quarta-feira, março 03, 2010

CINEMA: NOVE

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NOVE


Rob Marshall realizou um musical com algum interesse, “Chicago”, que foi muito bem recebido pelo público e por alguma crítica. Foi bafejado nos Oscars desse ano. Voltou ao género com “Nine”, segundo um outro musical estreado na Broadway vai para 27 anos, e que aborda obviamente um momento da carreira de Federico Fellini, inspirando-se nalgumas das suas obras, obviamente em “Fellini 8 ½”, mas também nalgumas outras, como “Amarcord”, “A Doce Vida”, “Roma”, “A Cidade das Mulheres” ou mesmo “Julieta dos Espíritos”. A ideia era falar de um cineasta talentoso, em crise de inspiração, sem argumento para o filme cuja rodagem se aproxima, mas rodeado de mulheres que disputam o seu amor, desde a legítima (Marion Cottilard) à mãe (Sophia Loren), passando pela absorvente amante (Penélope Cruz), a loura protagonista do seu próximo filme (Nicole Kidman), a velha amiga e figurinista (Judi Dench), a repórter da revista “Vogue” (Kate Hudson) ou mesmo uma certa Saraghina, prostituta recordada dos seus tempos de criança (Fergie, vocalista do grupo “Black Eyed Peas”). Tudo mulheres que, segundo Rob Marshall, seriam aprovadas por Fellini, num hipotético casting. Admitamos.
Guido Contini (Daniel Day-Lewis) é um genial realizador italiano dos anos 60, que se prepara para dirigir a sua nona obra. Logo a seguir, portanto, à anterior, que teria sido “8 e ½” (Fellini contabilizara na sua filmografia, até essa altura, sete longas, duas curtas e uma entrada num filme em episódios para chegar a esse número). Mas a crise de inspiração é total, e os problemas emocionais multiplicam-se, acusado de não querer crescer, de ser mulherengo, infiel, inconsciente e tudo o mais. O filme é uma sandes múltipla de cenas faladas e números musicais, cada um deles interpretado por uma das actrizes (algumas bisam) e há os bons e os medíocres (nos primeiros Penélope Cruz, Marion Cottilard e Fergie, nos segundos Kate Hudson). No final, a vida intensa por que passa Guido Contini acabará por o inspirar a rodar precisamente esse filme, aquele que acabámos de ver.
Bons cenários, alguns números bem conseguidos, uma Penélope Cruz em excelente forma, um elenco de luxo que se passeia pela passerelle, e um Daniel Day-Lewis que é uma sombra do excelente actor que realmente é, dado que também a ele lhe falta papel – a sua personagem torna-se refém de uma indefinição de tom e de essência absoluta. No que é acompanhado pela trôpega direcção de Rob Marshall, muito desequilibrada, com alguns (raros) bons momentos e outros arrastados e desinspirados.
Rob Marshall conhece bem a lição de Bob Fosse, e gostaria de rodar um novo “All That Jazz”, mas falta-lhe talento e garra. O que consegue é um arremedo sem grande fulgor, uma obra de técnica mais ou menos competente (por vezes a montagem nem isso é, desaproveitando momentos de alguns números, que deveriam usar uma linguagem mais discreta, deixado brilhar as estrelas, isto é, neste caso, cantores e bailarinos).
Interessante como projecto, mas falhado como resultado, “Nine” aconselha prudência enquanto se espera por “Dez”, qualquer que ele seja.

NOVE
Título original: Nine
Realização: Rob Marshall (EUA, 2009); Argumento: Michael Tolkin, Anthony Minghella, segundo musical da Broadway, de Arthur Kopit, Maury Yeston e Mario Fratti; Produção: John DeLuca, Rob Marshall, Marc Platt, Harvey Weinstein; Música: Andrea Guerra; Fotografia (cor): Dion Beebe; Montagem: Claire Simpson, Wyatt Smith; Casting: Kate Dowd, Francine Maisler, Razzauti Teresa; Design de produção: John Myhre; Direção atística: Peter Findley, Phil Harvey, Simon Lamont; Decoração: Gordon Sim; Guarda-roupa: Colleen Atwood; Maquilhagem: Catherine Davies, Tamsin Dorling, Peter King, Ana Lozano, Kerry Warn; Director de produção: Gary Birmingham, Tania Blunden, Kelly Helstrom; Assistente de realização: Vicki Allen, John DeLuca, Filippo Fassetta, Martin Harrison, Chris Stoaling, Charlie Waller; Som: Harry Cohen; Efeitos Especiais: Helen Badley, Peter Hutchinson, Stephen Hutchinson; Efeitos Visuais: Antony Bluff, Piers Hampton, Claire McGrane, Mark Nelmes; Companhias de Produção; The Weinstein Company, Relativity Media, Marc Platt Productions, Lucamar Productions, Cattleya; Intérpretes: Daniel Day-Lewis (Guido Contini), Marion Cotillard (Luisa Contini), Penélope Cruz (Carla), Nicole Kidman (Claudia), Judi Dench (Lilli), Kate Hudson (Stephanie), Sophia Loren (Mamma), Stacy Ferguson (Saraghina), Ricky Tognazzi (Dante), Giuseppe Cederna (Fausto), Elio Germano (Pierpaolo), Andrea Di Stefano, Roberto Nobile, Romina Carancini, Alessandro Denipotti, Alessandro Fiore, Erica Gohdes, Gianluca Frezzato, Paola Zaccari, Roberta Mastromichele, Francesco De Vito, Francesca Fanti, Enzo Cilenti, Enzo Squillino Jr., Michael Peluso, Jonathan Del Vecchio, Jake Canuso, Eliot Giuralarocca, Tommaso Colognese, Valerio Mastandrea, Damiano Bisozzi, Marcello Magni, Anna Maria Everett, Remo Remotti, Michele Alhaique, Martina Stella, Mark Bousie, Giuseppe Spitaleri, Mario Vernazza, Monica Scattini, Roberto Citran, Georgina Leonidas, Vincent Riotta, Eleonora Scopelliti, Ilaria Cavola, Alessia, Giovanni Luca Izzo, Simone Cappotto, Giacomo Valdameri, Anna Safroncik, James Currie, Roberta Mastromichele, etc. Duração: 118 minutos; Distribuição em Portugal: Castello Lopes Multimedia; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 14 de Janeiro de 2010.

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