DIRECTOR DO "DIÁRIO DE LISBOA"
Morreu António Pedro Ruella Ramos. Contava 70 anos. Nascido em 1938, Ruella Ramos era actualmente administrador da gráfica Lisgráfica, mas ficou mais conhecido por ter sido director do extinto "Diário de Lisboa", propriedade da sua família. O "Diário de Lisboa" saiu para as bancas pela primeira vez a 21 de Abril de 1921 e acabou a 30 de Novembro de 1990, sendo considerado um jornal de referência durante sete décadas, cobrindo assim uma parte importante da História de Portugal e do Mundo do século XX. Francisco Manso foi um dos seus directores, a que se seguiu Norberto Lopes até 1967, e Ruella Ramos depois.
Tive o privilégio de ter sido colaborador do "Diário de Lisboa" durante o período áureo da sua publicação. Durante a ditadura. Entrei em 1968, com o Eduardo Prado Coelho, ambos como críticos diários de cinema, actividade que até aí era desconhecido nos jornais portugueses. Antes disso havia alguns velhos jornalistas que iam de sala em sala de cinema recolher os programas impressos, onde se podia ler uma ficha técnica reduzida e uma sinopse do filme em estreia,, e depois remendavam textos laudatórios que apareciam no dia seguinte. Não havia filmes maus.
As nossas críticas levantaram desde cedo protestos nos empresários, mal habituados a opinião livre. A Cineasso, que agrupava várias salas de cinema de Lisboa, escreveu à direcção do jornal, informando que cortava toda a publicidade “enquanto se mantivessem esses críticos em actividade”. O jornal, em lugar de se encolher e de fazer o jogo do capital e da censura, escarranchou a carta na primeira página da edição seguinte, e a censura oficial deixou passar. De um dia para o outro, os críticos de cinema do DL e o jornal foram arvorados em heróis nacionais, defensores da liberdade de impressa. Durante cerca de quinze dias choveram cartas, telegramas, telefonemas, artigos em defesa dessa liberdade que não existia em Portugal. O DL foi publicando na primeira página esses testemunhos e Ruella Ramos aguentou firme na defensa de um direito tão vilipendiado no nosso país durante a vigência do Estado Novo, e defendendo igualmente a integridade de opinião de dois jovens recem chegados a estas lides.
Durante cerca de oito anos permaneci por ali. Atravessei o 25 de Abril e, em pleno "período revolucionário em curso", como continuei a defender algum cinema americano, começaram a aparecer na redacção do DL cartas, mais ou menos anónimas, a acusarem-me de reaccionário (cá fora, o MRPP acusava-me, no jornal do partido, de ser “social fascista”, isto é comunista!). Eu que sempre lutara pela liberdade de expressão, comecei a achar o ambiente um pouco opressivo e saí. Fui para o “Diário de Noticias”. Mas anos depois, o Mário Mesquita tentou reabilitar o saudoso DL e convidou-me para voltar a assinar críticas nesse regresso não muito bem sucedido. Mas foi uma aventura inesquecível e uma honra ter estado ao lado de um grupo de jornalistas e de colaboradores hoje em dia impensável de reunir num mesmo jornal.
Ruella Ramos (e Lopes do Sotto, o homem das massas, a quem um dia eu e o Eduardo pedimos uma reunião para reivindicar aumento de salário – estávamos a receber 2,50 escudos por crónica, saímos da reunião a receber 5 escudos!!) foi um bom patrão e um bom estimulo. O jornal tinha a sua marca e o espírito dos que nele colaboravam.
Saudades de si, Pedro Ruella Ramos!
Mas, mais dia menos dias, tem junto de si a mesma equipa e pode já ir pensando num “Diário do Céu”. Se não tiver critico para os filmes projectados nas nuvens, conte comigo, mas vá guardando o lugar o mais tempo que possa. Não se apresse comigo. Um abraço amigo.
Tive o privilégio de ter sido colaborador do "Diário de Lisboa" durante o período áureo da sua publicação. Durante a ditadura. Entrei em 1968, com o Eduardo Prado Coelho, ambos como críticos diários de cinema, actividade que até aí era desconhecido nos jornais portugueses. Antes disso havia alguns velhos jornalistas que iam de sala em sala de cinema recolher os programas impressos, onde se podia ler uma ficha técnica reduzida e uma sinopse do filme em estreia,, e depois remendavam textos laudatórios que apareciam no dia seguinte. Não havia filmes maus.
As nossas críticas levantaram desde cedo protestos nos empresários, mal habituados a opinião livre. A Cineasso, que agrupava várias salas de cinema de Lisboa, escreveu à direcção do jornal, informando que cortava toda a publicidade “enquanto se mantivessem esses críticos em actividade”. O jornal, em lugar de se encolher e de fazer o jogo do capital e da censura, escarranchou a carta na primeira página da edição seguinte, e a censura oficial deixou passar. De um dia para o outro, os críticos de cinema do DL e o jornal foram arvorados em heróis nacionais, defensores da liberdade de impressa. Durante cerca de quinze dias choveram cartas, telegramas, telefonemas, artigos em defesa dessa liberdade que não existia em Portugal. O DL foi publicando na primeira página esses testemunhos e Ruella Ramos aguentou firme na defensa de um direito tão vilipendiado no nosso país durante a vigência do Estado Novo, e defendendo igualmente a integridade de opinião de dois jovens recem chegados a estas lides.
Durante cerca de oito anos permaneci por ali. Atravessei o 25 de Abril e, em pleno "período revolucionário em curso", como continuei a defender algum cinema americano, começaram a aparecer na redacção do DL cartas, mais ou menos anónimas, a acusarem-me de reaccionário (cá fora, o MRPP acusava-me, no jornal do partido, de ser “social fascista”, isto é comunista!). Eu que sempre lutara pela liberdade de expressão, comecei a achar o ambiente um pouco opressivo e saí. Fui para o “Diário de Noticias”. Mas anos depois, o Mário Mesquita tentou reabilitar o saudoso DL e convidou-me para voltar a assinar críticas nesse regresso não muito bem sucedido. Mas foi uma aventura inesquecível e uma honra ter estado ao lado de um grupo de jornalistas e de colaboradores hoje em dia impensável de reunir num mesmo jornal.
Ruella Ramos (e Lopes do Sotto, o homem das massas, a quem um dia eu e o Eduardo pedimos uma reunião para reivindicar aumento de salário – estávamos a receber 2,50 escudos por crónica, saímos da reunião a receber 5 escudos!!) foi um bom patrão e um bom estimulo. O jornal tinha a sua marca e o espírito dos que nele colaboravam.
Saudades de si, Pedro Ruella Ramos!
Mas, mais dia menos dias, tem junto de si a mesma equipa e pode já ir pensando num “Diário do Céu”. Se não tiver critico para os filmes projectados nas nuvens, conte comigo, mas vá guardando o lugar o mais tempo que possa. Não se apresse comigo. Um abraço amigo.
4 comentários:
Meu querido Lauro, obrigadíssimo pelo seu comentário no meu (ainda) modesto blog, nada que se compare às suas navegações cibernéticas! Cá espero por sí neste templo que é o Rivoli!
O Ruella e o Lauro têm em comum o saber esperar pela hora certa.
A vida em determinada altura deve ser em movimento uniformemente desacelerado.
Hoje em dia os jornais vergam-se com mais facilidade. Os censores são por vezes os que esgrimem com a publicidade...
Conheço alguns, infelizmente...
Um, conseguiu calar o SEMANÁRIO e... chegou a Deputado Europeu!
Pelo PSD!
Um abraço amigo
(audrey/frioleiras/nini/tolilo)
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