para o seu cargo se quer uma trégua, está empenhado em várias frentes, uma delas são as aulas de recruta que ministra aos novos aspirantes. Para se pertencer ao BOPE tem de se possuir uma têmpera invulgar, passar por provas de tortura, de humilhação, de resistência, de esforço desmedido. É o que fazem Matias e Neto, os outros dois protagonistas desta obra. Assiste-se ao seu comportamento nas aulas, ao seu trabalho nas ruas, e, no caso de Matias, ainda ao seu estudo na Universidade de Direito, onde procura tirar um curso, passando ignorado junto dos colegas quanto à sua actividade policial. Descobre como alguns alunos, vindos das boas famílias do Rio Sul, consomem droga e entra na negociata, penetra no morro atrás de uma namorada que trabalha numa ONG, dá de cara com o chefe do gang, e é um dia descoberto, quando uma fotografia sua, em acção, é colocada na primeira página de um jornal. Quando quer enviar uns óculos a um miúdo da favela, provoca uma tragédia, que ira desencadear outra tragédia, que irá desembocar numa espiral de fogo e dor.
Que nos diz a obra? Que os traficantes matam e morrem, que os policias morrem e matam, que ambos negoceiam entre si, que os poderes sabem e pactuam, que a corrupção passa do mais alto nível ao mais baixo, que quem não pactua no morro ou no quartel é linchado, o agente da autoridade é enviado ao morro pelos superiores hierárquicos para ser abatido, o puto delator é libertado para ser abatido, o polícia que passa na hora errada é abatido, neste universo de uma brutalidade asfixiante não há quase rapazes bons. Quase, porque fica o exemplo de Neto e Matias, de Nascimento e de alguns mais que, apesar de não figurarem entre os protagonistas, o filme deixa a esperança de, quiçá, existirem. Há quem acuse a obra de criar heróis, falsos heróis, porque ainda há polícias honestos. Querem então proclamar que “todos os agentes de segurança”, todos os “representantes do Poder instituído” são bandidos corruptos? Se for esse o vosso desejo, o melhor é desistir já. Mas há mais acusações. Que os processos de mafiosos das favelas e policiais de giro são idênticos. Todos torturam e matam. Pois, essa é uma das acusações do filme, parece-me, com uma ressalva. “Tropa de Elite” não é ingénua ao ponto de propor a história do pobrezinho desgraçadinho desde criança, e do polícia mauzinho desde o banco da escola, e do burguesinho de esquerda, intelectual consumidor de haxixe, que é a voz da consciência desta maldita sociedade destruída pelo dinheiro. Em “Tropa de Elite” há maus para todos os gostos. Nada é límpido e o “homem novo” está muito longe de existir. Há uns puros que se vão adaptando à realidade, como é o caso de Matias. Aliás, nesse aspecto, “Tropa de Elite” é mesmo o trajecto de uma iniciação, de uma aprendizagem, com aulas teóricas e práticas a toda a hora que, no quartel e cá fora, na vida quotidiana, em lugar de encaminharem para a honra e a dignidade, se encarregam de deformar o que de melhor existe dentro do homem. Essa viagem que acompanha o rosto de Matias, desde a sua promissora e entusiástica entrada no “corpo” da polícia até ao entrosamento final na “filosofia” do mesmo, é um dos elementos brilhantes desta obra. O plano final de “Tropa de Elite” é elucidativo desse percurso. É esclarecedor da forma como se destroem homens, como se fabricam “matadores”, como se limpa da face da terra a ternura, o amor, a bondade. Padilha oferece o retrato do polícia, e do seu ponto de vista (por exemplo, um deles pergunta: “Acha que vou subir o morro e arriscar minha vida por 500 reais - cerca de 200 euros - por mês?”). Não me parece justo que sejam só os marginais a serem “compreendidos”. “Compreender” os polícias, mesmo quando eles também se assemelham a marginais, é um bom ponto de partida para se tentar alterar, um pouco que seja, este estado de coisas, que é um “estado de sítio”, sem grandes esperanças de se ver modificado.
O filme é ainda muito bom pela sua textura estética e a sua factura técnica. A fotografia, de um colorido denso e garrido, saturado, é algo obsessiva, claustrofóbica. A montagem é excelente, com um ritmo nervoso, inquieto, a câmara oscilando, mudando de enquadramento, viajando pelo espaço, procurando o centro da acção, o rosto, o olhar, o fugitivo, a bala perdida ou achada. A narrativa inicia-se num determinado ponto da história, recua ao passado, e retoma a marcha depois de explicado o que ficou para trás. É uma forma brilhante de agarrar o espectador, sem todavia tornar falsa ou rebuscada a descrição. Muito bons são os actores, na sua totalidade, desde o mais batido em representação (bom exemplo, Wagner Moura, um dos mais completos actores brasileiros da actualidade) ao neófito (André Ramiro, que interpreta Matias, era bilheteiro de cinema do shopping “Fashion Mall”, no Rio de Janeiro). A violência do clima geral alimenta-se muito destas convulsões de caracteres em fúria, em tortura psicológica, em stress continuado. Por falar em stress continuado, as sequências do treino da tropa de elite são do melhor que o cinema mundial nos deu até hoje, e já nos deram muitos exemplos de casos semelhantes (sobretudo os cineastas americanos). Terminando, refira-se a escrita do guião que é igualmente excelentemente trabalhada, os diálogos são rigorosos e eficazes, o monólogo do capitão Nascimento muito bem doseado e colocado nos espaços e tempos certos.
De resto, Padilha e a sua equipa, filmando nas favelas, e introduzindo-se em espaços, no mínimo “difíceis”, demonstraram grande coragem. Como curiosidade, conte-se que, em Novembro de 2006, ainda em rodagem em cenários naturais, alguns traficantes do morro Chapéu Mangueira, na Zona Sul do Rio, onde as filmagens eram feitas, sequestraram parte da equipa que trabalhava no filme e roubaram as armas utilizadas nas filmagens. 59 eram réplicas, mas 31 eram verdadeiras, adaptadas para balas de efeitos especiais. As filmagens foram suspensas durante cerca de duas semanas. Quer dizer: neste país, sobretudo nesta “cidade maravilhosa” (que o é mesmo!) ninguém deixa de pagar tributo a este sistema que se quer inexpugnável. Qualquer estranho que aí penetre, e que não seja traficante ou polícia, é olhado como suspeito ou vítima preferencial. O que um turista de passagem, olhando o morro cá de baixo, de Copacabana, não descobre. Mas intui.

TROPA DE ELITE
Título original: Tropa de Elite
Realização: José Padilha (Brasil, 2007); Argumento: Bráulio Mantovani, José Padilha, Rodrigo Pimentel, segundo "Elite da Tropa", obra de André Batista, Rodrigo Pimentel, Luiz Eduardo Soares; Produção: Bia Castro, Eduardo Costantini, James D'Arcy, José Padilha, Marcos Prado, Eliana Soárez, Genna Terranova; Música: Pedro Bromfman; Fotografia (cor): Lula Carvalho; Montagem: Daniel Rezende; Design de produção: Tulé Peak; Decoração: Odair Zani; Guarda-roupa: Claudia Kopke; Maquilhagem: Martin Macias, Ignácio Posadas, Sandro Valério; Direcção de produção: Robert Bella, Maria Clara Ferreira, Lili Nogueira, Edu Pacheco, Fernando Zagallo; Assistentes de Realização: Laura Flaksman, Laura C. Grant, Daniel Lentini, Clara Linhart, Malu Miranda, Phil Neilson, Pedro Peregrino, Rafael Salgado; Departamento de arte: Cristina Cirne, Dejair dos Santos, Thiago Marques; Som: Alessandro Laroca, Eduardo Virmond Lima, Leandro Lima, Fernando Lobo; Efeitos especiais: Marc Banich, Mauricio Couto Bevilaqua, Mike Edmonson, Sergio Farjalla Jr., Bruno Van Zeebroeck; Companhias de produção: Zazen Produções, Posto 9, Feijão Filmes, The Weinstein Company, Estúdios Mega, Quanta Centro de Produções Cinematográficas, Universal Pictures do Brasil, Costantini Films.
Intérpretes: Wagner Moura (Capitão Nascimento), Caio Junqueira (Neto), André Ramiro (André Matias), Maria Ribeiro (Rosane), Fernanda Machado (Maria), Fernanda de Freitas (Roberta), Paulo Vilela (Edu), Milhem Cortaz (Capitão Fábio), Marcelo Valle (Capitão Oliveira), Fábio Lago (Claudio Mendes de Lima 'Baiano'), Luiz Gonzaga de Almeida, Bruno Delia (Capitão Azevedo), Marcelo Escorel (Coronel Otávio), André Felipe (Rodrigues), Thelmo Fernandes (Sargento Alves), Emerson Gomes (Xaveco), Paulo Hamilton (Soldado Paulo), Bernardo Jablonsky, Daniel Lentini, Thiago Mendonça, Alexandre Mofatti, Erick Oliveira Otto Jr., André Santinho, Patrick Santos, Ricardo Sodré, Thogun, etc.
Duração: 115 minutos; Classificação etária: M/18 anos; Distribuição em Portugal: Lusomundo; Locais de Filmagem: Rio de Janeiro, Brasil; Data de estreia: 10 de Julho de 2008 (Portugal).

sábado, julho 05, 2008

NO BRASIL, II

NO RIO, NA CINELÂNDIA
No Rio de Janeiro, a Cinelândia é um mundo. Um fascinante mundo com passado. Foi durante muitas décadas o centro nevrálgico da cidade, com teatros, cinemas, hotéis, cafés, restaurantes, comércio do mais fino e alguns edifícios institucionais. Cinelândia não é nome oficial, é cognome, mas toda a gente conhece o local por esse epíteto. Trata-se de uma zona central do Rio, que tem na base a bela Praça Floriano, e que engloba, segundo os roteiros turísticos, a área que vai desde a Avenida Rio Branco até a Rua Senador Dantas, e da Evaristo da Veiga até a Praça Mahatma Gandhi. Antigamente, no século XVIII, existia por ali o Convento da Ajuda, demolido no início do século XX. Ainda permanecem, lá no alto, resto de um convento de Santo António.

Foi nos anos 30 desse século que se pensou criar no Rio uma zona de lazer que fizesse concorrência à celebrada Times Square nova-iorquina. O mentor desta ideia foi um espanhol a viver no Brasil, Francisco Serrador, que aproveitou o nobilitado espaço da Praça Floriano, rodeado por edifícios magníficos, de estilos variegados, mas todos eles de sumptuosa inspiração. Há os ecléticos, como o Theatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes, o antigo Supremo Tribunal Federal (actualmente Centro Cultural da Justiça Federal) e a Câmara de Vereadores. Há os Neoclássicos, como a Biblioteca Nacional. Há os de Art Noveau e Art Deco, bem representados pelos edifícios Wolfgang Amadeus Mozart (conhecido como o “Amarelinho” e que, no rés-do-chão, tem uma conhecida cervejaria, ao lado de outras de cores diferentes, a “Vermelhinha” e a “Verdinha”) e o Odéon, agora cinema e café. Mas o idealizador do espaço não fica incógnito e possuiu igualmente nesta área um originalíssimo edifício circular construído em 1944, que ostenta o seu nome, Francisco Serrador.
No centro da Praça, vê-se o monumento erigido em homenagem ao Marechal Floriano, inaugurado em 1910. Por isso, manifestações políticas e culturais nunca trocaram esta praça por nenhuma outra. Aqui se cristalizou grande parte da História do Brasil. Numa das ruas laterais, de nome Luís de Camões, pode ver-se o Real Gabinete Português de Leitura.
Um dos edifícios que recordam a opulência majestática dos tempos do Império, o Centro Cultural da Justiça Federal é um espaço agora dedicado ao turismo e ao lazer, com exposições de grande qualidade, tendo ao lado outros prédios igualmente dedicados a exposições. Andando pelas ruas da Cinelândia, com a Eduarda, e com a amiga Ida Rebelo a fazer de cicerone, descobri uma curiosa exposição sobre a “a descoberta do Brasil” em 1958, quando ganhou o campeonato do mundo, na Suécia. Pelé era a descoberta, mas muitos preferiram Garrincha. E não esquecem o Vavá que cá pelo burgo até deu nome a café, ainda hoje de tertúlias. Mas a exposição aposta na fotografia e no vídeo, e vai apresentando o tema, escadaria acima, com fotografias recortadas dos génios da bola. Não resisti a um encontro mais aproximado. Também por aqueles lados a exposição de uma artista plástico que trabalha com restos de lixo, cartão, papel, lata, materiais deste jaez, que encontra em buscas pelas ruas e depósitos. É dele a favela que servia de genérico a uma telenovela brasileira que agora terminou na Sic, “Duas Faces”. O seu trabalho reabilita o desperdício e os resíduos, apresenta uma originalidade pura, uma ternura certa, uma ironia que rodeia os mais desprotegidos e os acarinha. Vale a pena ver.
Depois, antes de ir ao velho teatro Rival, agora adaptado a café concerto, por onde passa o melhor da MPB, ouvir o Grupo “Mulheres de Hollanda”, homenagear o grande Chico Buarque, entrámos do também modernizado Odéon, onde no ecrã passa o filme sobre o mundial de 58 (os brasileiros em termos de futebol vivem agora do passado: enquanto lá estive perderam com a Venezuela, a Colômbia e empataram com a Argentina, em jogos péssimos!) e na esquina se encontra um simpático e acolhedor café, muito parisiense. A Ida pediu para fotografar parcialmente o cardápio escrito na louça. E aproveitar para captar uma recordação do encontro.
Mas, fabulosa, inigualável, sem palavras para ser descrita é a “Confeitaria Colombo”, na rua Gonçalves Dias. Ainda dizem mal dos comerciantes. Há alguns com indiscutível alma de artista. Os portugueses Joaquim Borges de Meireles e Manuel José Lebrão, que mandaram construir este espaço no ano de 1894, obedecendo ao estilo da “belle époque”, e hoje “tombado” Património Histórico e Artístico do Estado do Rio de Janeiro, são exemplos perfeitos de comerciantes exigentes que apostaram no melhor e por isso ainda hoje são lembrados. O edifício é espantoso. A folhinha que o “maître” me disponibiliza face ao meu entusiasmo, afirma que “a decoração art nouveau de 1913, os amplos salões com descomunais espelhos belgas, as molduras e vitrinas em madeira de jacarandá, as bancadas de mármore italiano e o mobiliário compõem um ambiente de “sofisticada beleza”. Verdade. Compreende-se que príncipes e aristocratas, políticos e intelectuais, escritores, poetas, músicos, artistas plásticos por ali se tenham perdido ou encontrado em tardes e noites de tertúlias admiravelmente emolduradas pelo brilho e a luz dos candeeiros e o resplandecer dos espelhos. Quando se entra, e não se é um cliente já habitual da casa, a entrada é de patego a olhar em redor de si. Fiquei numa mesa no centro, junto da coxia por onde entravam os clientes, muitos turistas. O olhar era maravilhado, quando o empregado, de negro vestido, lhes estendia a carta para escolherem o que queriam tomar e os conduzia ao lugar estabelecido. As pessoas avançam intimidadas, receosas, penetram num mundo de que desconheciam a existência. Parecem recear que tudo lhes tombe na cabeça. A um canto um pianista toca. Sucessos românticos. Idosas de uma abastada burguesia, solicitam com um gesto e um sussurro, um tema especial que lhes recorde que ainda estão vivas. Sorriem agradecidas. Os empregados de camisa branca e de aventais laranja cirandam entre as mesas, trazem-nos um chá magnífico e exemplares sortidos de pastelaria fina. Os aventais são laranja e nas vitrinas das portas, varias fotografias da recente visita do nosso Presidente Cavaco Silva. Um olhar sorridente e satisfeito. As mesas são de tampo de mármore e as cadeiras de madeira com as costas de palhinha. Tudo impecável. Pela sala enorme, um pouco de tudo. Dos veteranos aos neófitos. Velhinhas amparadas por vetustas empregadas ou familiares, casais de namorados, grupos de jovens de sorrisos abertos, administrativos a sair do emprego, artistas sempre, escritores, estudantes, jovens leitores – a minha frente um lê “Os favoritos da Fortuna”, de Colleen McCullough. Lê e por vezes olha em redor, saboreando a leitura e o ambiente. Pensa cruzar-se com Olavo Bilac. Não lê definitivamente “A Balada do Café Triste”, de Carson McCullers, apesar da atmosfera ter o seu quê de decadentista.
Na rua, os milhões que habitam o Rio, no cair da noite, avançam como formigueiro para as suas casas. Numa televisão do “verdinho” a Itália batia a França. No intervalo, os golos sofridos por Portugal da Suiça. Chove, uma aragem húmida que cai do céu. Ninguém usa chapéu-de-chuva. Estamos no Rio. De Janeiro. Que continua lindo. Apaixonei-me pela cidade na primeira vez que bordeei, ao fim da tarde, a lagoa Rodrigues de Freitas. Tinha acabado de descer do avião, em 1981, e o táxi conduzia-me a mim (e ao Fonseca e Costa) para o hotel. Havia uma Semana de Cinema Português com filmes nossos que íamos apresentar. No Rio, em São Paulo, em Brasília. Fiquei no Rio. Fico no Rio. Para sempre.

segunda-feira, outubro 08, 2007

MÚSICA: NÃO VOU PARAR...


Na minha volta pelos blogues amigos,
parei no "Gola Alta", da Sony Hari,
onde ouvi Ana Carolina e seu Jorge.
"É Isso Aí"! Achei bonito e roubei.
Ouçam as belas vozes, e as cordas.
Muito pouco para muito.
Obrigado, Sony.

sábado, julho 21, 2007

VARAL DO DIA: ESPECIAL LAURO CORADO

No Blogue Varal de Ideias,
do artista plástico brasileiro Eduardo P.L., um
VARAL DO DIA ESPECIAL LAURO CORADO

Montagem de FREDERICO CORADO ( neto do pintor Lauro Corado)

Tela do artista LAURO CORADO

Outra montagem do Frederico
Frederico Corado, filho de Lauro António

UM QUADRO, UMA JANELA


O Varal do Dia de hoje é mais complexo do que os de rotina.
A tela do quadro da segunda imagem é do Artista plástico e Professor LAURO CORADO
(1908-1977)
Seu filho Lauro António, em seu blog LAURO CORADO EXPOSIÇÃO, postou várias fotos, de um trabalho do seu filho Frederico, e neto do artista, para uma peça de teatro.
Para entenderem melhor visitem os blogs linkados.
Em resumo, a tela do avô( segunda imagem) mostra uma janela, com varal de roupa ao sol.
Frederico, o neto, usou a tela para mudar as imagens vistas pela janela do quadro.
Quem me descobriu este artista português foi o (NON) BLOG
Postado por Eduardo P.L. às 06:58 12 comentários
Meu caro Eduardo P.L., obrigado pelas referências à família. Isto por aqui anda tudo na mesma onda, a imagem, entre as artes plásticas, o cinema, o teatro, a televisão. A isto eu ainda acrescento a escrita, minha terceira paixão, depois do cinema (não é erro não, é mesmo assim!). É bom estreitar laços entre Brasil e Portugal, através de blogues e de tudo o mais. Adoro o Brasil, onde, de há anos para cá, sou visitante anual. Um abraço transatlântico. LA

sábado, julho 07, 2007

"NEGUINHO" MAIS EUROPEU QUE AFRICANO


AINDA NO DIA DO LIVE EARTH (7.7.7)
No blogue de uma brasileira activista política,
Maria Frô”,
uma notícia da Globo carreghada de significado.
Vale a pena tomar conhecimento,
e ler no sotaque saboroso do brasileiro:
Neguinho da Beija-Flor tem mais gene europeu que africano
http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2007/05/29/295942786.asp
Publicada em 29/05/2007 às 11h11m


RIO - Neguinho da Beija-Flor, o sambista carioca que leva a cor da pele no nome artístico, é geneticamente mais europeu do que africano, indica uma análise do seu DNA feita a pedido da BBC Brasil como parte do projeto Raízes Afro-brasileiras.
De acordo com essa análise, 67,1% dos genes de Luiz Antônio Feliciano Marcondes, o Neguinho, têm origem na Europa e apenas 31,5%, na África.
"Europeu, eu?! Um negão desse", disse, apontando para si mesmo e num tom entre divertido e desconfiado, ao ouvir o resultado do exame da amostra de saliva que enviou ao Laboratório Gene, do genetista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Antes de conhecer a conclusão surpreendente do teste, o sambista apostara que devia ser de 70% a 90% africano e que não teria um só gene europeu. "Não tenho olho azul, não tenho cabelo escorrido, não tenho nada de branco aqui. Da Europa, nada", havia dito, brincando.
O geneticista Sérgio Pena explica a aparente contradição: "Os genes que determinam a cor da pele são uma parte ínfima do conjunto de genes de uma pessoa".
Para o especialista, o resultado do exame de Neguinho é apenas a comprovação de que a cor da pele é, do ponto de vista genético, o equivalente à pintura de um carro. "É como a diferença entre um Fiat amarelo e um Fiat vermelho. Por dentro, são iguais", comparou.
Miscigenação intensa
Para chegar aos percentuais em questão, a equipe de geneticistas liderada por Pena analisou 40 regiões do genoma de Neguinho.
As seqüências genéticas (haplótipos) encontradas no sambista foram então comparadas com as registradas em bancos de dados internacionais e do próprio laboratório.
Segundo Pena, o resultado de Neguinho não é raro e reflete, simplesmente, a intensa miscigenação que houve e ainda há no Brasil entre índios, europeus e africanos. O próprio Neguinho tem, por exemplo, 1,4% de ancestralidade ameríndia.
O geneticista compara a análise do DNA genômico às pesquisas de intenção de voto, e destaca que o processo está sujeito a uma margem de erro que vai de 5% a 10%.
Ancestrais africanos
Além da análise do DNA genômico, uma amostra de saliva de Neguinho da Beija-Flor foi submetida a outros dois testes que revelaram de onde vieram os seus ancestrais.
O ancestral paterno mais distante é revelado por meio da análise do cromossomo Y, passado de pai para filho (e não para filha) sem sofrer mudanças, a não ser que haja uma mutação.
A ancestral materna mais distante é revelada por meio da análise do DNA mitocondrial que é passado da mãe para filhos e filhas, também sem sofrer mudanças.
Na análise da linhagem materna, seqüências genéticas idênticas às de Neguinho foram vistas em três populações da África Ocidental: os mancanha (Guiné Bissau), o povo limba (Serra Leoa) e os iorubás (distribuídos por uma região que engloba hoje países como Nigéria, Benin, Gana e Togo).
Do lado paterno, é mais difícil precisar a origem porque o material genético analisado tem, segundo Pena, ampla distribuição geográfica entre as três regiões da África que enviaram escravos ao Brasil - África Ocidental, África Central e Sudeste da África.
A genética novamente explica como um exame pode indicar a predominância européia de Neguinho e ao mesmo tempo "o lado europeu" não aparecer no exame das ancestralidades materna e paterna.
"São bananas e maç ãs", diz Pena, enfatizando que as informações não se contradizem.
É que o DNA mitocondrial, usado para rastrear a ascendência por parte de mãe, remete a apenas uma ancestral materna que viveu na África não se sabe quando. Pode ter vivido há centenas ou milhares de anos atrás. Dessa forma, esse teste não reflete as sucessivas misturas que ocorreram depois dessa ancestral.
A mesma coisa acontece com o cromossomo Y, usado para rastrear a ancestralidade paterna. Esse cromossomo, explica Pena, é passado como um "sobrenome", de pai para filho sem alterações. Por isso, a sua análise revela um ancestral que deu origem a esse sobrenome, mas não aos que vieram depois dele.
Tanto o DNA mitocondrial como o cromossomo Y são "marcadores de linhagem" que não necessariamente têm expressão genética, mas ficam "gravados" no DNA do indivíduo.
Para Neguinho, os resultados foram surpreendentes, mas não vão mudar a forma como ele se vê.
"Eu vou pela cor da pele. Se eu disser que sou 67% europeu, nego vai achar que estou de gozação", disse o músico carioca, pai de dois filhos.
O geneticista Sérgio Pena explica, no entanto, que os testes de ancestralidades materna e paterna revelam apenas o ancestral mais antigo de cada lado.
Daí a importância de se fazer o teste de ancestralidade genômica que tira uma "média" do DNA e estima as porcentagens de ancestralidade africana, européia e ameríndia.
Sérgio Pena calcula em 2,5% a margem de erro dos testes de ancestralidade genômica.

quinta-feira, julho 05, 2007

FUTEBOL: COPA AMÉRICA zzzzzzzzzzzzzzzz


Nem tudo é bom pelo Brasil. A selecção actual de futebol deixa muito a desejar. Não fora Robinho, e mais um cheirinho de raro talento aqui e ali, e esta Copa América mais se assemelhava a um grupo de joguinhos de casados e solteiros, com arbitragens de péssima qualidade e suspense de adormecer.
Uns laivos de México e Argentina (não vi todos os jogos, mas os que vi assim foi!) não chegam para entusiasmar ninguém. Jogar futebol sem inteligência nem magia é coisa que dói. E há tanto assim, nesta versão americana do campeonato da Europa. Que, por isso mesmo, devia assumir um outro estatuto. Afinal estamos nos domínios de algumas das mais fabulosas tradições futebolisticas do mundo.
Esperemos que passada a fase dos grupos, as eliminatórias valham mais.

LIVROS: PARATY - FEIRA LITERÁRIA

Paraty, capital literária
Entre 4 e 8 deste mês
5ª Festa Literária Internacional de Parati


Eis um lugar onde não me importaria nada de estar durante estes dias. Paraty, linda cidade histórica brasileira, no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, onde foi filmada “Gabriela”, e onde durante cinco dias se encontra um conjunto de escritores de boa colheita, por entre brasileiros, argentinos, mexicanos, norte-americanos, africanos, ingleses e asiáticos. É 5ª Festa Literária Internacional de Parati (Flip), cujo homenageado deste ano é nem mais do que o prodigioso dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues.
Concebido pela inglesa Liz Calder, fundadora da editora britânica Bloomsbury, o encontro debate os rumos das temáticas literárias contemporâneas, fala de inovações formais, da construção de romances, contos, ensaios, poesias e relatos históricos e, principalmente, promove o intercâmbio, por meio da literatura, de diferentes culturas, que vão da Índia à periferia de São Paulo, passando por países como Moçambique e Serra Leoa. Estão previstos na programação debates, palestras, conferências e sessões de autógrafos. Entre os convidados desta edição o destaque vai para dois Prémio Nobel de Literatura, os sul-africanos J.M. Coetzee e Nadine Gordimer. Outra atracção badalada é o mexicano Guilhermo Arriaga, argumentista do filme “Babel”, trabalho pelo qual ganhou um Oscar neste ano. Da Argentina vêm os aclamados Alan Pauls e César Aira, além do moçambicano Mia Couto, do angolano José Eduardo Agualusa, do israelita Amóz Oz e do norte-americano Denis Lehane, autor do livro “Sobre Meninos e Lobos”. Do lado brasileiro estão Arnaldo Jabor, Silviano Santiago, Fernando Morais e Ruy Castro, entre outros. Tudo boa gente com quem valeria a pena trocar ideias e ouvir o que têm para dizer.

No Jornal “Popular”, de Goiania, que a mão amiga da Lisa França me fez chegar, podem ler-se, com o sotaque brasileiro, as referências aos escritores presentes. Água na boca, pelas presenças, e pelo cenário da cidade, belíssima, que visitei há vinte anos e que muitas saudades deixou. Aqui vaio a lista dos presentes.

¤ Alan Pauls (Argentina) – Nome respeitado da literatura argentina contemporânea, Pauls é romancista e roteirista de cinema.
¤ Amós Oz (Israel) – O maior nome da literatura israelense atual, Oz é um autor militante na missão de viabilizar a paz entre judeus e árabes.
¤ Arnaldo Jabor (Brasil) – Cineasta, cronista e comentarista da TV Globo, Jabor será uma das caras mais conhecidas do grande público nesta Flip.
¤ César Aira (Argentina) – Escritor de produção abundante, César Aira já publicou romances, traduções, peças de teatro, ensaios e contos.
¤ Dennis Lehane (Estados Unidos) – O romance policial é seu gênero predileto. É o autor de Sobre Meninos e Lobos.
¤ Guilhermo Arriaga (México) – Roteirista de filmes como Amores Brutos e 21 Gramas, ganhou o Oscar pelo filme Babel.
¤ Ignacio Padilla (México) – Jornalista, o autor escreve livros infantis, ensaios e romances, em que o México e sua visão política estão presentes.
¤ Ishmael Beah (Serra Leoa) – Sua família foi vítima da guerra civil em seu país. Foi escrevendo suas memórias que se livrou daquele horror.
¤ J.M.Coetzee (África do Sul) – A grande estrela da festa, o Prêmio Nobel de Literatura traz para o evento sua prosa engajada e bem elaborada.
¤ José Eduardo Agualusa (Angola) – Porta-voz literário dos traumas e anseios de seu país, a prosa do autor tem fortes ligações com o Brasil.
¤ Kiran Desai (Índia) – Já em seu segundo romance, O Legado da Perda, a escritora indiana conquistou renomados prêmios nos EUA e na Europa.
¤ Lawrence Wright (Estados Unidos) – Foi com uma análise sobre o que fez surgir a Al-Qaeda que o autor faturou o Prêmio Pulitzer nos EUA em 2006.
¤ Mia Couto (Moçambique) – Aclamado escritor africano em língua portuguesa, sua ficção se concentra na história de guerras de seu país.
¤ Nadine Gordimer (África do Sul) – Vencedora do Nobel de Literatura, escreve sobre os problemas de seu país natal. Tem 30 livros editados.
¤ Paulo Cesar de Araújo (Brasil) – Autor da polêmica biografia de Roberto Carlos, o historiador é um expert na trajetória da música brasileira.
¤ Robert Fisk (Reino Unido) – Correspondente internacional do jornal The Independent, é autor de livros que retratam o Oriente Médio.
¤ Rodrigo Fresán (Argentina) – Considerado um inovador do gênero conto em seu país, o escritor prefere temas perturbadores e contemporâneos.
¤ Ruy Castro (Brasil) – Biógrafo de Carmem Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, o jornalista é colunista de grandes jornais brasileiros.
¤ Silviano Santiago (Brasil) – Crítico literário e ensaísta, ele é também ficcionista. Gosta de incluir personalidades famosas em suas histórias.

sábado, junho 23, 2007

DE REGRESSO

E assim foi. Chegámos. Ao aeroporto da Portela, em Lisboa. Com quatro horas de atraso sobre o horário previsto. Controladores aéreos em greve de zelo, no Rio, por todo o Brasil. O Rio contínua lindo… Goiás é terra mágica. Sabe sempre bem entrar em Terras de Vera Cruz por São Paulo. Vou dando notícias. Um abraço aos leitores/leitoras.

segunda-feira, junho 18, 2007

"AINDA HÁ PASTORES" GANHA GRANDE PRÉMIO NO FICA (BRASIL)

"AINDA HÁ PASTORES" TRIUNFA NO BRASIL

Depois de ter conquistado o Grande Prémio de Lusofonia em Seia, no Cine Eco 2006, "Ainda Há Pastores", de Jorge Pelicano, arrecadou já diversas distinções, mas nenhuma tão importante e significativo como o Grande Prémio do FICA (Festival Internacional de Cinema do Ambiente, de Goiás, Brasil), um dos mais cotados certames de cinema da América do Sul e resolutamente um dos mais cobiçados em termos de cinema ambiental (o prémio sobe até aos 50.000 reais, soma muito pouco comum em qualquer festival de cinema, algo como 20.000 euros!). Brevemente falarei mais detalhadamente do grande sucesso do cinema português no FICA (uma das mais altas recompesas conseguida por uma obra de cinema portuguesa em festivais internacionais). Para já fica a anotação. E um grande abraço para o Jorge Pelicano e o seu companheiro de jornada, o pastor Hermínio, que esteve com ele em Goiás. Ah estas brasileiras!

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

BRASIL, CARNAVAL, 2007


CARNAVAL 2007


O Carnaval não me diz muito, não gosto de me divertir em dias certos, mas no Brasil é uma festa. Deste ano ficam aqui apenas algumas imagem da imaginação e da criatividade brasileiras, com referências políticas muito directas a Mandela, Che e Einstein. Um delírio de cor e de luz. E de algo mais.