segunda-feira, agosto 10, 2009

NO DIA DA DESPEDIDA

A última vez que falei com Raul Solnado, foi por engano.
Aconteceu há já algumas semanas. O meu telemóvel tocou, li o seu nome no mostrador, atendi e saudei de imediato: “Olá, Raul”. Ele perguntou: “Quem é?” Identifiquei-me. E ele: - “Desculpa, queria falar com a Leonor. Enganei-me no número.” Concordei, não era eu, mas agradeci o engano, “é sempre bom falar consigo, mesmo por engano”. E desligámos. O telefone, não a amizade.
Hoje estive no Cemitério dos Olivais e, infelizmente, não era engano. Era mesmo verdade, e o mar de gente que ali acorreu também era verdade. Gente do espectáculo, muitos amigos, mas sobretudo povo, “malmequeres” bem portugueses que gostavam do Raul como ele gostava deles e lhe foram oferecer uma última salva de palmas, um último adeus, uma última lágrima.
Foi bonito de ver, e o Raul terá gostado de o sentir, ele que, como todos os homens do espectáculo, e ao contrário do que foi dito nalguns jornais, tanto gostava de uma sincera e comovida homenagem. Não das oficiais que se promovem por obrigação, certamente. Mas das que saíam espontâneamente do coração do “seu público”, que era afinal Portugal (quase) inteiro. Solnado pelava-se por uma boa salva de palma bem conquistada, bem merecida. E tantas ele mereceu!
Um actor só vive plenamente num palco. Mesmo que esse seja o palco da vida ou o da morte. “Eu não tenho medo da morte”, dizia. “Eu tenho é pena de deixar a vida. Eu gosto muito da vida”.
A vida gostava muito de ti, Raul, e nunca te esquecerá. Ela tem apenas pena que tenhas partido.